Publicado em: 28/03/2011 às 23:06hs
Este deverá ser um ano complicado para a inflação de alimentos, uma vez que as cotações internacionais de commodities agropecuárias ainda têm espaço para valorizações adicionais, a despeito dos recordes históricos já estabelecidos em várias delas. O atual aumento tem como razão principal a ocorrência de problemas climáticos em diversas regiões. Esses fatores comprometeram a oferta de praticamente todos os produtos transacionados internacionalmente e mesmo daqueles típicos de mercados domésticos, obrigando as nações a vir ao mercado para adequar suas disponibilidades. Porém, a amplitude desse movimento deixa claro que o problema é mais sério e estrutural que a simples ocorrência de intempéries extraordinariamente simultâneas em várias partes do globo.
A inadequação dos estoques de passagem de uma safra para outra, já há alguns anos talvez, seja o principal indício do problema efetivo, que reside no fato de a oferta global de grãos, oleaginosas e mesmo proteínas de origem animal não estar ocorrendo em sincronia com o ritmo de expansão da demanda. O aumento da urbanização e a evolução da renda nas economias emergentes têm promovido a incorporação ao mercado consumidor de relevante parcela da população antes à margem deste processo - a exemplo do que vem ocorrendo no Brasil -, o que exige uma oferta crescente de alimentos, com um menor número de pessoas produzindo. Relevante destacar que ganhos de renda em classes mais baixas tendem a ter maior efeito no consumo de alimentos que ganhos nas classes mais elevadas.
Por isso, se faz necessária a mecanização das lavouras e do manejo da criação de animais, a incorporação de novas fronteiras ao processo produtivo e os efetivos ganhos de produtividade, o que pressupõe utilização de tecnologia de ponta, ao mesmo tempo em que restrições ambientais limitam a expansão em áreas próprias ao cultivo. Há também a necessidade de rápida evolução do arcabouço institucional e regulatório sobre a utilização dessas novas tecnologias, sob pena de comprometer a evolução das pesquisas e a correta utilização dos novos produtos.
Em suma, a realidade atual implica em custos relativamente elevados para promover um efetivo “salto” na produção agropecuária global, o que por si já seria uma boa justificativa para preços em patamar histórico elevado. Como o maior incentivo ao investimento nestas áreas deriva da rentabilidade auferida com estes preços elevados, não há dúvidas de que no médio e no longo prazos os ganhos de produtividade e mesmo a incorporação de áreas ainda não produtivas irão propiciar a adequada expansão da oferta de alimentos e até de matérias-primas para biocombustíveis. Porém, no curto prazo, as pressões devem continuar.
A expectativa para este ano é de que o incentivo dos elevados preços contribua para ampliações no plantio da safra 2011/2012, que ocorre neste momento no Hemisfério Norte. Porém, as restrições à ampliação de áreas nesta região do globo são grandes e a conjuntura é propícia ao cultivo de todos os grãos e de todas as oleaginosas. A difícil opção entre uma lavoura ou outra deverá proporcionar taxas mais brandas de crescimento em cada lavoura individualmente.
Já por ocasião do plantio no Hemisfério Sul, a partir de meados de setembro, a chance de ampliação de áreas é maior, especialmente no Brasil, o que deverá, junto a uma colheita cheia no Norte, promover acomodação nas cotações. Tudo isso se não houver nenhum acidente climático ou problemas de pragas e doenças.
No médio prazo, a expectativa é de que a maturação de pesquisas e a introdução de novas tecnologias e áreas concorram para adequação da oferta global das matérias-primas de origem agropecuária. A grande contribuição que poderia ser articulada entre os principais países produtores seria no sentido de difundir, de maneira organizada e criteriosa, os avanços tecnológicos já alcançados nos mercados mais estruturados. Iniciativas de controle de preços, formação de estoques e ações semelhantes se mostraram ineficientes e contraproducentes no passado recente.
Amaryllis Romano é sócia da Tendências Consultoria Integrada. Economista graduada pela FEA-USP, com MBA em finanças pelo IBMEC-SP e em Administração Rural pela FGV, atuou como gerente de orçamentos (Grupo Itamarati Agropecuária), analista setorial (Unibanco) e foi responsável pela análise da Portopar DTVM, Asset Management (Grupo Porto Seguro). É responsável pelo acompanhamento setorial de agronegócios, aviação comercial e construção civil.
Fonte: Monsanto em Campo
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