Meio Ambiente

Superfície de Água Natural no Cerrado Reduz em 53% desde 1985

Estudo revela impacto crescente da ação humana sobre recursos hídricos cruciais para o Brasil


Publicado em: 02/07/2024 às 09:00hs

Superfície de Água Natural no Cerrado Reduz em 53% desde 1985

Desde 1985, o Cerrado viu sua área de superfície de água natural diminuir drasticamente, registrando apenas 696 mil hectares em 2023, o que representa uma redução de 53%. Os dados são parte da terceira coleção do MapBiomas Água, divulgada pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) nesta quarta-feira (26). Atualmente, o bioma possui 1,6 milhões de hectares cobertos por água, sendo que apenas 37% são áreas naturais, enquanto 51% estão destinados a hidrelétricas.

Tendência de Redução Nacional

No Brasil, a área total de superfície de água foi de 18,3 milhões de hectares em 2023, uma diminuição de 2,6% em relação ao ano anterior, confirmando a tendência de redução observada desde os anos 2000. Todos os meses de 2023 apresentaram áreas de água inferiores às de 2022, sendo que nove meses também ficaram abaixo das médias históricas.

Impacto da Hidrelétricas e Mudanças Climáticas

"Demos ênfase ao aumento de 390 mil hectares (89%) na superfície de água destinada a reservatórios de hidrelétricas nos últimos 38 anos, afetando diretamente os ecossistemas aquáticos", destaca Dhemerson Conciani, pesquisador do IPAM envolvido na elaboração dos dados. A perda de superfície de água natural também é evidente em outros biomas do país, com mais de 6 milhões de hectares perdidos desde 1985 em formações como rios, lagos e veredas, uma queda de 30%.

Desafios no Pantanal e Amazônia

O Pantanal, por exemplo, registrou uma redução de 61% na superfície de água em 2023 em comparação com a média do bioma. Com apenas dois meses de alagamento por ano, em vez dos seis habituais, a região enfrenta desafios significativos para a sua fauna e flora naturais, além de um aumento nos incêndios.

Na Amazônia, que detém 62% de toda a superfície de água do Brasil, a seca severa de 2023 contribuiu para uma redução de 5,2% na superfície de água em relação ao ano anterior, representando uma perda de 3,3 milhões de hectares. A região também concentra a maior área hídrica destinada à mineração, com cerca de 6 mil hectares represados pelo setor.

Desafios e Necessidades Futuras

Joaquim Pereira, pesquisador do IPAM, destaca a necessidade urgente de uma abordagem integrada para enfrentar os desafios de gestão hídrica, conservação da vegetação nativa e implementação de práticas agrícolas sustentáveis. "Tratar essa questão requer uma abordagem integrada que inclua a conservação e recuperação da vegetação nativa, a implementação de práticas agrícolas e de manejo de solo sustentáveis e a melhoria da gestão dos recursos hídricos", alerta Pereira.

Impacto Regional e Municipal

Em 2023, 10 estados brasileiros apresentaram superfícies de água abaixo de suas médias históricas, com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul liderando as perdas. No nível municipal, municípios como Corumbá, no Mato Grosso do Sul, enfrentaram uma significativa redução na disponibilidade hídrica, agravada pela ocorrência frequente de incêndios nos últimos 40 anos.

Este panorama reflete não apenas uma crise local, mas também um desafio global para o Brasil na gestão sustentável de seus recursos hídricos, exigindo ações coordenadas e eficazes para garantir a conservação e o uso responsável dos recursos naturais.

Fonte: Portal do Agronegócio

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