Publicado em: 17/01/2012 às 15:20hs
Investimentos represados, problemas climáticos e uma política de controle de preços da gasolina que atrapalha a evolução da cotação do etanol estão por trás da escassez de oferta que deve continuar ao longo de 2012. Segundo consultorias ouvidas pelo Brasil Econômico, a produção de cana vai aumentar entre 5% e 10% na safra 2012/13 , mas a alta será insuficiente para resolver a questão da escassez, já que a demanda potencial vai continuar caminhando acima da capacidade de oferta.
O conjunto de problemas enfrentados pelo setor levou a uma quebra na safra de canade-açúcar 2011/12 e a uma queda na produção em torno de 10% no Centro-Sul do país, segundo a consultoria Informa Economics FNP. “Para a safra 2012/13 trabalhamos com uma projeção de 17% de renovação dos canaviais, o que melhora a produtividade”, diz o analista de mercado Marcio Perin. De um ano para o outro, é possível renovar até 20% de um canavial.
Com o fim dos subsídios americanos à produção doméstica de etanol no final de 2011, os preços relativos do etanol produzido nos dois países ficaram mais próximos — agora, o produto brasileiro custa US$ 140 a menos por metro cúbico de etanol para chegar no mercado americano. A perspectiva é de alta na demanda americana por exportações, que no curto prazo não encontrará produto disponível. Como um projeto de nova usina demora ao menos três anos para iniciar produção, o crescimento da oferta é visto como viável só a partir de 2014.
Do lado do investidor, uma das grandes questões é a incerteza da rentabilidade futura. Como o preço do etanol está atrelado ao da gasolina — quando o preço chega a 70% da gasolina, o consumidor abandona o uso do etanol —, as decisões de investimento ficam represadas. “Como o governo está mais preocupado com a inflação do que com a produção de etanol no país, com o passar do tempo o desestímulo se transformou em escassez de oferta”, observa o sócio da MB Agro, José Carlos Hausknecht, que projeta aumento de 5% na produção da safra 2012/13, que tem início em abril.
Para o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues, a questão é mais ampla e inclui o país como um todo para definir os rumos que pretende para a matriz de combustíveis nacional. “A grande discussão necessária diz respeito ao que governo e sociedade querem em termos de participação do etanol na matriz Rua da Pátria nº 230 Bairro Santa Genoveva, Goiânia/GO – CEP: 74670-300 de combustíveis nacional. Para o mercado interno se desenvolver é preciso enxergar rentabilidade futura”, avalia Rodrigues.
O diretor da Única observa que as projeções são de que, em 2020, 80% da frota nacional será formada por veículos flex, mas sem uma política clara para o etanol é muito difícil vislumbrar o que vai acontecer com o abastecimento. “Existe um processo de formação de preços da gasolina, o governo tem preocupação com inflação e consegue harmonizar a remuneração da Petrobras e preservar o consumidor das altas de preços. Então, faz todo sentido que a cana também tenha sua política bem delineada dentro da matriz nacional — seja via tributos, desoneração de investimentos ou de folha de pagamentos.” A linha de R$ 4 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciada na semana passada para financiar a renovação de canaviais antigos e ampliação de área plantada é elogiada pelo representante da Única.
“Tínhamos capacidade para moer 85 toneladas de cana por hectare, mas na última safra foram menos de 70 toneladas. Para recuperar a produtividade é preciso renovar os canaviais. Mas de um ano para outro é possível renovar só 20% de um canavial. Ou seja, se a ideia é aumentar oferta de cana, esse programa do BNDES deve se estender por alguns anos”, conclui Rodrigues.
Fonte: Brasil Econômico
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