Publicado em: 21/11/2024 às 19:00hs
Os produtores de trigo em grandes países exportadores estão reduzindo suas vendas, insatisfeitos com os preços mais baixos registrados nos últimos quatro anos. Segundo agentes do setor, agricultores têm optado por segurar suas colheitas, o que pressiona os fabricantes de farinha, já que os estoques disponíveis estão cada vez menores, expondo o mercado a possíveis aumentos nos preços.
Processadores de grãos, que tradicionalmente garantem suprimentos com três a quatro meses de antecedência, agora trabalham com estoques significativamente reduzidos. Na Ásia, incluindo a Indonésia, o segundo maior importador global de trigo, os moinhos possuem cobertura para apenas dois meses. No Oriente Médio, a maioria dos processadores dispõe de suprimentos para apenas 45 dias, de acordo com traders e moageiros.
Essa escassez reduz a margem de segurança diante de possíveis déficits de produção, enquanto as projeções indicam que os estoques globais de trigo podem atingir o menor nível em nove anos, o que pode agravar a inflação dos alimentos.
Os preços globais do trigo vêm caindo desde 2020, impulsionados pela alta produção em países como Austrália e Argentina, além de condições climáticas favoráveis em regiões-chave como Estados Unidos e o Mar Negro. Em resposta, os agricultores têm preferido armazenar suas safras, na expectativa de cotações melhores.
Na Austrália, o quarto maior exportador mundial de trigo, o ritmo de vendas é a metade do registrado no ano passado, com apenas 500 mil toneladas contratadas para embarque em novembro. Nos Estados Unidos e em partes da região do Mar Negro, os grãos colhidos no início do ano permanecem em silos, aguardando preços mais atrativos.
"Os agricultores não estão satisfeitos com os preços atuais", afirmou um trader de uma trading internacional em Cingapura. A resistência é generalizada, com relatos semelhantes em diversos países exportadores.
No mercado físico, o trigo do Mar Negro com 12,5% de proteína é oferecido a 265 dólares por tonelada (C&F), abaixo dos 275 dólares de semanas anteriores. Já o trigo australiano Premium White está cotado a 280 dólares por tonelada (C&F), também em queda em relação aos 290 dólares.
A falta de oferta dos agricultores, aliada às altas taxas de juros, também tem dificultado os moinhos a manter estoques mais robustos. "A menor cobertura nos deixa vulneráveis, mas com juros altos, manter grandes estoques não é viável", destacou um gerente de compras de um moinho de farinha no Oriente Médio.
Embora a produção no hemisfério sul esteja sólida, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê uma queda nos estoques globais de trigo para o nível mais baixo em quase uma década até meados de 2024.
Além disso, as colheitas no hemisfério norte ainda enfrentam etapas críticas de desenvolvimento. "Qualquer problema climático até a colheita de julho pode impulsionar uma alta nos preços, considerando a atual escassez nos estoques", afirmou Ole Houe, diretor da consultoria IKON Commodities.
Enquanto isso, a Rússia, maior exportador global de trigo, enfrenta um possível esgotamento de seus suprimentos. A nova cota de exportação de grãos, válida de fevereiro a junho, pode ser quase três vezes menor do que as 29 milhões de toneladas do ciclo anterior, o que adiciona mais incertezas ao mercado global de trigo.
Fonte: Portal do Agronegócio
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