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Alta do dólar prejudica economias emergentes

Após ver sua dívida se multiplicar por 30 em seis anos, uma das maiores empresas de eletricidade da Índia, a Jaiprakash Power Ventures, está vendendo algumas de suas instalações e negociando com credores para evitar uma falência


Publicado em: 06/04/2015 às 18:10hs

Alta do dólar prejudica economias emergentes

Após ver sua dívida se multiplicar por 30 em seis anos, uma das maiores empresas de eletricidade da Índia, a Jaiprakash Power Ventures, está vendendo algumas de suas instalações e negociando com credores para evitar uma falência. Na China, uma das maiores construtoras do país, a Kaisa Group, ameaça pagar a seus credores apenas US$ 0,024 por cada dólar devido. No Brasil, as falências de produtores de açúcar são causadas não apenas pela queda dos preços do açúcar, mas por suas dívidas em dólar.

A valorização da moeda americana ameaça as economias de países emergentes em que, nos últimos anos, empresas contraíram dívidas de trilhões de dólares.

A alta vertiginosa do dólar é resultado de decisões do Federal Reserve (o banco central dos EUA), cujas ações exercem efeitos grandes e muitas vezes imprevisíveis em todo o mundo, graças ao papel central do dólar no sistema financeiro global.

Anos de políticas de juros baixos do Fed incentivaram empresas de países emergentes a contrair empréstimos em dólar, porque isso lhes custava menos que empréstimos contraídos em suas moedas locais, como o real ou a rúpia indiana.

Em setembro de 2014, havia US$ 9,2 trilhões desses empréstimos em dólar fora dos Estados Unidos -um aumento de 50% desde 2009, segundo o BIS (Banco de Compensações Internacionais).

Porém, o dólar subiu 25% em relação a uma cesta de moedas internacionais usadas comumente. "Agora que o dólar se fortaleceu e as taxas estão em alta, criou-se um risco e um desafio a muitos mercados emergentes, na medida em que suas dívidas ficaram mais onerosas", comentou Hung Tran, do Instituto de Finanças Internacionais, uma associação de bancos globais.

"Para as autoridades dos países emergentes, o desafio é entender o grau de exposição de seu setor corporativo."

As empresas exportadoras nos mercados emergentes podem ficar bem, porque sua receita chega em dólares, permitindo que elas acompanhem a alta dos juros sobre suas dívidas. Mas, para as companhias voltadas ao mercado doméstico, como as construtoras ou empresas de fornecimento de eletricidade, o dólar mais caro pode encarecer o pagamento dos juros sobre suas dívidas.

Como recebem sua receita na moeda nacional, de repente, elas precisam muito mais para conseguir quitar dívidas em dólar.

Hyun Song Shin, diretor de pesquisas do BIS, argumenta que o dólar em alta tem o efeito de arrochar a oferta monetária em toda a economia global.

Uma empresa da Malásia que faz negócios com uma firma sul-coreana frequentemente efetua transações em dólar.

Agora os dólares serão disponibilizados sob condições mais rígidas. Está claro que as decisões tomadas por Janet Yellen, a diretora do Fed, e seus colegas em Washington podem exercer um grande efeito sobre transações financeiras, mesmo quando não há companhias americanas envolvidas.

Para alguns economistas, a situação encerra ecos das crises que sufocaram as economias asiáticas no final dos anos 1990 e as da América Latina no início dos anos 2000. A maior diferença é que agora são empresas privadas, não governos, que contraíram dívidas em uma moeda que não a sua.

A alta do dólar e a queda das moedas das economias emergentes produzem efeitos opostos. À medida que as empresas que se endividaram em dólar enfrentam problemas, a queda dos valores das moedas nacionais eleva a competitividade dos exportadores nos mercados globais.

O Fundo Monetário Internacional projeta crescimento de 4,3% para as economias mundiais neste ano, contra 2,4% para as economias avançadas.

Como disse à Bloomberg Television o diretor do Banco de Reservas da Índia, Raghuram Rajan, "contrair empréstimos em dólares é como jogar roleta russa, especialmente se são empréstimos de prazo relativamente curto".

 

Fonte: Folha de S. Paulo

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