Publicado em: 14/10/2010 às 15:28hs
Quando se institui um programa de nutrição deve-se buscar o equilíbrio entre o requerimento nutricional, que varia de acordo com o peso, idade, tipo e intensidade do esforço físico realizado, e a disponibilidade de nutrientes presentes nos alimentos concentrados, volumoso e suplementos.
A qualidade da fração fibrosa, isto é, a administração de uma fonte de volumosos adequada é um dos principais fatores que determinarão o sucesso do programa nutricional instituído. Idealmente os níveis de proteína e energia presentes no volumoso fornecido, bem como sua digestibilidade, combinação de aminoácidos ou valor biológico da proteína, quantidade diária fornecida, entre outros fatores, como por exemplo, o intervalo de tempo entre a administração de concentrado e volumoso, devem ser rigorosamente ajustados.
Tendo em vista o tempo que os alimentos permanecem nos diferentes compartimentos do tubo digestivo dos equinos, preconiza-se que haja um intervalo de pelo menos duas horas entre o fornecimento de alimento concentrado (ração) e volumoso (capim fresco/feno), para otimizar a digestão e absorção dos nutrientes contidos nos alimentos. Esta prática evita dois acontecimentos indesejáveis: perda de nutrientes nas fezes (prejuízo $$) e sobrecarga do sistema digestivo (cólicas).
O processo digestivo se inicia na boca, pela mastigação (Digestão Mecânica) e adição de saliva. O alimento é conduzido até o estômago através do esôfago, um tubo condutor do bolo alimentar.
O estômago continua a digestão química ou enzimática através da secreção do suco gástrico. É interessante notar que os cavalos possuem um estômago muito pequeno em relação ao seu tamanho. Em média um equino de 500 Kg tem um volume gástrico de 12 a 14 litros. O fornecimento de 2 Kg de alimento concentrado representa em média um volume de 4 Litros (Máximo recomendado por refeição), que acrescido do volume ocupado pelas secreções digestivas e pelo gás formado ocupa o espaço interno do preenche com segurança, evitando o desenvolvimento de cólicas pôr distensão gástrica.
No intestino delgado se completa a maior parte da digestão e absorção dos nutrientes contidos no alimento concentrado (ração). Este processo tem duração média de duas horas e meia. Uma vez que a digestão do volumoso ocorre no intestino grosso, a velocidade com que passa pelo intestino delgado é aproximadamente duas vezes maior que a velocidade do concentrado. Portanto, quando o animal se alimenta com ração e imediatamente após com feno ou capim, ocorre o chamado “efeito vassoura”, isto é, o volumoso empurra o concentrado e diminui o aproveitamento deste alimento, além de aumentar o processo de fermentação, que aumenta o volume abdominal e o risco de cólicas. Por este “efeito vassoura” é que muitas vezes observamos pássaros se alimentando das fezes dos equinos, ou seja, da parcela de grãos provenientes da ração que não foram digeridos.
A energia proveniente da digestão dos alimentos no organismo dos equinos atletas garante a manutenção do peso e da condição corporal, e principalmente garantir a otimização da performance atlética.
A glicose é a principal molécula utilizada para a produção de energia no organismo e pode seguir duas rotas metabólicas diferentes. Na presença de oxigênio (trabalho aeróbio: baixa a média intensidade e longa duração) a glicose gera muito mais ENERGIA. Na ausência de oxigênio (trabalho anaeróbio: alta intensidade e curta duração) a quantidade de energia produzida é muito menor.
As principais fontes de energia nos alimentos são: AMIDO, PROTEÍNA, GORDURA E FIBRA.
Os equinos têm dificuldade de digerir os carboidratos presentes no AMIDO. Isto ocorre porque a maior parte do amido é composta por amilopectina (Tabela 1). Entretanto, somente a amilose é aproveitada pelo organismo pela ação da enzima ?-amilase.
Cereal | Amilose (%) | Amilopecticna % |
Milho | 21 – 29 | 71 – 79 |
Trigo | 19 – 24 | 76 – 81 |
Arroz | 16 | 84 |
Além disso, quando comparado as outras espécies domésticas, os cavalos possuem uma concentração de ?-amilase muito baixa (Tabela 2).
Atividade de µ-amilase | |
Unidades de s/g de tecido/minuto | |
Equino Recém-nascido | 0,56 |
Equino Adulto | 3,42 |
Coelho | 13,53 |
Cachorro | 55,5 |
Portanto, quando fornecemos uma dieta com quantidades elevadas de amido (Ex: milho, trigo), podemos superar a capacidade de digestão do intestino delgado, ocasionando excesso de formação de gás, cólicas, diarréias e até laminites. Tudo isso provocado pelo excesso de carboidratos no ceco.
O processo de extrusão aumenta consideravelmente a digestibilidade dos nutrientes, reduzindo os riscos de problemas decorrentes (Tabela 3).
Digestibilidade de matéria-prima (%) | |||
Apresentação | Aveia | Milho | Cevada |
Inteiro | 83,50 + 9,50 | 28,93 + 25,03 | X |
Partido | X | 29,90 + 19,80 | X |
Moído | X | 45,60 + 10,60 | X |
Laminado | 85,20 + 19,80 | 55,00 + 12,30 | 21,40 + 11,60 |
Extrusado | X | 90,10 + 4,90 | X |
As proteínas são constituídas de aminoácidos e exercem diversas funções no organismo dos equinos, incluindo a formação dos músculos e podem ser encontradas em quantidades nas forragens e nos alimentos concentrados.
Um cavalo de 500 Kg em atividade física intensa deve receber 1312g de proteína diariamente na dieta total. Como conseguir esta quantidade? Inicialmente deve-se utilizar um feno de boa qualidade, com pelo menos 10% de Proteína Bruta, e uma ração com um nível ideal de 12% de Proteína Bruta para cavalos adultos em manutenção ou esporte. Quanto a potros em crescimento ou éguas prenhes, há maior necessidade de proteína/dia, dependendo da idade do potro, fase da gestação e/ou lactação.
Quanto à utilização de feno alfafa deve-se ter cuidado extra, pois possui em média 20% de Proteína Bruta e quando usada sem critérios pode trazer prejuízos à performance do animal. Isto ocorre porque toda proteína ingerida é processada no fígado e nos rins, e todo excesso de proteína ingerida tem que ser eliminado do organismo na forma de uréia. Portanto, quando se fornece excesso de proteína ocorre uma sobrecarga do fígado e dos rins, além da produção de uma quantidade excessiva de uréia. O mais importante desta questão é que a uréia é tóxica quando presente em altas concentrações na corrente sanguínea e este processo ocorre no longo prazo, ou seja, nem sempre os animais apresentam sinais clínicos evidentes no momento em que são alimentados com excesso de proteína.
Outro fator importante é que níveis altos de proteína têm pouca relação com a melhoria do desempenho atlético ou dos animais, e menos ainda com o aumento da resistência, e pode ainda comprometer o sistema reprodutor.
Uma maneira de aumentar a energia da dieta e melhorar o desempenho dos cavalos atletas é a utilização de óleo de origem vegetal. O sistema digestivo dos equinos tem capacidade de digerir facilmente o óleo, após um período de adaptação. Além disto, o ÓLEO DE LINHAÇA, também presente nos alimentos Royal Horse, possui níveis elevados de ÔMEGA 3, cuja principal função é prevenir o desenvolvimento de doenças articulares e musculares, devido ao seu efeito anti-inflamatório, além de promover um brilho extra na pelagem dos cavalos.
Os equinos são exclusivamente herbívoros, ou seja, alimentam-se de forragens e grãos. Todas as fontes de volumosos, que incluem o capim verde, feno de gramíneas (Ex: coast-cross, tifton) ou feno de leguminosas (Ex: alfafa) são submetidos à digestão no intestino grosso (IG). No IG estão presentes microrganismos vivos que têm a função de fazer a digestão da fibra presente nos capins e fenos e, portanto, prover fonte de energia, proteína, entre outros presentes nestes alimentos ao animal. A perfeita atividade destes microrganismos permite uma maximização da digestão dos alimentos, além de exercer um efeito de barreira biológica impedindo a ação dos microorganismos patogênicos que também estão presentes no tubo digestivo dos equinos.
Os probióticos (Ex: leveduras, lactobacilos) promovem a saúde dos microrganismos presentes no intestino, favorecendo os equinos a ficarem mais resistentes no combate aos microorganismos patogênicos e auxiliando no aproveitamento máximo dos nutrientes presentes nos alimentos.
Alguns fatores podem alterar o equilíbrio da flora intestinal, como por exemplo o fornecimento de uma dieta desequilibrada, o stress causado por mudanças bruscas na alimentação, viagens prolongadas, treinamento intensivo, mudanças no ambiente, fornecimento de água não potável, dentre outros. Em alguns casos severos os desequilíbrios na microbiota cecal podem levar o animal a morte, mas na maioria das vezes acometem os cavalos de uma maneira mais leve, causando uma queda na performance, isto é, queda no desempenho atlético. Os probióticos melhoram a digestão dos alimentos porque mantêm equilíbrio da flora intestinal, melhorando a saúde, reforçando a resistência orgânica e otimizando o desempenho atlético dos equinos
A CREATINA é uma substância ergogênica fisiológica que aumenta a disponibilidade de energia no organismo. Como principais benefícios, podemos citar a melhora no desempenho em cavalos de esporte, aumento de massa muscular, neutralização de ácidos prejudiciais produzidos pelo organismo, dentre outros. O aumento no desempenho dos equinos ocorre porque a creatina pode fornecer energia rapidamente e como consequência retardando o acúmulo de ácido lático e íons de H+. Isto faz com que o animal obtenha recuperação muscular antecipada após a realização de esforço físico. Este mecanismo é também resultado da administração diária do mineral CROMO na forma de QUELATO.
As vitaminas e minerais assumem importância fundamental na nutrição de cavalos atletas, porém este assunto é muito extenso e deve ser tratado separadamente. Segue abaixo uma tabela (Tabela 4) com resumos das principais funções de algumas vitaminas:
GRUPO | FUNÇÃO |
B | Metabolismo energético , Eritropoiese |
E / C | Antioxidante , Proteção Celular, Reprodução |
A | Reprodução, Anexos Córneos, Visão |
D | Calcificação óssea |
Os sais minerais são importantes para diversas reações orgânicas responsáveis pelo equilíbrio do organismo como um todo. Este também é um assunto que deve ser tratado separadamente. A relação Ca:P deve ser de 1,6:1 até 2:1, respectivamente. A relação Zn:Cu deve ser de aproximadamente 3:1. Estes níveis são considerados necessários para evitar a ocorrência de doenças ortopédicas do desenvolvimento em potros, além de prevenir alterações do sistema músculo-esquelético em animais atletas.
Atualmente, o conceito de minerais quelatados vêm ganhando espaço dentro do que classifica-se como nutrição moderna, onde a molécula do mineral é ligada a duas moléculas de aminoácidos com objetivo de aumentar a resistência aos processos digestivos, além de aumentar a absorção dos minerais. Isto ocorre porque as vilosidades intestinais têm tropismo por aminoácidos.
Os cavalos são animais extremamente sensíveis às mudanças de alimentação. Todas as vezes que se instituir uma nova dieta, deve-se fazer uma adaptação lenta e gradual para evitar problemas indesejáveis.
A rotina alimentar deve ser cuidadosamente instituída, ou seja, o fornecimento das refeições deve ser constantemente realizado nos mesmos horários. Ademais, idealmente os equinos não devem passar longos períodos em jejum, para evitar a ocorrência de gastrites ou úlceras. Isto muitas vezes é difícil de ser realizado, pois a rotina dos animais atletas acaba sendo determinada pelas necessidades das competições, além de viagens constantes as quais estes são submetidos.
Dada a realidade dos diferentes esportes equestres, a melhor maneira de evitar problemas é instituir um programa nutricional desenvolvido por um profissional da área, adaptado-se às particularidades de cada local.
Helen Carmignotto é supervisora técnica da Evialis.
Fonte: Alfapress Comunicações
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