Publicado em: 16/10/2024 às 16:00hs
A utilização de biocombustíveis tem o potencial de reduzir até 800 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono (CO₂) até 2030 no setor de transportes, representando uma contribuição essencial para o alcance da meta de neutralidade em 2050. Um estudo da Força Tarefa de Bioenergia da Agência Internacional de Energia (IEA), antecipado para o Valor, revela que, em um cenário moderado, 11 países emergentes, incluindo o Brasil, poderiam eliminar quase metade desse montante.
A pesquisa indica que a adição de 25% ou mais de biocombustíveis de baixo teor de carbono, como etanol e biodiesel, a combustíveis líquidos convencionais, como gasolina e diesel, em nações como China, Etiópia, Índia, Indonésia, Malásia, África do Sul e Tailândia, pode levar a reduções de 10% a 15% na pegada total de carbono do setor de transportes. Esse percentual corresponde a 262 milhões de toneladas de CO₂ equivalente por ano.
Além disso, o estudo incorpora dados de uma pesquisa anterior que avaliou os impactos do uso de biocombustíveis em países como Argentina, Brasil, Colômbia e Guatemala, que juntos contribuíram para a redução de 62 milhões de toneladas de CO₂ equivalente anualmente. Com os benefícios socioeconômicos associados, esse número pode dobrar.
Produzidos a partir de matérias-primas como cana-de-açúcar, milho e soja, os biocombustíveis se mostram como alternativas econômicas para a descarbonização. A pesquisa indica que o custo na bomba diminui em 10% com a adição desses biocombustíveis. O estudo se concentrou em países da América Latina, África e Ásia, que apresentam altas taxas de crescimento populacional e, consequentemente, crescente demanda por energia.
“Ao considerar esses 11 países, vemos um papel crucial na mudança do cenário atual. Atualmente, eles respondem por apenas 27% das emissões globais, mas, se mantiverem as taxas de crescimento atuais, poderão representar um aumento de até 117%”, afirmou a pesquisadora-líder do estudo, Glaucia Mendes Souza, professora titular do Departamento de Bioquímica da Universidade de São Paulo (USP).
O Brasil, que é o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, alcançou em 2023 a produção de quase 43 bilhões de litros de etanol e biodiesel, conforme relatório da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Os resultados da pesquisa foram apresentados por Souza em reuniões fechadas de dois grupos de trabalho do G20: o de Bioeconomia e o de Transição Energética. O grupo de Transição Energética teve sua reunião final de ministros no dia 4 de outubro, em Foz do Iguaçu, comprometendo-se a valorizar os biocombustíveis.
Recentemente sancionada pelo presidente Lula, a Lei do Combustível do Futuro representa um avanço significativo, conforme avalia a pesquisadora. A nova legislação prevê o aumento da mistura de etanol e biodiesel na gasolina e no diesel, além de instituir programas nacionais de diesel verde, combustível sustentável para aviação (SAF) e biometano.
Souza expressa otimismo quanto à viabilidade das metas de descarbonização do setor. “É possível alcançar as metas de descarbonização com uma simples mistura de biocombustível. As reduções de emissões podem ser alcançadas sem modificações nos motores”, afirma. Ela ressalta que a eletrificação se torna mais relevante apenas em países que não conseguem produzir biocombustíveis.
“No estudo, comparamos veículos que utilizam biocombustíveis com aqueles que funcionam a bateria. Usar um carro elétrico em um país cuja matriz energética é predominantemente baseada em carvão ou petróleo não é vantajoso. Nesses casos, o biocombustível se apresenta como a melhor opção”, observa a pesquisadora.
A equipe liderada por Souza também realizou simulações sobre a mistura de biocombustíveis com combustíveis fósseis em proporções de até 40%, levando em conta o potencial de produção desses países sem a necessidade de expansão excessiva do uso da terra. “A área necessária para a produção de biocombustíveis varia entre 0,1% e 10% da área total de pastagens, no máximo”, conclui. Ela enfatiza a necessidade de legislações específicas que evitem a expansão agrícola em áreas florestais.
Fonte: Portal do Agronegócio
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