Etanol

Gostem ou não, etanol nos EUA veio para ficar

Pesquisas com representantes dos bancos e economistas afirmam que o debate sobre milho para produção de etanol tem evoluído acompanhando os interesses financeiros


Publicado em: 06/09/2012 às 15:10hs

Gostem ou não, etanol nos EUA veio para ficar

Antes do boom dos biocombustíveis nos Estados Unidos em 2007, o debate entre alimentos versus combustíveis oscilava em: temos condições de usar milho para produzir etanol em meio a um mundo faminto?

Cinco anos mais tarde, os bancos do setor agrícola se perguntam: temos condições de não fazê-lo?

"A demanda por etanol é a peça fundamental do modelo de precificação atual", disse Michael Swanson, economista agrícola do Wells Fargo, principal banco para financiamentos a produtores agrícolas norte-americanos. "É uma questão completamente diferente de o que é certo ou errado."

Em meio à pior seca do Meio-Oeste dos EUA em meio século, os preços do milho quase dobraram. Muitas empresas de ração para pecuária têm protestado. O governo mantém a previsão de que a inflação dos alimentos irá aumentar.

Governadores de importantes Estados pecuaristas, como o Texas e a Carolina do Norte, estão pedindo que a administração do governo Obama suspenda a determinação de 2007 --transformado em lei pelo ex-presidente republicando George W. Bush--, para produção de enormes quantidades de etanol a partir do milho.

A Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) deve responder em 90 dias. Mas não "prendam a respiração", avisam representantes dos bancos.

"Eu não creio que o governo tomará nenhuma grande medida sobre esse problema, não com as eleições tão próximas", disse John Blanchfield, vice-presidente sênior da divisão rural e agrícola da Associação Americana dos Bancos. "A suspensão vai fazer tantas pessoas infelizes quanto tornará outras felizes."

Pesquisas com representantes dos bancos e economistas afirmam que o debate sobre milho para produção de etanol tem evoluído acompanhando os interesses financeiros.

Os fatos, dizem eles, mostram que o etanol, quer as pessoas gostem ou não, está agora profundamente ligado ao núcleo de três grandes indústrias: pecuária, energética e bancária.

Os bancos do setor agrícola apontam para estatísticas que mostram o impulso do etanol à base de milho à saúde e economia dos EUA --preços recordes para as terras agrícolas; um aumento de cerca de 500 bilhões de dólares em ativos agrícolas nos últimos cinco anos; pagamentos constantes dos débitos dos produtores; um aumento nos ativos agrícolas em 2012, para cerca de 2,5 trilhões de dólares, baseados em terras, e não em "papéis", e o que esses ativos significam para os estoques de moeda e demanda nos EUA.

"O milho pode ser um problema de segurança nacional para este país", afirmou Curt Covington, vice-presidente sênior para o setor agrícola e rural do Bank of the West, segundo maior credor comercial para agricultores norte-americanos. "É assim que estamos no momento."

Leland Strom, diretor executivo do Sistema de Crédito Agrícola e regulador do maior credor único dos agricultores, foi categórico sobre qualquer suspensão súbita do mandato do etanol: "Eu acho que isso teria um impacto imediato, enfraquecendo América rural e agrícola, especialmente na região central".

Terras agrícolas e sistema bancário


Os representantes dos bancos dizem que eles sabem que os biocombustíveis têm sido uma faca de dois gumes para a agricultura norte-americana, desde que a alta dos preços norte-americanos reduziu os lucros dos pecuaristas. E este não é um efeito secundário, uma vez que as receitas desde laticínios até o setor avícola representam cerca de metade da renda agrícola.

Mas a alta constante nos preços das terras agrícolas baseadas nos altos retornos do milho --e outras lavouras que competem pelo espaço-- tem superado os efeitos negativos, afirmam setor bancário e economistas.

"Uma indústria de etanol vibrante é essencial para os preços das terras agrícolas continuarem como estão atualmente --não há dúvidas na minha mente", disse Brent Gloy, diretor do Centro de Comércio Agrícola da Purdue University.

Além do impulso do etanol para os preços de terras, especialistas também citam dois novos fatores industriais: as refinarias de petróleo agora estão usando etanol por escolha, não por causa da lei; as usinas de etanol estão produzindo, como derivado, milhões de toneladas de ração para animais, os chamados grãos secos destilados (DDGs, na sigla em inglês), que se tornaram substitutos essenciais do milho para gado, suínos e aves.

"A economia é tanta, que nós estamos ganhando dinheiro transformando milho em etanol, transformando-o em DDGs. Os produtores estão misturando o etanol na gasolina, e ganhando dinheiro", disse Bob Young, economista chefe do American Farm Bureau Federation.

Fonte: Reuters

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