Publicado em: 02/09/2024 às 19:00hs
A bioeletricidade, gerada a partir de biomassa, registrou um crescimento expressivo de 10% no primeiro semestre deste ano, segundo dados inéditos da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA). De acordo com Zilmar José de Souza, gerente de bioeletricidade na UNICA, entre janeiro e junho de 2024, a geração de energia elétrica para a rede alcançou 11.335 GWh, refletindo um aumento de 9,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Este avanço evidencia a importância da bioeletricidade na matriz energética nacional.
A produção de bioeletricidade inclui diversas fontes de biomassa, como o bagaço e a palha de cana-de-açúcar, biogás, lixívia, resíduos de madeira, entre outros. Importante notar que esses números não consideram a geração destinada ao consumo interno de indústrias associadas, como as do setor sucroenergético e de papel e celulose, que operam majoritariamente sob o conceito de cogeração.
Em abril de 2024, o nível de energia armazenada nos reservatórios do Subsistema Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO) atingiu 72,9%, inferior aos 86,2% registrados no mesmo mês em 2023. Em agosto deste ano, esse índice caiu para cerca de 56%, ainda melhor do que em períodos críticos recentes, como o de 2021. No entanto, essa redução já acendeu um alerta, indicando a necessidade de recorrer à geração termelétrica convencional, à resposta voluntária da demanda (RVD) e à importação de energia da Argentina e do Uruguai para garantir o suprimento.
Essa volatilidade nos níveis dos reservatórios hídricos reforça a bioeletricidade como uma peça estratégica para a segurança energética do Sistema Interligado Nacional (SIN). A maior parte da oferta dessa energia renovável concentra-se justamente no Subsistema SE/CO.
Entre janeiro e junho de 2024, a bioeletricidade gerada representou 7,1% do consumo total de energia elétrica no Subsistema SE/CO, responsável por 56,9% do consumo de energia no Brasil. A geração a partir de biomassa, além de não ser intermitente, acompanha o ciclo de colheita da cana-de-açúcar na região Centro-Sul, ganhando força a partir de abril de cada ano.
Outro aspecto estratégico é a concentração dessa geração durante o período seco, crítico para o Subsistema SE/CO, que vai de maio a novembro. Dos 11.335 GWh gerados no primeiro semestre, 58% foram produzidos em maio e junho, e 77% se considerarmos também o mês de abril.
As usinas térmicas, portanto, não atuam apenas em momentos de emergência, mas desempenham um papel preventivo, contribuindo para evitar o esvaziamento dos reservatórios das grandes hidrelétricas no SE/CO, considerado o "caixa d'água" do sistema.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), das 360 usinas de biomassa de cana-de-açúcar em operação em 2023, 249 comercializaram eletricidade para a rede. As 111 usinas restantes, com potencial de modernização, poderiam se tornar ofertantes de excedentes estratégicos de bioeletricidade, utilizando a biomassa existente.
Essas usinas oferecem uma geração renovável, não intermitente e de custo relativamente baixo, uma vez que a maior parte delas é formada por térmicas descentralizadas, com custo variável unitário (CVU) nulo.
É essencial avançar na modernização do setor elétrico brasileiro, estabelecendo critérios que valorizem os atributos ambientais, locacionais, elétricos, de confiabilidade, econômicos e sociais proporcionados pela bioeletricidade e pelo biogás. Isso contribuirá para reduzir o custo global de operação do SIN, ao mesmo tempo em que reforçará os mecanismos de garantia do suprimento eletroenergético no país.
Fonte: Portal do Agronegócio
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