Etanol

Terra ruim para plantar alimentos, mas boa para gerar etanol

Nos Estados Unidos, o milho é muito utilizado para a produção de biocombustível, mas seu rendimento é considerado baixo: necessidade de apostar em outras culturas


Publicado em: 24/01/2013 às 12:30hs

Terra ruim para plantar alimentos, mas boa para gerar etanol

A bioenergia, baseada principalmente no etanol e no biodiesel, é uma das maiores apostas para livrar o mundo dos caros e poluentes combustíveis fósseis. Mas, para isso, ainda é preciso resolver um problema crucial: como aumentar e baratear a produção sem reduzir as áreas reservadas ao plantio de alimentos nem degradar o meio ambiente? Em artigo publicado na mais recente edição da revista Nature, pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, defendem que uma alternativa extremamente eficiente é a utilização das terras marginais, também conhecidas como terras degradadas.

Atualmente, grande parte da matéria-prima dos biocombustíveis é produzida em terrenos agrícolas férteis. Nos Estados Unidos, por exemplo, o milho é a principal fonte para a produção de etanol, e a soja, para biodiesel. As duas culturas, entretanto, dependem de qualidades específicas do solo, adequadas à agricultura alimentar. Além disso, o milho é uma cultura aplicada essencialmente para a alimentação e muito menos eficiente para produção energética do que a cana-de-açúcar, utilizada no Brasil. Dessa forma, para que o biocombustível desponte, seria preciso investir em outras formas de cultura e repensar a área de cultivo, sugere Ilya Gelfand, principal autora do artigo.

Numericamente, a pesquisadora mostra que as terras degradadas — e, por isso, não aproveitáveis para a agricultura — podem ser extremamente rentáveis para a produção do etanol de segunda geração, produzido a partir de vegetações como capins e outras herbáceas selvagens. Os cálculos apresentados por Gelfand apontam para um potencial de 215l de etanol por hectare.

De acordo com a especialista, a biomassa celulósica é obtida a partir de tecidos de plantas, como folhas e caules. "Para fazer o etanol de segunda geração, as cadeias de celulose da planta são quebradas em açúcares por enzimas específicas. Em seguida, esses açúcares são fermentados por bactérias ou leveduras em um processo semelhante à produção a partir da cana-de-açúcar", explica Gelfand. Segundo ela, esse passo adicional de decomposição da celulose em açúcares torna a produção de biocombustíveis celulósicos mais cara do que a baseada em grãos. No entanto, as enzimas apresentam uma vantagem: elas são bastante generalistas e, por isso, podem decompor todos os tipos de biomassa em açúcares, o que torna a produção de etanol celulósico possível independentemente do tipo de matéria-prima disponível.

Efeito estufa

Outra vantagem seria a redução substancial dos gases de efeito estufa, um dos problemas ambientais mais preocupantes da atualidade. Para concluir que a adoção da estratégia seria ecologicamente viável, Gelfand e sua equipe avaliaram o rendimento do biocombustível, as emissões de gases de efeito estufa, as mudanças no estoque de carbono do solo e o consumo de energia nas operações de campo em seis diferentes sistemas de cultivo, no oeste dos Estados Unidos, durante um período de 20 anos.

Como critério de análise, os especialistas levaram em conta somente as terras marginais próximas a uma refinaria (até 80km), para que a logística de transporte fosse economicamente viável. Os pesquisadores usaram, então, os dados dessas regiões em uma avaliação rigorosa dos benefícios climáticos de cada diferente sistema de cultivo, que incluiu o milho, a alfafa e a vegetação herbácea. "Por se basear em dados de longo prazo, essa é a primeira análise convincente do impacto dos sistemas de produção de biocombustíveis sobre o aquecimento global", defende Gelfand.

Após uma análise detalhada dos dados, os pesquisadores constataram uma redução substancial de gases de efeito estufa nas culturas celulósicas, quando comparadas, por exemplo, à rotação contínua de milho. "Descobrimos que as matérias-primas celulósicas cultivadas em terras degradadas sequestram grandes quantidades de CO2 da atmosfera, devido ao acúmulo da matéria orgânica do solo e à produção de biomassa", explica a pesquisadora. Os resultados de sua pesquisa, garante, mostram que uma gestão que permita o crescimento contínuo de espécies herbáceas perenes em terras marginais pode evitar os custos do sequestro de carbono e provocar uma mudança indireta no uso da terra. Entretanto, a autora pondera que falta saber quais serão os impactos dessas culturas na biodiversidade local, o que demandará estudos específicos de impacto ambiental.

Fonte: Correio braziliense

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