Publicado em: 22/07/2013 às 10:30hs
Contudo, analistas consultados pelo Valor acreditam que os resultados em si não serão determinantes para a tendência do Índice Bovespa (Ibovespa), ainda que devam contribuir para aumentar o mau humor entre os investidores.
Desde janeiro, o principal índice da BM&FBovespa acumula queda de mais de 22%. A economia demora a se recuperar, as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) continuam a ser reduzidas, o câmbio depreciado não ajuda e, ainda por cima, há uma fuga de investidores estrangeiros - seja por uma visão pior do mercado brasileiro ou pelos temores quanto à compressão da liquidez no mundo.
O Citibank, em relatório, mostra que há um movimento forte de cortes nas estimativas para companhias locais desde o início do ano. O analista Stephen Graham aponta queda de mais de 6% nas projeções de lucro líquido acumulado em 2013 de todas as empresas que compõem o Ibovespa. Karina Freitas, da corretora Concórdia, acrescenta que a grande diferença em relação às decepções de 2012 é que agora as novas perspectivas estão mostrando cenário pior também para o próximo ano.
O consenso entre os especialistas é que o preço atual das ações na bolsa já reflete esse pessimismo. Carlos Nunes, estrategista de renda variável do HSBC, destaca que a relação entre investidores e governo está bem deteriorada. "Uma das coisas que faz o índice sofrer é a ação do governo. São medidas mais populistas do que ortodoxas, que afastam os investidores", afirma.
Roger Oey, superintendente da área de análise do BES Securities, corretora do Banco Espírito Santo, alerta ainda para a chance de novas baixas no mercado de ações caso os balanços decepcionem. Para ele, o grande foco será sobre a linha de custos, que há algum tempo é engordada por conta da inflação e do preço das commodities, que são a matéria-prima de vários produtos vendidos pelas companhias. "As empresas já enxugaram muito no primeiro trimestre, mas há gastos que demoram a ser reduzidos", lembra.
Com a desaceleração da economia, as companhias fizeram o que tinham à mão para se tornarem mais eficientes e impedirem perdas maiores na última linha do balanço, mas algumas medidas consistem em mudanças de gestão, cujos benefícios levam mais tempo para serem capturados nos resultados.
Segundo Oey, outro ponto que segura essa redução de gastos é o fato de que as empresas não estão demitindo. "O mercado de trabalho continua aquecido, não vão cortar nesse lado", diz. Portanto, um dado que pode aumentar o pessimismo dos investidores seria adiar para o terceiro trimestre quedas mais significativas de custos, comenta o analista do BES.
Do outro lado, demonstrativos financeiros que agradem o mercado com cifras maiores que as esperadas podem não ser suficientes para ditar tendência ao Ibovespa, opinam os analistas. Os três creem em possibilidade de ganhos pontuais ao índice, mas também reforçam que a atual instabilidade da bolsa provavelmente vai perdurar até o fim do ano.
Um ponto que sustenta o argumento dos bancos é o peso que as empresas de Eike Batista têm no Ibovespa. A OGX, por exemplo, tem a terceira ação mais importante na carteira teórica do indicador. Os temores quanto à saúde financeira dessas companhias, depois de projetos adiados ou cancelados, destruiu a confiança dos investidores no empresário e as oscilações da petrolífera têm influenciado muito a trajetória da bolsa.
A safra de balanços do primeiro trimestre, pelo lado contrário, ajudou a dar um respiro ao índice. O período foi de 17 de abril a 15 de maio, quando o Ibovespa subiu 2,2%, apesar de as demonstrações financeiras não terem sido tão boas. Levantamento do Valor Data mostra que o lucro líquido agregado das participações do Ibovespa caiu 18,3% de janeiro a março, em comparação com os mesmos meses de 2012. O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) recuou 9,4%.
Os dados excluem instituições financeiras - que, diga-se de passagem, são bem relevantes para o índice - e levam em conta números colhidos na Economatica - ou seja, os balanços do ano passado podem não incluir as reapresentações das companhias por conta das mudanças de contabilização de fatias em joint ventures.
Mas o importante é notar que o resultado final não foi tão animador e, além disso, a maior parte das blue chips da bolsa decepcionou o mercado, apresentando dados piores do que se aguardava. Para se ter uma ideia, os resultados de Gerdau, CSN, Ambev, PDG e Usiminas no primeiro trimestre ficaram abaixo das projeções. Por outro lado, os dois pesos mais pesados no Ibovespa, Petrobras e Vale, surpreenderam positivamente.
De qualquer maneira, o período de quase 30 dias da última safra de balanços representou um alívio temporário ao Ibovespa. Após esse intervalo, o Ibovespa encara perdas de 22%. Na opinião de Karina, da Concórdia, para que uma reação semelhante seja registrada pela bolsa nessa nova safra de balanços, as empresas terão que dar alguma pista muito forte de que haverá crescimento nesta segunda metade do ano. "Ainda temos férias no hemisfério norte durante o mês, o que prejudica o número de negócios na bolsa e deve segurar ainda mais uma tendência melhor", lembra.
Fonte: Canal do Produtor
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