Internacional

China busca biocombustível brasileiro para diversificar suas fontes de energia

Desafios na redução de emissões e a crescente demanda por combustíveis renováveis criam novas oportunidades para o Brasil


Publicado em: 04/12/2024 às 19:40hs

China busca biocombustível brasileiro para diversificar suas fontes de energia

A China, maior emissora mundial de gases de efeito estufa, enfrenta o desafio de reduzir sua dependência de combustíveis fósseis e diversificar suas fontes de energia. Atualmente, a China ocupa a quarta posição mundial na produção de biocombustíveis, atrás de Estados Unidos, Brasil e União Europeia, e tem investido bilhões de dólares nos últimos anos para expandir a produção de alternativas renováveis.

O biodiesel, utilizado principalmente para a geração de energia elétrica, embarcações de pesca e maquinário agrícola, tem sua maior demanda no transporte rodoviário, que responde por cerca de um terço do consumo total, segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA). Entretanto, a produção de outros biocombustíveis, como biobutanol e diesel renovável, ainda é incipiente, o que, segundo a IEA, representa uma lacuna no desenvolvimento do setor chinês.

Embora a China seja exportadora de biodiesel, o mercado interno é pequeno em relação à sua economia. Nos últimos anos, o foco do país esteve na eletrificação, mas, em março de 2024, o governo lançou um plano para incentivar o uso interno de combustíveis renováveis, com a implementação de um plano-piloto em 22 cidades, incluindo Pequim e Cantão. A mudança afetará principalmente veículos comerciais, frotas de ônibus e pequenas embarcações. Além disso, a China tem importado etanol, o que abre novas oportunidades para o biocombustível brasileiro.

Henrique Berbert de Amorim Neto, presidente da Fermentec e do Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla), destaca o potencial do mercado chinês: "A China está empenhada em reduzir suas emissões de carbono e é um mercado promissor para o biocombustível brasileiro".

No Brasil, o setor de biocombustíveis está em crescimento, quebrando recordes de produção a cada ano. A Lei do Combustível do Futuro, que entrou em vigor em outubro, fomenta a produção de biodiesel e etanol, além de novos produtos como SAF (Combustível Sustentável de Aviação), Diesel Verde e biometano. O Brasil se destaca no mercado internacional de SAF, com três fábricas previstas para começar a operar em breve. A BBF está desenvolvendo um projeto de biorrefinaria na Zona Franca de Manaus (AM), com previsão de produção de 250 milhões de litros anuais de SAF a partir de palma, soja e milho. A Acelen, na Bahia, investirá mais de US$ 2,5 bilhões para produzir 500 milhões de litros por ano, e a Petrobras planeja uma unidade em Cubatão (SP) com capacidade para 350 milhões de litros anuais.

O querosene de aviação pode atualmente incorporar até 50% de SAF, mas há projeções de que, até 2030, as aeronaves poderão utilizar 100% desse combustível renovável, segundo o Fórum Econômico Mundial. A China, que planeja dobrar sua frota de aviões até 2025, está investindo na construção de fábricas de SAF e deve investir cerca de US$ 1 bilhão nesse setor. Mesmo com a produção doméstica, o país pode se tornar um grande importador de SAF brasileiro.

Camila Ramos, CEO da Clean Energy Latin America (Cela), especializada em energias limpas, destaca a importância do SAF: "As companhias têm metas de redução de emissões de gás carbônico, e a única alternativa viável será o uso de combustíveis avançados". Ela também acredita no grande potencial da biocombustível de segunda geração, produzido a partir de qualquer biomassa, como bagaço de cana, o que aumenta a produtividade do processo.

Suzana Kahn, presidente da Coppe/UFRJ e coordenadora do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), observa que o setor de transporte marítimo chinês representa uma oportunidade pouco explorada pelo Brasil. A chinesa Cosco, uma das maiores transportadoras de carga do mundo, está planejando construir uma planta no Pará para produzir biodiesel a partir de óleo de palma. A especialista enfatiza que o empresário brasileiro precisará assumir mais riscos para entrar nesse mercado promissor.

Fonte: Portal do Agronegócio

◄ Leia outras notícias