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Planta vai usar biogás da vinhaça para produção

Uma parceria entre a Cetrel Bioenergia, da Bahia, e o Grupo JB, de Pernambuco, deu início, no mês passado, no começo da nova safra de cana no Nordeste, a uma planta de geração de bioenergia a partir da vinhaça, um dos resíduos da produção do etanol


Publicado em: 30/10/2012 às 16:30hs

Planta vai usar biogás da vinhaça para produção

Resultado de investimentos de R$ 13 milhões que incluem pesquisa e desenvolvimento tecnológico nos últimos três anos, a unidade de demonstração transformará o biogás extraído dessa matéria orgânica em energia, cuja comercialização no mercado livre está prevista para novembro. "Escolhemos o setor sucroalcooleiro porque o volume de resíduos é muito grande. O objetivo é aproveitar a energia desses resíduos, que hoje é subaproveitada ou simplesmente não aproveitada", diz a gerente de inovação tecnológica da Cetrel Bioenergia, Suzana Marques Domingues.

A geração de biogás em escala industrial e sua transformação em energia é a terceira fase de um projeto iniciado pela Cetrel em 2008 com o desenvolvimento de tecnologias de biodigestores (reatores biológicos em que microorganismos produzem biogás a partir da conversão da matéria orgânica em metano, o gás gerador de calor e energia), que teve início com uma planta piloto na Paraíba, desativada este ano. Essa fase de testes durou 18 meses e a empresa aprimorou a eficiência da biodigestão, alcançando um biogás mais eficiente, com maior concentração de metano (de 75% a 85%), otimizando a posterior geração de energia nos motogeradores. Em plena atividade, a capacidade da usina é de 0,85 megawats por hora.

"A escala de viabilidade técnica e econômica de geração de biogás e de energia pode ser cinco ou seis vezes maior do que a desta unidade", diz Suzana, que adianta conversas com a Agência Nacional de Petróleo (ANP) sobre a viabilidade de utilizar o gás da vinhaça como biogás veicular no futuro. A próxima empreitada da Cetrel Bioenergia será a instalação, também em Pernambuco, de uma usina piloto para a geração do biogás a partir do bagaço da cana, tecnologia desenvolvida em parceria com a dinamarquesa Novozymes, líder mundial na produção de enzimas industriais.

Iniciativas como a da Cetrel ainda são tímidas, mas mostram que o Brasil começa a avançar na utilização de biomassa para diversificar sua matriz energética. Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que a capacidade instalada atual de geração de energia a partir de biogás é de apenas 78,182 kW/hora, divididos entre 20 diferentes projetos.

Na prática, isso significa que entre as usinas termelétricas a biomassa em operação, apenas 1% utiliza o biogás. A própria agência reguladora considera o desenvolvimento dessa área como de interesse nacional. A Instrução Normativa 390/09 autorizou a comercialização da energia elétrica a partir do biogás para as concessionárias. Mais recentemente, em julho de 2012, a agência lançou a chamada do Projeto Estratégico de Pesquisa e Desenvolvimento para estimular projetos de geração de energia a partir do biogás.

A pergunta é: como viabilizar a geração de energia a partir do biogás de forma a ampliar a utilização de diferentes resíduos orgânicos e viabilizar economicamente a operação? O pesquisador Airton Kunz, da área de tratamento de resíduos de suínos e aves da Empresa Brasileira da Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lembra que a Alemanha é referência mundial em termos de geração de biogás e sua utilização como energia elétrica ou fonte de calor, com 6.800 usinas instaladas com incentivos fiscais e apoio logístico do estado para a distribuição. "O Brasil tem um potencial enorme para produzir energia a partir do biogás pela sua capacidade de geração de biomassa. Alguns setores, como o sucroalcooleiro e o de papel e celulose, utilizam mais essa tecnologia. O segmento agrícola ainda se organiza para utilizar os resíduos de animais. Sou otimista com a questão do biogás", pondera.

Kunz lembra que os biodigestores utilizados em países como a Alemanha têm nível tecnológico mais avançado que os brasileiros (conhecidos como biodigestores de lagoa coberta, ou modelo canadense) e, por consequência, requerem investimentos mais vultosos, inviabilizando sua utilização nas fazendas brasileiras.

O problema, segundo o pesquisador, ainda está no custo de comercialização. "O preço de venda da energia produzida a partir do biogás é baixo." A lógica do produtor ou da indústria, segundo o especialista, deve ser primeiro deixar de comprar energia, utilizando a "fabricação própria".

Fonte: Ideia Online

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