Publicado em: 28/11/2024 às 10:48hs
O dólar abriu em alta nesta quinta-feira (28), chegando perto do patamar de R$ 6, enquanto o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3), opera em queda. O mercado segue atento aos desdobramentos do pacote de corte de gastos públicos e da proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil mensais, anunciados pelo governo na véspera.
Na manhã desta quinta, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad; do Planejamento, Simone Tebet; e da Casa Civil, Rui Costa, realizaram uma coletiva para detalhar as medidas. O plano prevê uma economia de R$ 70 bilhões entre 2025 e 2026, com ações como limitação ao reajuste do salário mínimo, restrições ao abono salarial e criação de uma alíquota de 10% de imposto para quem tem renda superior a R$ 600 mil anuais.
A isenção do IR para salários até R$ 5 mil, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também foi incluída no pacote. Atualmente, o limite de isenção está em R$ 2.824.
O dólar registrava alta de 1,03% às 10h20, sendo negociado a R$ 5,9732, após atingir a máxima de R$ 5,9993 no início do dia. No acumulado do ano, a moeda já subiu 21,84%. Na véspera, o dólar havia fechado a R$ 5,9124, alta de 1,80%, marcando o maior valor do ano.
Já o Ibovespa recuava 0,58% no mesmo horário, registrando 126.933 pontos. Na quarta-feira, o índice fechou em queda de 1,73%, aos 127.669 pontos. No ano, o indicador acumula uma perda de 4,85%.
A instabilidade reflete a percepção do mercado sobre a sustentabilidade das contas públicas brasileiras. Apesar do pacote de cortes, a inclusão da isenção de IR gerou incertezas quanto ao impacto fiscal das medidas. Especialistas apontam que, embora o corte de gastos sinalize compromisso com o equilíbrio orçamentário, o custo da isenção pode neutralizar parte dos ganhos.
De acordo com Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, a isenção de IR poderá custar até R$ 40 bilhões anuais aos cofres públicos, valor que o governo planeja compensar com taxação de altas rendas. Haddad, no entanto, estima um impacto de R$ 35 bilhões.
"Esse tipo de medida tem um custo elevado e, se não for bem estruturada, pode comprometer a trajetória da dívida pública", explicou Veronese.
Ainda na última semana, o governo bloqueou R$ 6 bilhões no orçamento, acumulando R$ 19,3 bilhões em contingenciamentos ao longo dos últimos meses para conter o avanço das despesas obrigatórias, como a previdência.
O mercado aguarda detalhes adicionais sobre como o governo pretende equilibrar receitas e despesas nos próximos anos. A confiança de investidores depende da previsibilidade das ações, uma vez que contas públicas controladas são vistas como essenciais para garantir a capacidade do país de honrar seus compromissos financeiros.
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, avalia que o impacto positivo da isenção no consumo das famílias pode não ser suficiente para compensar as perdas fiscais. "Falta clareza sobre a compensação para essa renúncia de receita", afirmou.
Por enquanto, o governo busca sinalizar que o ajuste fiscal não será feito exclusivamente sobre os mais pobres, tentando equilibrar demandas políticas e econômicas em um cenário de grande expectativa e desconfiança por parte do mercado.
Fonte: Portal do Agronegócio
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