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EUA: Fed deve dar início à redução de estímulo monetário

Em uma surpreendente mudança de cenário, o mercado começou a semana com a desistência de Lawrence Summers como candidato à presidência do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) em substituição a Ben Bernanke, a partir de janeiro


Publicado em: 17/09/2013 às 20:00hs

EUA: Fed deve dar início à redução de estímulo monetário

É cedo, entretanto, para dizer que Janet Yellen é agora, por definição, certeza para o cargo no Fed. Mas, ao menos, "um bode" saiu da sala nos próximos dias, descomprimindo um pouco as tensões em torno do encontro do Fed.

Normalização - A reunião do Fed desta quarta-feira (18/09) deve dar início à normalização da política monetária dos EUA, após cinco anos de expansão quantitativa importante, juros próximos de zero e sinais de recuperação da economia. Este último ponto, porém, é objeto de intenso debate não somente entre os economistas e o mercado financeiro, mas dentro do próprio banco central americano. Se os sinais advindos da atividade econômica são mistos, seria inequívoco que a hora de diminuir os estímulos monetários chegou? Para 13 de 16 instituições financeiras estrangeiras entrevistadas pelo Valor, a resposta é sim.

Questionamentos - Foi feita a mesma pergunta a todos os entrevistados: "Quando o programa mensal de compras de ativos do Fed começará a ser reduzido e em que volume?". As instituições entrevistadas, todas em Nova York, foram: Capital Economics, Standard Chatered, Bank of America Merril Lynch, J.P. Morgan, HSBC, Societé Generale, UBS, Mint Partners, Jefferies, Citigroup, Barclays, Rabobank, Deutsche Bank, BNP Paribas, Santander e Credit Suisse.

Títulos do Tesouro e papéis hipotecários - Para a maioria das casas, a redução das compras de Treasuries (títulos do Tesouro) e papéis hipotecários (MBS) pelo Fed neste mês ficará entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões, dos atuais US$ 85 bilhões mensais, um passo lento e condizente com a sinalização de Bernanke de que o programa teria fim em meados de 2014, quando a taxa de desemprego estaria próxima a 7%.

Divisão das compras - Thomas Costerg, economista do Standard Chatered, diz que "os dados econômicos recentes têm sido mistos e apoiam essa redução leve", e que o foco "tende a ser em Treasuries porque o Fed pode estar preocupado com o impacto do aumento das taxas hipotecárias". O banco ressalta que existe a possibilidade de o Fed dividir essas compras para atender as diferenças entre os integrantes do Fomc (comitê de política monetária do Fed).

Custo x benefício - Kevin Logan, economista-chefe do HSBC para os EUA, acredita que o Fed está considerando mais os potenciais custos do "quantitative easing" (QE, afrouxamento monetário) do que os benefícios para a economia americana. Segundo Logan, indicadores econômicos do país estão "bons o suficiente" para justificar tal ação.

Mercado de trabalho - Paul Dales, da Capital Economics, que vê redução já neste mês, diz que "a melhora do mercado de trabalho nos últimos 12 meses justifica tal movimento, mas recentes resultados mistos dão espaço para qualquer decisão [de diminuir ou não]. "Se [a redução] virá em setembro ou dezembro, é irrelevante para as perspectivas econômicas. Até agora não há nenhuma evidência de que as compras ao longo do último ano aceleraram a queda da taxa de desemprego."

Leitura mista - De fato, a leitura "mista" dos indicadores econômicos pode ser a base para uma surpresa do Fed, ou seja, a protelação da primeira redução. No caso específico da taxa de desemprego, se o nível caiu de 7,8% para 7,3% desde que o programa de compras por tempo indeterminado foi lançado, em setembro de 2012, há muito questionamento acerca da "qualidade" desta queda. Fatores como o encolhimento da população economicamente ativa, por exemplo, tiveram influência neste movimento.

Em linha - De toda forma, a economia deverá estar andando em linha com as projeções do Fed para que o fim do QE aconteça. A publicação da atualização destes números nesta reunião será de fundamental importância para que o quadro dos próximos meses seja desenhado.

Surpresa positiva - Bill Blain, da corretora britânica Mint Partners, diz que a economia pode surpreender positivamente e, assim, os retornos dos títulos de 10 anos podem se mover rapidamente para o intervalo de 4% a 5%.

Dependência - Em opinião diferente, Laura Rosner, economista para os EUA do BNP Paribas, diz que "o Fed tem trabalhado muito duro para sublinhar a sua dependência dos dados em sua comunicação recente e que o caminho de redução gradual do QE mais para o fim do ano foi condicionado à sua previsão". A economista lembra que os juros [de mercado] "subiram muito mais rápido do que era a intenção do Fed; os dados não estão mostrando aceleração do crescimento e a inflação ainda é muito baixa". "Levar a cabo esta redução em meio a um cenário econômico medíocre será uma escolha difícil." O BNP espera apenas para dezembro o primeiro movimento do BC e seu fim em setembro de 2014, o que implicaria um volume total de US$ 1,5 trilhão de compras de ativos pelo Fed.

Momento - Outra questão relevante é o momento da mudança de viés na política monetária, sinalizada pelo Fed para 2015. Há uma crescente expectativa de que o BC americano possa reduzir os parâmetros de desemprego e inflação de forma a "jogar mais para frente" a expectativa de alta dos juros, amenizando o impacto da menor liquidez via compra de títulos. Seria uma forma de reforçar o "forward guidance" (orientação futura) e manter a curva de juros "comportada". O BNP e o Santander acreditam que o "parâmetro" para a taxa de desemprego possa cair de 6,5% para 6%. Sobre a inflação, poderia ser introduzido um limiar para baixo também: o Fed não toleraria uma taxa acima de 2,5% tampouco abaixo de 1,5%.