Publicado em: 21/07/2010 às 12:09hs
Quando se ouve a palavra “inseto”, diferentes sentimentos nos rodeiam. Alguns se lembram das gigantes borboletas azuis, há aqueles que “sentem” a coceira da última picada de um borrachudo e outros relembram o nojo que sentiram ao ver uma barata. Essas lembranças e os sentimentos que os acompanham influenciam na vontade em cuidar, conservar um local ou, ao contrário, levam as pessoas a exigirem o desmatamento dos córregos e rios que atravessam as cidades, argumentando que são criadouros desses animais.
A grande quantidade de insetos geralmente faz com que as pessoas pensem que matar aqueles que estão em uma área não tem maiores repercussões, pois outros virão em seu lugar. É verdade que outros virão para ocupar o espaço daqueles que se foram, porém os novos indivíduos podem ser de outras espécies e, para piorar, podem ser de outra categoria alimentar.
E por que isso seria ruim?
Bom, para começar, pode-se ter acabado com uma espécie endêmica, ou seja, que era encontrada somente naquele lugar, diminuindo a diversidade local. Segundo, grande parte dos insetos aquáticos possui uma fase da vida dentro da água e outra fora da água; em cada fase, eles têm uma função na comunidade, alimentando-se de diversas fontes diferentes, o que os enquadra nas categorias alimentares. Entre essas categorias, encontram-se filtradores, coletores, predadores, picadores e outros. A falta de uma categoria desequilibra todo o sistema, pois poderá ocasionar acúmulo de matéria orgânica vegetal ou animal, como também afetar a taxa de transferência de energia, já que servem de alimento a outros grupos, citando-se os peixes.
Fora da água, esses insetos podem ser polinizadores de plantas, e sua ausência diminuirá a frequência de polinização, afetando a produção de frutos e, consequentemente, a propagação de novas plantas tão importantes em locais onde a vegetação está degradada.
Entre os insetos, assim como todos os animais, há alguns que são mais resistentes às alterações que ocasionamos nos ambientes, estes acabam se reproduzindo muito mais e aumentam seu número diversas vezes. Quando uma ou poucas espécies são encontradas em número muito elevado, dominando a comunidade, é sinal de desequilíbrio ecológico e, por isso, ocorrem as chamadas pragas urbanas.
Outro aspecto importante é que o conhecimento das espécies que vivem em determinado local permite elaborar conclusões mais robustas sobre problemas como impactos de práticas agrícolas, industriais, efluentes e diversos outros sobre o ecossistema rural ou urbano. Permite inclusive ser uma diretriz na determinação das áreas para estabelecimento de unidades de conservação, devido à presença de espécies endêmicas ou raras.
Assim, cada vez que a visão de um inseto automaticamente lhe remeter à ideia de pegar uma raquete elétrica, pense se ele realmente proporciona risco à sua saúde ou de sua família. Animais como os Aedes aegypti podem transmitir doenças fatais e seu controle é necessário, porém, entre a rica diversidade brasileira, há um grande número de espécies que nem chegam perto do ser humano, não lhes transmitem doenças e embelezam nosso redor, então, mantê-las vivas apenas nos trazem benefícios, direto e indiretos.
Kathia Cristhina Sonoda
Pesquisadora - Embrapa Cerrados
Fonte: Embrapa Cerrados
◄ Leia outros artigos