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Decisões de governos devem continuar a dar a tônica em 2012

Assim como as ações adotadas pelos governos dominaram a cena em 2011, o risco político continuará sendo a principal variável que ditará os rumos dos ativos financeiros em 2012


Publicado em: 06/01/2012 às 15:00hs

Decisões de governos devem continuar a dar a tônica em 2012

A solução para a Europa e para os Estados Unidos está nas mãos de políticos, que tem uma visão de tempo diferente daquela do mercado financeiro, diz David Beker, chefe de economia e de estratégia para o Brasil do Bank of America Merrill Lynch. "Por isso, é possível piorar para os políticos agirem para só depois a situação melhorar."

A boa notícia, no entanto, é que a expectativa dos economistas é que a bolsa ganhe ritmo no ano que vem, embora deva continuar patinando no início do ano, melhorando a partir do segundo semestre. "Há ainda muita coisa não resolvida para o ano que vem, como a eleição presidencial nos Estados Unidos, na França e mesmo os conflitos e novos governos no Oriente Médio", diz Beker. Mesmo na China haverá mudança de liderança. "O risco político vai manter a pressão sobre os ativos", diz.

A solução para o alto endividamento da Europa foi apenas postergada, os pacotes de austeridade são contracionistas e a região deve passar por uma recessão de pelo menos 1% em 2012, avalia Carlos Nunes, estrategista de renda variável do Banco HSBC. Já nos Estados Unidos, a falta de apoio político do presidente Barack Obama deve fazer com que o próximo ano seja complicado, de dificuldades para aprovação de projetos e com crescimento econômico de 1,5% a 1,6%, abaixo do potencial, diz o executivo. "Com isso, não há geração de empregos, de inflação e os políticos não vão apoiar um pacote fiscal num ano de eleição".

Já a situação de risco geopolítico na África, assim como no Oriente Médio, não deve se resolver no médio prazo e, com isso, deve segurar o preço do petróleo em níveis acima de US$ 100,00, avalia José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. "O petróleo, sob o ponto de vista do investidor, é uma boa aplicação", diz. "As commodities agrícolas, por sua vez, são mais resilientes em comparação às metálicas, mas mesmo as agrícolas devem perder algum espaço."

Para o investidor que mantém aplicações em bolsa, o conselho é paciência. "Para atravessar esse momento de turbulência que deve dominar no primeiro semestre, o ideal é buscar empresas com maior geração de caixa, solidez de balanços e resiliência de resultados", afirma Nunes, do HSBC. O setor de cartões, por exemplo, tem um crescimento estrutural, com o aumento do uso de cartões como meio de pagamento, cita o estrategista.

Outro segmento interessante é o de alimentos. "A Brasil Foods, por exemplo, tem uma base de exportação mais voltada para emergentes, com frangos e processados", diz Nunes, do HSBC. "Mesmo que haja uma deterioração da crise, o consumidor busca produtos mais baratos, deixando de lado o filé mignon para buscar o frango." Já no caso do setor de energia elétrica, não dá para dizer que há ações baratas.

Depois de dois anos andando de lado, a bolsa brasileira segue mais leve engatar um movimento de alta, embora apenas a partir do segundo semestre, avalia Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos da SulAmérica Investimentos, lembrando que no ano passado o Índice Bovespa subiu mísero 1,04%. "As empresas brasileiras estão bem descontadas e a economia americana pode surpreender positivamente", afirma. "A situação na Europa não melhorou, mas parece que pelo menos parou de piorar e, com taxas de juros mais baixas, pode haver uma propensão maior ao risco em 2012."

Para Lima Gonçalves, do Fator, a situação ainda vai piorar antes de melhorar. "Só resolver a parte fiscal na Europa não resolve", diz ele, que acredita que o Banco Central Europeu terá de realizar um "Quantitative Easing" - mecanismo pelo qual o banco central compra títulos públicos para injetar dinheiro na economia - "na marra". Apenas no primeiro semestre, € 600 bilhões de dívida vencem, considerando todos os países integrantes da zona do euro.

O Bofa Merrill Lynch traçou três cenários para 2012, com pesos diferentes para cada um deles. No primeiro, considerado ruim - com os problemas de crescimento nos Estados Unidos ainda em foco e leve recessão na Europa -, a probabilidade de se materializar é de 50%. Já o cenário chamado de muito ruim, com ruptura na zona do euro, tem 40 de chances de ocorrer. Por fim, a possibilidade de tudo dar certo é de apenas 10%. "Os problemas com a Europa são grandes e os países precisarão resolver seus déficits, o que pode acarretar uma recessão mais forte do que a estimada", alerta Beker.

Nos EUA, o presidente Barack Obama deve continuar patinando para conseguir aprovar as medidas necessárias para colocar a economia do país nos trilhos. "Até a eleição, o congresso não vai querer dar nada de mão beijada para Obama e isso pode afetar a confiança do mercado", afirma Beker.

Com relação à China, o investidor deve acompanhar o ritmo de desaquecimento da economia. O maior risco para o Brasil está no chamado "hard landing" - pouso forçado - da economia chinesa, o que afetaria as exportações brasileiras para o país.

Fonte: Avisite

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