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Puxada pelo agronegócio, Centro-Oeste é a região que mais cresce no Brasil

Bom momento da agropecuária, com cotação dos preços dos grãos subindo e seca nos EUA, amplia a riqueza dos Estados da região


Publicado em: 03/09/2012 às 11:20hs

Puxada pelo agronegócio, Centro-Oeste é a região que mais cresce no Brasil

O Centro-Oeste é a região que mais cresce no País. Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás e o Distrito Federal estão sendo impulsionados pelo bom momento da agropecuária e, mais recentemente, pelo aumento da cotação dos grãos no mercado internacional. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central referente ao Centro-Oeste apontou um crescimento de 5,9% nos 12 meses encerrados em maio - na sequência, estão o Sul (4,4%) e o Nordeste (4,2%).

Por trimestre, o crescimento do Centro-Oeste já é o maior do País há um ano, segundo o BC. No fim do ano passado, em novembro, o maior crescimento acumulado em 12 meses era da Região Norte (4,8%), seguida de perto pelo Nordeste (4,7%) e Centro-Oeste (4,7%).

"Tivemos um ano com bons preços na agricultura e isso ajudou bastante a elevar o faturamento total da produção. Como a agricultura corresponde a 70% do PIB de Mato Grosso, todos os setores do Estado têm um bom resultado", diz Ricardo Tomczyk, vice-presidente da Associação dos Produtores de soja e milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja).

Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, divulgados na semana passada, mostraram um crescimento maior da agricultura ante as demais atividades econômicas. Na comparação com os três primeiros meses do ano, a agricultura cresceu 4,9%. A indústria recuou 2,5%, enquanto o setor de serviços teve alta de 0,7%.

A quebra de safra do milho e da soja nos Estados Unidos também serviu de impulso para a região. Os preços dos dois produtos aumentaram expressivamente no cenário internacional. Em Rondonópolis, Mato Grosso, o preço negociado da saca de soja passou R$ de 42, em agosto de 2011, para R$ 75,2 este ano.

"Nos últimos 12 meses, passamos por uma situação conjuntural com forte influência. Os problemas climáticos afetaram os principais países produtores, o que não é comum", diz Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

O Centro-Oeste é o principal produtor de grãos do Brasil. Na safra de 2012, que deve ser recorde, o IBGE prevê que a região será responsável por 42,7% da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas de todo o País - somente Mato Grosso produz 20 milhões de toneladas de soja, o que sozinho o torna o quarto maior produtor do mundo.

Efeito geral

O crescimento do agronegócio estimula outros setores da economia, com impacto direto no emprego no Centro-Oeste. A evolução na contratação de trabalhadores com carteira assinada na região se mantém no mesmo patamar de 2011, segundo dados do Cadastro Geral Cadastro Geral de Empregos e Desempregados (Caged). O Centro-Oeste é a única região que conseguiu manter o mesmo ritmo do crescimento do emprego (leia quadro ao lado).

"Há uma retomada da capacidade de investimento, em renovação de maquinário, o que dinamiza o restante da economia local. Ou seja, todos os provedores de insumos e serviços para os produtores acabam se beneficiando", diz André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult.

Nos últimos anos, o Centro-Oeste aumentou a sua participação no PIB nacional. De 2002 para 2009, segundo o IBGE, cresceu de 8,8% para 9,6%. O aumento de 0,8 ponto porcentual no período foi o maior entre todas as regiões. Esse crescimento, impulsionado pelo agronegócio, alterou a estrutura das classes sociais (leia quadro ao lado).

"O dinheiro do agronegócio é como o crédito funciona para outras regiões do País. É um alavancador do consumo, o que faz com que toda a máquina cresça", diz Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. A nova classe média - a chamada classe C - corresponde a um mercado consumidor de R$ 98,7 bilhões.

SACA DE SOJA É MOEDA CORRENTE NOS NEGÓCIOS

Primeira parcela é paga com safra atual e as futuras safras são as garantias de pagamento para comerciantes.

O agronegócio em Mato Grosso, além de colocar o Estado no topo do ranking do maior produtor de grãos do País, traz reflexos em todos os setores da economia. Em Cuiabá, as revendedoras de carros de luxo comemoram. "Agora, o segundo carro da família também já é um de luxo", disse o presidente do Sindicato dos Distribuidores de Veículos em Mato Grosso, Manoel Guedes. No interior, além dos carros, móveis, imóveis e materiais para construção são comprados com o dinheiro da soja - ou até mesmo trocados pelo produto.

Em Cuiabá, uma construtora investiu num condomínio de luxo vertical cuja moeda para compra era a soja. Em menos de 40 dias, 70% estavam vendidos. O presidente da Associação Comercial e Empresarial (Aces), Hilton Polesello, disse que, em Sorriso, com a soja, é possível comprar terrenos, motos, casas, carros e máquinas agrícolas.

A empresária catarinense Neiva Dalla Valle, do setor imobiliário em Sorriso, veio ao Estado como fotógrafa, mas logo se transformou em corretora de imóveis. Ela vende propriedades em cidades que vivem do agronegócio, como Primavera do Leste e Sorriso - esta última é a maior produtora de soja do mundo, com 600 mil hectares a cada safra, segundo dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).

Troca

Neiva contou que 80% das vendas de casas têm como moeda a soja. Funciona como uma troca. O comprador paga a entrada pelo imóvel em sacas de soja. As demais parcelas também podem ser quitadas com a soja das safras seguintes.

Em Sorriso, um terreno na avenida principal, de cerca de 800 metros quadrados, não sai por menos de R$ 1 milhão. Essa mesma área, em 2011, custava em torno de R$ 600 mil. A soja, segundo a empresária, é a moeda que o agricultor conhece. "É uma vantagem, pois ele sabe como é a moeda dele. Sabe o custo que é para plantar."

Uma das maiores revendas de veículos de Sorriso também aceita a soja como moeda. O empresário Plínio Edimar Ficagna garante que cerca de 20% dos seus negócios são pagos com soja. Ele venda uma média de 20 automóveis por mês.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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