Mercado Financeiro

Crise do Crédito no Brasil: O Impacto da Alta da Selic e os Desafios da Deflação Chinesa

Confederação Nacional da Indústria destaca que cada ponto percentual adicional na Selic custa R$ 40 bilhões por ano e compromete o crescimento econômico do país


Publicado em: 19/09/2024 às 09:00hs

Crise do Crédito no Brasil: O Impacto da Alta da Selic e os Desafios da Deflação Chinesa

O cenário econômico atual no Brasil é marcado por uma crise de crédito que afeta tanto empresas quanto consumidores. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) alerta que a alta taxa de juros está dificultando o avanço de projetos essenciais para o crescimento econômico, impactando especialmente o setor industrial. As cadeias produtivas, que enfrentam custos financeiros acumulados, acabam resultando em produtos finais mais caros e menos competitivos no mercado.

A atual taxa básica de juros, a Selic, fixada em 10,5% ao ano, e o spread bancário elevado, resultam em uma taxa de juros real de 6,42%, bem acima da taxa neutra de 4,75% estimada pelo Banco Central. Essa situação evidencia uma política monetária contracionista que já perdura desde fevereiro de 2022, prejudicando o crescimento econômico. Cada ponto percentual adicional na Selic representa cerca de R$ 40 bilhões em despesas anuais com juros.

Ricardo Alban, presidente da CNI, ressalta que “não há mais espaço para novos aumentos da Selic”. Ele enfatiza que, com a desaceleração da inflação e a tendência global de redução das taxas de juros, o Brasil deveria considerar uma diminuição da Selic para não prejudicar sua competitividade global e o crescimento econômico. Atualmente, o Brasil ocupa a terceira posição mundial em termos de juros reais, atrás apenas da Turquia (12% ao ano) e da Rússia (7,55% ao ano), contrastando com economias emergentes como África do Sul, Índia e China, que apresentam taxas bem mais baixas.

Impactos da Deflação Chinesa e Riscos para o Brasil

O Brasil tem mantido uma taxa de juros elevada mesmo com a deflação exportada pela China, que tem pressionado a inflação global para baixo. Em 2019, a China destinou € 221,3 bilhões em subsídios ao setor produtivo, mantendo os preços das exportações baixos. No entanto, com o aumento do protecionismo e possíveis restrições fiscais na China, o efeito deflacionário pode diminuir, o que poderá levar a um cenário inflacionário crescente no Brasil e novas elevações na taxa de juros.

A Selic, considerada alta mesmo para as condições inflacionárias internas, deve ser ajustada. A CNI estima que a taxa de equilíbrio necessária seria de 7,95% ao ano, considerando a inflação acumulada. Mesmo com a inflação projetada, a taxa necessária seria de 9,70% ao ano, ainda abaixo dos atuais 10,5%.

Além disso, o Brasil enfrenta um dos spreads bancários mais altos do mundo, com 27,4%, segundo o Banco Mundial. Em contraste, países como o Peru têm spreads significativamente menores, de apenas 7,8%. A elevada concentração bancária no Brasil limita a competitividade e eleva o custo do crédito, com empresas se financiando a uma taxa média de 20,94% ao ano, e pequenas empresas enfrentando condições ainda mais adversas.

Oportunidades e Desafios Futuro

Com a tendência global de redução das taxas de juros, o Brasil pode se distanciar ainda mais do cenário internacional se mantiver sua Selic alta. Países como China, México, Reino Unido e Canadá já reduziram suas taxas básicas, e o Federal Reserve dos EUA também pode seguir esse caminho. A redução global dos juros aumenta a liquidez e atrai investidores para mercados emergentes, criando uma oportunidade para o Brasil atrair investimentos e modernizar seu parque industrial.

Preparar-se para o fim da “exportação de deflação” pela China será crucial. O Brasil precisará de uma estrutura produtiva robusta para atender à demanda interna e exportar, uma vez que a dinâmica atual mudar. Alban conclui que uma coordenação eficaz entre política fiscal e monetária poderá permitir uma redução mais significativa dos juros no curto prazo, posicionando o Brasil estrategicamente no cenário internacional e promovendo um crescimento econômico sustentável.

Fonte: Portal do Agronegócio

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