Etanol

Raízen define em 2013 plano para etanol de 2ª geração

Há pelo menos dois anos sem anunciar grandes aquisições ou projetos no segmento de açúcar e etanol, a Raízen Energia, divisão sucroenergética da Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, vem restringindo seus investimentos ao campo operacional, na área agrícola e em ajustes industriais, visando ganhos de eficiência


Publicado em: 29/11/2012 às 18:40hs

Raízen define em 2013 plano para etanol de 2ª geração

Com capacidade para processar 65 milhões de toneladas de cana-de-açucar por safra, a companhia poderia, apenas com projetos de construção de usinas ainda engavetados, alcançar 100 milhões de toneladas por safra em moagem de cana, não fossem as condições ainda instáveis no mercado de etanol.

Mas a parcimônia com os investimentos na chamada primeira geração do biocombustível não deverá se estender à segunda geração. O vice-presidente da Raízen Energia, Pedro Mizutani, afirmou ao Valor que a empresa deverá finalizar no ano que vem as diretrizes de um grande projeto de produção de etanol celulósico a partir do bagaço e da palha da cana resultante do próprio processo do etanol de primeira geração.

Há cerca de três meses, a companhia começou a enviar sistematicamente matéria-prima (bagaço e palha) para a planta de demonstração da Iogen, empresa na qual tem participação. Segundo Mizutani, a unidade, com sede no Canadá, desenvolve há mais de 20 anos pesquisas em etanol celulósico, usando sabugo de milho e trigo. Os testes da Raízen em segunda geração, conforme ele, também envolvem a Codexis, empresa de pesquisa que foi herdada da Shell após a formação da joint venture, mas que tem foco principal no desenvolvimento de enzimas para produzir o biocombustível.

A planta de demonstração da Iogen tem capacidade para produzir 2 milhões de litros de etanol celulósico por ano. Após finalizados os testes, a Raízen quer implantar em suas unidades do Brasil plantas industriais para fabricar 40 milhões de litros anuais. Mizutani acrescenta que o projeto da Raízen para etanol celulósico também usará tecnologia do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), empresa brasileira de pesquisa na qual a companhia tem participação.

Os detalhes do projeto do etanol celulósico, bem como o valor do investimento na empreitada, ainda estão em fase de definição, mas as decisões devem ser tomadas mesmo no ano que vem, garante Mizutani. "Queremos sair na frente na produção em escala comercial do etanol celulósico no Brasil", afirma o executivo.

Essas decisões serão tomadas em um contexto em que a produtividade do etanol de primeira geração está com crescimento estagnado, o que eleva os custos. Os preços do biocombustível seguem ainda deprimidos, espremendo as margens de lucros.

Nesta temporada, a Raízen deverá moer entre 55 milhões e 56 milhões de toneladas de cana e produzir 4,1 milhões de toneladas de açúcar e 4,1 bilhões de litros de etanol. Ainda assim a empresa ficará abaixo de sua capacidade instalada de processamento de cana, que chega a 65 milhões de toneladas por safra.

Todas as unidades industriais deverão concluir a moagem de cana na safra atual até 22 de dezembro. Se o clima do próximo mês for de pouca chuva - ou seja, favorecer a colheita -, a Raízen encerrará a safra com 400 mil a 500 mil toneladas de cana em pé. Se as precipitações forem mais constantes, esse volume de matéria-prima não processada poderá chegar a 800 mil toneladas, conforme Mizutani.

As 24 unidades industriais da Raízen Energia tendem a processar no próxima temporada, a 2013/14, um volume de cana cerca de 10% maior que o de 2012/13 - algo entre 59 milhões e 60 milhões de toneladas, conforme informações do vice-presidente.

Para Mizutani, a remuneração em 2013 para o açúcar - neste momento mais baixa do que há um ano - vai depender do que ocorrerá sobretudo com a produção da Índia e com a demanda chinesa.
 
"Provavelmente os indianos terão uma safra menor e ajudarão a compensar a maior safra no Brasil. A demanda chinesa poderá fazer a diferença em 2013". Mizutani aposta em preços internacionais do açúcar entre 18 centavos e 22 centavos de dólar por libra-peso, intervalo praticado atualmente.

Para Mizutani, haverá também uma produção maior de etanol no Brasil que, espera-se, seja em parte absorvida pela volta do percentual de mistura de anidro na gasolina de 20% para 25%. "O aumento natural do consumo de hidratado, proveniente da maior frota de carros flex, também deverá consumir um volume adicional, e o mercado externo deve trazer boas remunerações".

Cogeração em mais duas usinas

A Raízen inaugura hoje a última etapa de um projeto de cogeração de energia a partir do bagaço de cana que envolveu mais duas de suas usinas. A companhia investiu R$ 660 milhões para instalar estruturas para a produção de energia elétrica nas usinas paulistas Univalem, em Valparaíso, e Ipaussu, em município de mesmo nome. Os aportes também abrangeram a ampliação da capacidade de moagem de cana-de-açúcar das duas unidades.

Com a conclusão do projeto, a Raízen passa a contar com cogeração de energia com bagaço em 13 de suas 24 usinas processadoras de cana. No total, a capacidade instalada chega a 934 megawatts (MW), o suficiente para atender uma cidade com o porte do Rio de Janeiro, com 7 milhões de habitantes, exemplifica o vice-presidente de açúcar e etanol da Raízen, Pedro Mizutani. Juntas, as 13 usinas vão demandar 12 milhões de toneladas de bagaço de cana por ano.

A Ipaussu agora tem capacidade instalada de 76 MW, potência capaz de atender uma cidade de 750 mil habitantes. Sua capacidade de moagem de cana também foi ampliada de 2 milhões para 3,1 milhões de toneladas por safra. Na unidade de Valparaíso, foi instalada uma capacidade de cogeração de 45 MW e o processamento de cana foi ampliado de 2,3 milhões para 3,1 milhões de toneladas.

A receita com a venda de energia já é responsável por cerca de 5% do faturamento anual da Raízen Energia, que é da ordem de R$ 6 bilhões. "Quando falamos em lucro operacional, a cogeração responde por 12%", diz Mizutani.

O executivo explica que, por enquanto, não há previsão de novos aportes em cogeração nas usinas da empresa que não contam com essa estrutura. Isso porque, segundo ele, o preço da energia ofertado nos leilões públicos não remunera o investimento para a implantação em usinas já existentes, os chamados "retrofit". E, para a construção de usinas novas (com cogeração), é necessário, além de viabilidade econômica da eletricidade, que haja atratividade no mercado de etanol, o que não está ocorrendo.

Fonte: Ideia Online

◄ Leia outras notícias