Enxertia em cupuaçuzeiros: “garfagem de topo de fenda cheia”, o método mais adequado

A cultura do cupuaçuzeiro vem se consolidando como uma interessante alternativa de produção agrícola na Amazônia


Publicado em: 16/01/2009 às 10:59hs

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A cultura do cupuaçuzeiro vem se consolidando como uma interessante alternativa de produção agrícola na Amazônia devido à boa adequação do seu cultivo na região e à excelência das características organolépticas de sua polpa e semente, que encontram muito boa aplicação na culinária regional. O cupuaçu está presente em inúmeras iguarias tradicionais, como sucos, doces, bolos, cremes, sorvetes, e o cupulate, um produto semelhante ao chocolate, feito com as sementes. Todavia, a expansão do cultivo do cupuaçuzeiro em bases sólidas na região demanda tecnologias que aumentem a produtividade da cultura e, assim, remunerem melhor o produtor rural envolvido com o seu cultivo.

 

Dentre as tecnologias que buscam racionalizar o cultivo do cupuaçuzeiro está a enxertia, que visa, principalmente, propagar e difundir os materiais botânicos da espécie (acessos) identificados e selecionados como superiores, com características de maior produtividade e tolerância aos problemas fitossanitários que afetam a cultura na região. Neste contexto, a enxertia pelo método de garfagem de topo de fenda cheia (de ponteiro ou garfo), se mostra a mais conveniente para ser usada em cupuaçuzeiros por causa das características peculiares da espécie, que apresenta, por exemplo, rápido crescimento da raiz pivotante.

 

Um outro método de enxertia, o de gema, placa ou escudo (forket verdadeiro ou forket modificado - de janela aberta ou janela fechada, respectivamente), simples de ser processado e que apresenta elevado índice de "pegamento" (sucesso da enxertia), em torno de 90% (quando bem feito), exige mudas bem desenvolvidas, com mais de 1 ano de idade, isso porque requer para sua aplicação plantas com 1 cm de diâmetro do caule a 30 cm do coleto, o que inviabiliza sua prática, pois, com este porte, as mudas de cupuaçu já estarão com as raízes completamente enoveladas ao fundo das sacolas convencionais (35 cm x 20 cm) usadas na produção de mudas da espécie. A alternativa para produção de mudas perfeitas para a prática da enxertia por este método é a utilização de recipientes (sacolas) muito grandes, o que se torna contraproducente pelo extraordinário acréscimo de volume de substrato, preço dos recipientes e mão-de-obra necessários para produzí-las, o que aumenta significativamente o custo e inviabiliza o sistema de produção de mudas enxertadas de cupuaçu em larga escala.

 

Já a produção de mudas de cupuaçu enxertadas pelo método de garfagem de topo não requer mudas tão desenvolvidas. Plantas com seis a oito meses de idade se mostram bem adequadas para a prática deste tipo de enxertia, condição esta que se mostra muito conveniente, pois a safra do cupuaçu se dá no início do ano, ocasião em que as sementes são coletadas, postas a germinar e ensacoladas. Por volta de agosto e setembro do mesmo ano as mudas podem ser enxertadas, para três a quatro meses depois serem levadas ao campo para o plantio definitivo, em ocasião bem propícia e oportuna, já no início do inverno amazônico (período de chuvas), o que garante uma implantação muito boa da cultura. Nestas condições, os cupuaçuzeiros apresentam, via de regra, quando plantados nesta época certa, um desenvolvimento extraordinário no campo. Ademais, o método de enxertia por garfagem de topo não exige que as partes a serem associadas na prática, “cavalo” e “cavaleiro”, estejam “soltando casca”, que é condição “sine qua non” para a prática da enxertia de gema ou placa ou escudo, o que só ocorre em determinadas épocas do ano. A enxertia por garfagem, portanto, não apresenta essa limitação, podendo, em tese, ser praticada durante todo o ano, uma vez bem atendidos todos os outros fatores de produção de mudas, principalmente a irrigação.

 

George Duarte Ribeiro

Eng. Agrônomo, Pesquisador da Área de Fruticultura Tropical da Embrapa Rondônia.

Fonte: Embrapa Rondônia

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