Publicado em: 14/10/2024 às 10:10hs
O contrato de açúcar para entrega em outubro encerrou a cotação em 22,67 centavos por libra-peso (c/lb), com mais de 1,7 milhão de toneladas sendo efetivamente entregues. A valorização observada na semana que precedeu o vencimento pode ter motivado alguns produtores a realizarem entregas na bolsa.
Em uma análise das movimentações do mercado global de açúcar, a Hedgepoint Global Markets destaca os fatores que estão influenciando os preços do açúcar bruto e do branco. “O contrato de outubro expirou em 22,67 c/lb, apresentando um spread inverso em relação a março, de +20 pontos, revertendo um carry de -39 pontos apenas uma semana antes. Essa mudança de tendência altista pode ter encorajado mais produtores, especialmente do Centro-Sul do Brasil, a optar pela entrega no vencimento, resultando em um total de 1,7 milhão de toneladas. Apesar de o mercado ter interpretado essa entrega como um possível sinal de baixa – especialmente considerando que o único receptor não demonstrou preocupação com a disponibilidade de açúcar, mantendo as nomeações de navios lentas nos portos brasileiros – os preços continuaram a mostrar um suporte”, afirma Lívea Coda, analista de açúcar e etanol da Hedgepoint Global Markets.
Mesmo em um ambiente macroeconômico repleto de incertezas, agravadas pela escalada do conflito no Oriente Médio, a pressão altista no complexo energético parece ter superado essas preocupações, mantendo os preços do açúcar em elevação. “Combinada a uma demanda firme, essa dinâmica levou os futuros de março a fecharem a semana passada a 23 c/lb. Embora o prêmio do açúcar branco tenha se corrigido para cerca de US$ 80 por tonelada, o prêmio do açúcar físico no Brasil continua positivo, e a escassez de oferta pode seguir sustentando os preços do açúcar bruto no curto prazo”, analisa a especialista.
“Ao longo dos relatórios anteriores, mencionamos que secas e incêndios levaram a revisões significativas para baixo no mix de açúcar esperado para a safra 2024/2025 do Centro-Sul, além de impactarem a produtividade geral da cana. A menor disponibilidade e qualidade da matéria-prima resultam em uma redução da produção de açúcar e na expectativa de uma entressafra mais restrita e potencialmente prolongada. Essa limitação de oferta alterou o sentimento do mercado, fazendo com que os fundos aumentassem suas posições compradas”, aponta.
Ao observar o Hemisfério Norte, que é um importante fornecedor de açúcar branco, as expectativas de recuperação contribuem para a resposta mais lenta dos preços do açúcar branco em comparação com a tendência de alta do açúcar bruto. “Isso pressionou o prêmio do açúcar branco e pode funcionar como um possível limite para o aumento dos preços do açúcar de menor qualidade, sinalizando uma possível redução na demanda caso os preços aumentem excessivamente. Os fundamentos que sustentam essa tendência podem ser observados na Tailândia, na Índia e na Europa”, acrescenta.
A Tailândia, por exemplo, registrou chuvas favoráveis durante o desenvolvimento da safra 2024/2025, e a área plantada se expandiu à medida que a cana-de-açúcar recuperou competitividade em relação à mandioca. “Como resultado, espera-se que o país produza mais de 100 milhões de toneladas de cana, resultando em aproximadamente 11 milhões de toneladas de açúcar – com potencial de crescimento. Essa quantidade permitirá que a Tailândia contribua com cerca de 8 milhões de toneladas para o mercado internacional, lembrando que o país possui a capacidade de transitar entre diferentes qualidades, com a expectativa de que pelo menos 40% da produção seja de açúcar refinado”, acredita.
Na Índia, o sentimento geral a respeito da produção tornou-se mais otimista, especialmente em relação às possíveis exportações de açúcar. Há projeções de que o governo tomará uma decisão sobre as exportações entre o final de dezembro e janeiro, quando a nova safra estiver em andamento e os estoques começarem a se acumular. “Atualmente, esperamos que pelo menos 1,5 milhão de toneladas de açúcar sejam autorizadas para exportação, especialmente devido ao bom desempenho das monções e às projeções favoráveis de estoques. O início da nova temporada pode ser adiado pelas festividades do Diwali, mas não deverá comprometer os resultados positivos”, observa.
Na União Europeia, a agência MARS aumentou sua previsão de produtividade da beterraba açucareira para 74,7 toneladas por hectare, elevando em 2% a diferença em relação à média dos últimos cinco anos. “Esse otimismo é atribuído ao clima predominantemente favorável na Europa Ocidental, que também elevou as previsões de rendimento de outras culturas importantes, como batata e milho verde”, ressalta.
A Comissão Europeia também revisou para cima suas expectativas de rendimento, e, quando combinadas com as estimativas para o Reino Unido, a região deverá produzir 11,08 toneladas por hectare – consistente com a média dos últimos cinco anos. Além disso, um aumento de 5,4% na área cultivada com beterraba resulta em maior disponibilidade, reduzindo a necessidade de importações. “Após contabilizar a produção de etanol, atualmente estimamos que a produção de açúcar da região seja de 16,5 milhões de toneladas. Notavelmente, a maior parte – se não todo – desse volume será de açúcar de melhor qualidade, contribuindo para fluxos comerciais mais equilibrados de açúcar branco”, analisa.
Em síntese, o mercado de açúcar bruto continua sustentado por uma demanda relativamente estável e pela dinâmica altista do setor energético, apesar das incertezas globais, com os futuros de março encerrando a semana passada em 23 c/lb. A região do Centro-Sul do Brasil enfrenta redução na produção devido a secas e incêndios, o que restringe a oferta e estimula a compra especulativa. Por outro lado, a recuperação no Hemisfério Norte, especialmente na UE, Índia e Tailândia, contribui para a estabilização dos preços do açúcar branco. A safra tailandesa se beneficia de condições climáticas favoráveis, e a Índia poderá aprovar algumas exportações durante a temporada 2024/2025. A União Europeia também está projetando rendimentos mais elevados de beterraba açucareira. Combinada com a melhoria da oferta de outros produtores de açúcar branco, como México e América Central, essa dinâmica contribui para fluxos comerciais mais equilibrados de açúcar branco e uma perspectiva de baixa para o prêmio do açúcar branco, limitando os ganhos de preço do açúcar bruto a médio e longo prazo.
Fonte: Portal do Agronegócio
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