Etanol

Etanol: temos que melhorar para que as portas não se fechem

Sem dúvida alguma o país vive um grande momento.


Publicado em: 17/09/2008 às 08:42hs

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A produção agrícola vem batendo recordes em seus números,  as exportações dos produtos do agronegócio idem, e os biocombustíveis, principalmente o etanol, acompanham esse crescimento. Até mesmo o petróleo, grande responsável por boa parte das reviravoltas sofridas pelo mercado externo de alimentos, vive um momento de euforia no Brasil, com a descoberta de novas reservas do mesmo, e o empenho do Governo Federal através da Petrobrás em investir na extração do combustível fóssil da chamada camada pré-sal.

Falando especificamente do etanol, o Brasil o tem colocado em todas as pautas de reuniões internacionais de negócios para que o mesmo ganhe lá fora o devido reconhecimento, como a alternativa mais adequada à substituição gradativa da utilização do petróleo como principal fonte combustível. Pode até parecer uma antítese, o fato de que cada vez mais o mundo deseja fugir da dependência do petróleo, inclusive o Brasil, investindo nos biocombustíveis, e neste momento planejamos investir centenas de bilhões de dólares em tecnologia para a retirada de milhões de barris do combustível fóssil em águas profundas. O que devemos entender é que seguimos a ideologia capitalista do mundo, onde pode mais quem tem mais. E assim, inevitavelmente, quanto mais opções nós tivermos disponíveis, maiores serão as nossas alternativas comerciais.

O governo não pode entrar em euforia com o petróleo e se descuidar no foco aos biocombustíveis, pois por outro lado, nossas expectativas de exportações de etanol para a União Européia podem sofrer alguma mudança significativa. Um comitê reunindo o Parlamento Europeu, a Comissão Européia e o conselho dos 27 países representantes da União Européia, discutiu uma possível redução na cota para utilização dos biocombustíveis para o transporte terrestre. Em 2007 havia sido aprovado pelo conselho uma meta de 10% da matriz energética automotiva ser proveniente de energia renovável, como o etanol e o biodiesel, mas agora o quadro pode mudar. O conselho cogita a idéia de diminuir essa cota para apenas 5%, onde destes, 80% deveriam ser de biocombustíveis chamados de primeira geração, como é o caso do nosso etanol tradicionalmente produzido através da cana-de-açúcar. Os outros 20% devem ser de fontes como eletricidade (carros elétricos), hidrogênio ou os biocombustíveis de segunda geração, geração esta que ainda encontra-se inviável, como é o caso do etanol de celulose, entre outras formas possíveis.

Para 2020, a nova cota para a União Européia pode ser ainda mais preocupante para o Brasil, pois a meta seria aumentá-la para os 10%, porém destes, apenas 6% devem utilizar biocombustíveis de primeira geração. Os outros 4% seriam de segunda geração. Ainda haverá muitas discussões no próprio Parlamento a respeito deste assunto, pois muitos governos concordam que é impossível até 2020 que haja uma produção em escala suficiente de carros elétricos, bem como de bioenergia de segunda geração. Mas já serve como um alerta ao Brasil, que tem a pretensão de transformar o nosso etanol em commodity global.

Um dos grandes problemas é a imagem errônea que foi criada em cima da nossa (lê-se brasileira, do país como um todo) forma de produzir o etanol. Aos poucos foi-se notando uma maior aceitação, quando comissões estrangeiras puderam confirmar que o Brasil não deixa de produzir alimentos, por exemplo, para produzir biocombustível. Mas existem ainda muitos pontos a serem levados em consideração. O Estado de Mato Grosso do Sul, como ainda está se iniciando no setor, com 15 unidades (usinas) em funcionamento, mas já contando com um incremento de em torno de 30 novas unidades, possui todas as condições de começar certo, utilizando-se das mais altas tecnologias, interferindo minimamente no meio ambiente, ocupando terras degradas, atendendo às exigências dos segmentos trabalhistas, e com espaço de tempo para investir na logística. Nosso Estado deve se tornar um exemplo às outras unidades da Federação no setor sucroalcooleiro, inclusive assim como dito pelo nosso governador André Puccinelli “podemos ser o 2º Estado em produção de etanol”. Porém, isto só não basta para que o país consiga mudar de vez o conceito de muitos estrangeiros acerca do nosso produto. O Estado de São Paulo, por exemplo, líder em produção com cerca de 187 usinas, ainda sofre com muitos problemas do setor, trazidos desde os tempos da colonização, e problemas estes que, em pleno ano de 2008, não podem mais ser aceitos por um país que deseja se tornar o grande ícone mundial dos biocombustíveis.

Como se não bastasse todos os outros entraves de ordem econômica, climática e cultural para a expansão e para o desenvolvimento pleno da atividade agroenergética, no Mato Grosso do Sul, os conflitos ocasionados por possíveis demarcações de terras indígenas já são parte responsável de uma sensível retração dos investimentos num setor que se apresenta como uma mola propulsora da economia estadual.

Helbert de Matos Zanatta
Graduado em Relações Internacionais
Pós-Graduando em Gestão do Agronegócio

Fonte: Grupo Cultivar

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