Publicado em: 03/01/2012 às 15:45hs
O novo salário mínimo de R$ 622,00, que começou a valer no dia 1º de janeiro, provoca impacto no custo de produção no campo. Mesmo para os Estados que não utilizam a referência nacional, e sim um salário mínimo regional, a tendência é de alta nas despesas com mão de obra. Em São Paulo, a escassez de gente para trabalhar no campo está levando produtores a conceder reajustes acima do que é definido pelo governo.
No passado, quando a inflação era alta, o reajuste do salário mínimo acabava aumentando o consumo dos alimentos. No caso da carne, a demanda também causava alta no preço da arroba do boi. Com a economia estabilizada, a situação mudou.
Segundo o analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Sérgio de Zen, os custos com a mão de obra na pecuária, são maiores.
— Em 2003, a mão de obra pesava 12% no custo total. Hoje, pesa 24%. Como foi aumentando o valor do salário mínimo, o produtor continuou usando este indexador para o salário dos funcionários. Então teve cada vez mais o encarecimento da mão de obra – explica.
Alguns Estados, como São Paulo, não usam o salário mínimo como referência porque já adotam o salário mínimo regional. Mesmo assim, a tendência é de alta nos custos com a mão de obra.
O trabalhador rural Juarez dos Reis veio do Paraná com a mulher e quatro filhos. Conseguiu emprego em um sítio em Sorocaba, no interior de São Paulo, onde faz a ordenha das vacas. Há um ano, ganhava R$ 800, em seguida passou para R$ 900 e em dezembro recebeu um novo aumento, para R$ 1 mil por mês. Não paga aluguel e tem outros benefícios.
— Emprego na cidade é difícil, principalmente para uma pessoa que tem que pagar aluguel. E para pagar aluguel, com salário da cidade, não compensa. É melhor ficar na área rural — diz Reis.
— As crianças no sítio crescem mais à vontade, tem mais saúde também. E na cidade temos preocupação com escolha, violência. Não trocaria o campo pela cidade de jeito nenhum — afirma Eliana dos Reis, esposa de Juarez.
Junta, a família Reis tem renda de R$ 1,8 mil por mês. Para evitar que os funcionários voltem para a cidade, o patrão deles, o produtor de leite José Carlos Rodrigues, acaba pagando mais pela mão de obra. O reajuste para os empregados no último ano chegou a 25%.
— Eu dou casa, água, luz, leite e o que ele ganha no pagamento dele é livre. Eles podem plantar em volta da casa, tem quintal, casa grande, transporte que leva para escola, tudo por conta da prefeitura — afirma Rodrigues.
A agrônoma da prefeitura de Sorocaba, Janaína Tonolli, confirma o aumento dos custos com a mão de obra.
— Eles têm que dar um incentivo maior do que a indústria. Isso seria a moradia, água, luz e até cursos. Muitos produtores oferecem cursos na área. Tratoristas, por exemplo, ganham muito bem. Vale a pena investir nessa área, porque se ganha mais que na cidade — explica Janaína.
Para o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho, o aumento dos custos acabará refletindo no preço dos produtos.
— Os salários estão subindo muito além da inflação e isso gera custo. Certamente teremos aumento no preço dos produtos finais, apesar de ainda existir muita informalidade e trabalho sem carteira assinada. O fato é que se trata de um custo novo que se soma às despesas que teremos com o novo Código Florestal e com a já conhecida infraestrutura deficiente, que suga a renda do agronegócio brasileiro — avalia Ramalho.
Fonte: CANAL RURAL
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