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Atividade em julho indica 2º semestre mais fraco

Apesar da volatilidade que dominou os mercados financeiros e dos protestos populares que tomaram as ruas das principais cidades brasileiras na segunda metade do mês, junho foi positivo para a atividade econômica


Publicado em: 22/07/2013 às 11:50hs

Atividade em julho indica 2º semestre mais fraco

Os principais indicadores coincidentes já divulgados, como a produção de automóveis e o tráfego de veículos pesados em rodovias, sugerem que a produção industrial subiu cerca de 1,5% no período, após recuo de 2% em maio.

O aumento do nível de incerteza entre empresários e consumidores com as mudanças de cenário no mês passado, no entanto, começou a transparecer nos primeiros dados divulgados neste mês. Dados da Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias, ajustados sazonalmente pela LCA Consultores, mostram que a média diária de vendas de automóveis, até o dia 17 deste mês, indicava recuo de 4,2% sobre o mês anterior, após quatro meses consecutivos de variações positivas. Os licenciamentos de caminhões caíram 2,2% na mesma base de comparação.

Outras sondagens com consumidores e empresários também mostram queda no período. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) caiu 4,9 pontos em julho, menor nível desde abril de 2009, ao atingir 49,9 pontos, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Outra pesquisa, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), mostrou que a intenção de consumo das famílias ficou 4% menor entre junho e julho, nível mais baixo da série iniciada em janeiro de 2010.

Com investidores e consumidores mais cautelosos, economistas revisaram para baixo as projeções para a atividade no segundo semestre e alguns não descartam um trimestre negativo para a atividade econômica ainda em 2013.

A deterioração das expectativas foi provocada, sobretudo, por uma forte mudança no cenário internacional, com a sinalização de que o Fed, o banco central americano, vai começar a reduzir os estímulos monetários neste ano, o que provocou desvalorização cambial e alta de juros futuros no Brasil. O país foi bastante afetado por essas mudanças, porque já havia internamente questionamentos em torno da condução da política econômica doméstica, afirmam analistas.

Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, diz que julho deve ser de fato um mês de fraca atividade econômica, sobretudo por causa da greve de caminhoneiros, que interrompeu o fluxo em rodovias em vários Estados. Borges prevê avanço de 0,3% da economia no terceiro trimestre, embora não descarte um número mais fraco. Para o segundo trimestre, por enquanto, a LCA projeta alta de 1,1% da atividade.

Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, avalia que junho foi bastante positivo, com alta prevista de 1,3% da produção industrial, mas insuficiente para compensar a queda do mês anterior. Como comércio e serviços também dão sinais de desaceleração, a consultoria projeta alta de 0,5% do PIB no segundo trimestre. Na segunda metade do ano, a taxa média de crescimento da economia deve ser menor, de 0,4%. "Temos uma mudança de humor, mas estamos mais pessimistas por causa dos números. Crédito e consumo estão mais fracos do que prevíamos", afirma. Com a cena externa mais delicada, ficou mais complicado apostar em expansão muito mais forte que 2% neste ano, diz.

Para Fernando Genta, economista-chefe da MCM Consultores, o Brasil atravessa uma crise de expectativas, mais do que de números em si. As mudanças no cenário externo, no entanto, foram um golpe em um momento em que já havia elevada incerteza em relação à política econômica doméstica, ao que se somou a incerteza com as manifestações populares.

Combinados, a perspectiva de retirada de estímulos nos Estados Unidos e o ritmo mais fraco de expansão na China, mais próximo de 7,5%, tendem a frear a alta de preços de commodities, aumentar taxa de juro doméstica e desvalorizar o câmbio, diz Genta. "Quando o quadro externo fica menos favorável, as fragilidades ficam explícitas." Nesse cenário, as decisões de investimentos e de compra de bens duráveis tendem a ser adiadas.

Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, também afirma que a "novidade" que alterou o cenário para este e para o próximo ano na atividade é a perspectiva de desaceleração da absorção doméstica, já que os problemas de oferta eram conhecidos. "As restrições para o crescimento da indústria continuam, mas teremos desaceleração do consumo e dos investimentos, por causa do ambiente internacional mais conturbado, da política monetária apertada e de incertezas políticas". Nesse cenário, o crescimento tende a ser nulo no terceiro trimestre, embora Oliveira não descarte uma queda. "Claro que esse resultado ainda depende de uma série de variáveis, mas as sondagens já indicam um cenário bem menos favorável".

O crescimento menor no segundo semestre também enfraqueceu projeções para o próximo ano, quando os efeitos do atual ciclo de alta de juros devem se fazer sentir com mais intensidade sobre a economia real. Para Oliveira, a economia deve avançar 2,3% neste ano e 2% no próximo. O quarto ano de baixo crescimento, diz, deve elevar o desemprego para 6,1%.

Para Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, há o temor de que a confiança em baixa prejudique o desempenho do comércio e da indústria, o que abre espaço para um segundo semestre mais fraco para a economia. "Mas, para que o país cresça menos de 2% no ano, é preciso que ocorra uma forte contração no terceiro trimestre, ou moderada queda do PIB no quarto trimestre, e não conseguimos enxergar esse movimento", afirma.

Para Padovani, três fatores fazem com que ele mantenha projeções de crescimento - 2,5% neste ano e de 2,7% no próximo - mais positivas do que a do mercado no momento: a percepção de que não há nem haverá crise aguda de confiança, o fato de que a política fiscal, mesmo com um possível ajuste, continuará a estimular a economia, e a expectativa de que não haverá forte reversão no quadro de liquidez global.

"É natural que reversões de política monetária sejam acompanhadas de volatilidade mas, mesmo que caiam as compras de ativos, isso será compensado por maior crescimento nos EUA", afirma.

Fonte: Canal do Produtor

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