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Brasil deve intensificar investimentos em hidrogênio, recomenda Agência Internacional de Energia

Diretrizes da AIE enfatizam a importância do uso de minerais locais na indústria nacional em vez de sua simples exportação


Publicado em: 15/10/2024 às 14:00hs

Brasil deve intensificar investimentos em hidrogênio, recomenda Agência Internacional de Energia

Em um contexto global onde se estimam investimentos de US$ 2 trilhões em energia limpa em 2024, 85% desse montante se concentra em países desenvolvidos, deixando apenas 15% para o restante do mundo, que abriga 65% da população. Essa desigualdade na alocação de recursos é um dos principais problemas destacados por Fatih Birol, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), nas discussões sobre a transição energética.

Birol defende a aceleração de projetos no Brasil, especialmente no setor de hidrogênio verde, alertando para o risco de formação de uma divisão global em matrizes energéticas distintas, uma limpa e outra poluente, ambas enfrentando as consequências do aquecimento global. "Se eu tivesse que escolher um problema na transição energética, seria a falta de investimento em energia limpa em países em desenvolvimento", afirmou à Folha durante as reuniões de energia do G20. Ele ressaltou que as emissões de cidades como Detroit, Tóquio ou São Paulo afetam a todos, independentemente de onde ocorram, e que focar apenas nas emissões dos países ricos não resolverá a mudança climática.

O hidrogênio verde é visto como uma das tecnologias mais promissoras para a descarbonização global, e o Brasil, devido à sua abundância de fontes de energia limpa, tem potencial significativo nessa área. Contudo, Birol adverte que é necessário aumentar os investimentos neste setor. "O Brasil deve levar o hidrogênio ainda mais a sério, especialmente o hidrogênio verde. Precisamos de muito mais investimento para o hidrogênio verde no Brasil", afirmou.

Esse alerta ocorre em um momento em que o investimento em hidrogênio em outras regiões do mundo está crescendo. Recentemente, a AIE revisou para cima em 30% sua estimativa de produção de hidrogênio com baixas emissões até 2030, em comparação ao ano anterior. Birol, no entanto, não espera que o hidrogênio tenha uma grande participação na matriz energética do Brasil ou da América Latina antes de 2030, devido às diferenças de custo em relação a outras tecnologias. "Mas é essencial para o futuro, dado o potencial do Brasil em fontes renováveis", acrescentou.

O diretor da AIE também enfatizou a importância de os países emergentes não se limitarem a exportar minerais críticos. "Embora tenhamos muitos desses minerais no Brasil e na América Latina, o que vejo são governos fazendo acordos para vender esses minerais críticos. Isso é bom, mas seria preferível que eles fossem processados internamente para a produção de baterias ou outros produtos necessários", recomendou.

Birol destacou ainda a necessidade de uma abordagem diversificada em relação aos combustíveis sustentáveis. Ele sugeriu que, a curto prazo, o mundo utilize uma ampla gama de combustíveis sustentáveis, mesmo aqueles que emitem CO2 residualmente. Segundo ele, estabelecer metas muito rígidas pode encarecer a transição energética e dificultar a adoção de soluções por nações mais pobres.

A AIE propôs, durante o G20, a adoção de um padrão global para combustíveis sustentáveis, visando unificar conceitos e facilitar o comércio internacional. Birol acredita que essa certificação é crucial para garantir a transferência de tecnologias entre os países.

O estudo da AIE sobre biocombustíveis comparou as emissões de veículos elétricos com aqueles que utilizam outras fontes consideradas sustentáveis. Para Birol, tanto os veículos elétricos quanto os movidos a etanol de segunda geração têm seu lugar, principalmente em países que não têm capacidade de eletrificar completamente sua frota. "Ambos têm suas vantagens e desvantagens. O importante é que contribuam para reduzir a dependência do petróleo e as emissões", destacou.

Apesar dos esforços pela transição energética, a extração de petróleo continua a ser uma realidade. Birol, no entanto, manifestou ceticismo em relação à eficácia das tecnologias de captura e armazenamento de carbono, ressaltando que, quase duas décadas após seu surgimento, a promessa dessas tecnologias ainda não se concretizou.

Acostumado a participar de discussões internacionais, Birol lamentou a atual situação do mundo em relação à mudança climática, enfatizando a necessidade urgente de ação. "Se o mundo levasse a sério a tarefa de evitar os impactos negativos do clima, não estaríamos nesta situação", afirmou, embora expressasse otimismo em relação ao futuro. "Estamos em um momento de transformação crucial na transição energética, e o Brasil está bem preparado para isso", concluiu.

Fonte: Portal do Agronegócio

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