Publicado em: 23/07/2008 às 09:09hs
Nem mesmo o Estado de Mato Grosso do Sul escapa das críticas, por parte de alguns segmentos que tentam convencer a população que a elevação do custo da cesta básica decorre do desenvolvimento do setor sucroalcooleiro. Concordar ou compartilhar desta posição, seja por desinformação ou por posições ideológicas contrárias ao modelo político estadual predominante, significa não aceitar também o esforço governamental na captação e alocação de recursos para novos investimentos no Estado.
O Brasil está focado na busca da liderança mundial em agroenergia e na oferta de alimentos. Já estamos incluídos e compartilhando de discussões de regras internacionais, em setores até então exclusivos aos países desenvolvidos, e estamos sendo reconhecidos e respeitados, por determos tecnologias suficientes para produção de energia limpa ao mesmo tempo que estamos batendo sucessivos recordes na produção de alimentos.
A sugestão é atentar para a imensa capacidade ociosa que, principalmente o nosso Estado possui. Segundo dados oficiais, o Mato Grosso do Sul possui 10 milhões de hectares de áreas degradadas, "clamando" para que sejam utilizadas e cultivadas e tenham alguma função.
É evidente que os preços dos alimentos no mundo atingiram valores, diríamos até, preocupantes. Mas acontece que muitos de nós brasileiros estamos caindo na cilada dos países ricos. Pregam tudo o que há de ruim sobre o nosso biocombustível, criticam nossa forma de produção, e colocam nos países em desenvolvimento, principalmente o nosso, a culpa pela decorrente crise mundial: "A CULPA É SEMPRE DO PEQUENO", como dizia uma autoridade no agronegócio nacional.
Esses países que nos criticam, aos quais o presidente Lula sabiamente disse que "nos apontam com os dedos sujos de óleo", buscaram a sua industrialização, não se importando com os sub-desenvolvidos, e somente se preocuparam em crescer e desenvolver a qualquer custo. Hoje buscam as mais diversas formas para barrar nossa ascensão, atribuindo-nos um problema que é global. É evidente o reconhecimento dos países ricos, inclusive os exploradores de petróleo, sobre a possibilidade de nos tornarmos uma potência energética moderna, e sabem também o quanto o domínio e a liderança no setor energético trará de benefícios ao Brasil. Daí o esforço em "barrar" nossos biocombustíveis e outros processos de produção de energia renovável. É a hora de revertermos esse quadro.
Pode haver algum engano, mas não ouvimos algo a respeito da influência do preço do petróleo no preço dos alimentos, sendo estes fatores diretamente relacionados. As constantes altas no barril do combustível fóssil elevam significativamente o custo dos insumos agrícolas com reflexos nos equipamentos e veículos utilizados nas lavouras, passando pelo transporte dos produtos, seja para abastecer o próprio mercado interno, seja para o mercado externo. E esta não é uma questão apenas local, do Mato Grosso do Sul ou do Brasil, mas sim um problema generalizado, decorrente da tão conhecida "lei da oferta e da procura". Os principais países fornecedores de alimentos não se prepararam para o fato de que a população mundial está crescendo, e consequentemente a necessidade por uma quantidade maior de comida cresce junto. É uma simples conta matemática, e o que precisa ser feito é aumentar a produção, mas principalmente a produtividade das espécies. Os alimentos no mercado mundial se manterão em alta, e é plausível acreditar que este é um convite aos produtores brasileiros produzir mais grãos, ou seja, sempre haverá atrativos, principalmente econômicos, para o cultivo de alimentos. Devemos sim nos isentar dessa culpa que querem nos imputar injustamente, pois a pressão dos grandes sempre cairá em cima dos pequenos, até que os pequenos se tornem grandes. É até compreensível a crítica de que não seria possível, nem agradável, como dizem alguns, vivermos sob uma dieta à base de "garapa e rapadura", feitas de cana-de-açúcar (mesmo porque as variedades cultivadas para a produção de etanol não são as mais indicadas para fins alimentícios), mas aí fica a pergunta: e é possível viver sem combustível e energia? É preciso haver bom senso nessa questão.
Helbert de Matos Zanatta
Graduado em Relações Internacionais
Pós-Graduando em Gestão do Agronegócio
Contatos: helbertzanatta@yahoo.com.br
Fonte: Grupo Cultivar
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