Publicado em: 10/01/2012 às 14:00hs
O mundo continuará a enfrentar uma estagnação nos próximos 10 anos. Contudo, o Brasil está muito mais preparado, hoje, para lidar com essa situação, de modo a crescer economicamente a uma média de 3,5% a 4% por ano, avaliou ontem Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP-FGV). "Esse avanço acontecerá se os preços das commodities continuarem em alta, o que acredito que vai ocorrer", disse o especialista, durante o seminário internacional Latin American Advanced Programme on Rethinking Macro and Development Economics (Laporde).
"O Brasil tem uma maior gama de oportunidades [comerciais e de crescimento] para deslanchar . Temos um governo muito mais preparado para lidar com crises", diz Nakano. Para ele, essa continuação da estagnação mundial está atrelada ao fato de que a atuação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e do Banco Central Europeu (BCE) é focada em resolver problemas financeiros, deixando de lado o avanço econômico e o crescente desemprego.
Nakano comenta que dentre os principais motivos para o Brasil ter condições de lidar com a crise internacional está no fato de que o País em pouco tempo cresceu em média 4% e por ter um forte mercado interno, principalmente depois que surgiu a que chama de nova Classe Média. "Quase 50% da população pertence a essa classe, que é muito mais exigente e educada", explica.
Além disso, o diretor da EESP-FGV disse que a nova atuação do Banco Central (BC) comandada por Alexandre Tombini - ao reduzir a taxa básica de juros (Selic) no total de 1,5 ponto percentual, para 11% no ano passado - possibilitou que o País possa expandir economicamente. "O BC deixou de ser um obstáculo para o crescimento. Acho positivo a política monetária olhar não somente o regime de metas da inflação - de modo a observar a inflação futura - como também outros componentes econômicos [PIB]", afirmou.
Mesmo com a redução dos juros, o Banco Central obteve vitória em 2011, após a divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última sexta-feira de que a inflação ficou exatamente no teto da meta, de 6,5%, cujo centro é de 4,5%.
A expectativa para este ano, segundo o relatório Focus, divulgado ontem pela autoridade monetária, é de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerre em 5,31%, ligeira queda ante o patamar registrado no documento anterior (5,32%).
Selic em queda
Por outro lado, Nakano diz que se o governo tivesse um maior rigor seria possível reduzir ainda mais os juros. Segundo o relatório Focus, os analistas consultados pela autoridade monetária aguardam que a taxa básica fique em 9,5% neste ano. O diretor da Escola de Economia da FGV acredita que a Selic possa ficar entre 8,5% e 9% ao final de 2012.
"Alguns eventos mais recentes têm desafiado o cenário de Selic abaixo de 10% em 2012. No ambiente externo, os resultados surpreendentes da atividade norte-americana tem afastado a chance de que a economia mundial possa mergulhar numa recessão tão ou mais grave do que a observada em 2008. Além disso, as estatísticas mais recentes da China afastam os riscos de uma desaceleração abrupta do gigante asiático e as previsões de que a economia europeia entraria em queda livre por ora não se confirmaram", disseram os economistas da LCA Consultores, por meio de nota.
Rigor fiscal
Nakano critica também o baixo investimento público no Brasil, o que poderia possibilitar um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) maior, entre 5% e 6%. "Com um maior ajuste fiscal [retenção de gastos], a taxa de investimento público poderia passar de 3% para 6% ou 7%, o que levaria a uma taxa total por volta de 25% do PIB. E esse ajuste pode ser feito em um mês", aponta.
De acordo com o Focus, a expectativa do mercado é que em 2011, a economia tenha aumentado somente 2,87%. E neste ano, a expansão seja de 3,30%.
Esta necessidade de maior ajuste fiscal do setor público, também ajudaria, na opinião do diretor da EESP-FGV, a resolver o problema do câmbio no País. "A taxa de câmbio apreciada é um dos maiores problemas da nossa economia, pois colabora na pressão de alta dos preços. O governo deveria deixar a taxa desvalorizar mais. E um meio de se fazer isso é com o rigor fiscal, de modo a reduzir eventuais desequilíbrios entre a demanda agregada e a oferta", disse. No fechamento da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) na tarde de ontem, cotação do dólar ficou em R$ 1,8380, queda de 0,86%.
Pelo documento do BC, a estimativa do mercado é de que o câmbio fique em R$ 1,79 por dólar, mesma previsão registrada na média da semana passada. Em 2011, o patamar fechou em R$ 1,80 por dólar.
Fonte: DCI - Diário do Comércio & Indústria
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