Publicado em: 01/03/2018 às 00:00hs
A inovação tecnológica está transformando todos os setores da economia e da sociedade. Da mídia às finanças, passando pela saúde, educação e varejo, não há atividade que escape das mudanças provocadas pela tecnologia. Depois de vários outros mercados serem sacodidos pela transformação digital, agora é a vez do campo. A agricultura está entrando numa nova etapa. Nessa fase, os algoritmos chegam às fazendas para elevar a produtividade a níveis inimagináveis há até alguns anos.
Na revolução digital agrícola em curso, a Inteligência Artificial (AI) promete ocupar papel de destaque, com impacto em toda a cadeia do agronegócio. Mas como os robôs e sistemas inteligentes se inserem na agricultura? Que parte desse admirável mundo novo já é realidade e o que os cérebros eletrônicos devem fazer pelos empresários rurais num futuro não muito distante?
Como sempre acontece quando surge alguma inovação fantástica, há muito entusiasmo e grande expectativa no mercado. Por isso, um bom ponto de partida é entender do que estamos falando e delimitar o terreno. A Inteligência Artificial é um ramo da ciência da computação que se propõe a elaborar máquinas e sistemas inteligentes, ou seja, que sejam capazes de raciocinar, aprender, tomar decisões e resolver problemas.
O termo foi cunhado em 1955 por John McCarthy, professor de matemática em Dartmouth, que organizou uma conferência sobre o tema que hoje é considerada um marco pelos estudiosos do assunto. Muita água rolou de lá até agora. A AI tem sido alvo de pesquisas durante todo esse tempo, mas só mais recentemente ela chegou até nós por meio de serviços de uma série de empresas, como as de comércio eletrônico, setor aéreo, bancos e streaming de vídeo - as recomendações de filmes na Netflix, por exemplo, trabalham com AI. O Google e a Amazon também.
Da Netflix ao campo
E como a agricultura entra nessa história? O primeiro passo é observar que a cada dia a tecnologia avança um talhão na busca por sistemas que permitam trabalhar e tomar decisões por conta própria. Por conta disso, o nível de automação do agronegócio brasileiro é expressivo. Hoje, muitas usinas e fazendas já estão conectadas por meio de redes instaladas no campo. Com isso, das operações mecanizadas até a quantidade de chuva que cai em cada talhão, tudo pode ser monitorado em tempo real. Já é possível até mesmo ter toda a rastreabilidade da produção, sem nenhuma interferência humana. É cada vez mais comum encontrarmos operações agrícolas com centrais de monitoramento parecidas com as que vemos em filmes. O objetivo é gerir a operação em tempo real, antevendo desvios e reagindo rapidamente, porém, ao mesmo um tempo, quantidades massivas de dados estão sendo geradas.
Na área de máquinas agrícolas, já existem protótipos de tratores que funcionam sem a necessidade de um operador de carne e osso. O sistema de autodireção (telemática) já estão disponíveis nas máquinas agrícolas atuais, mas as tecnologias autônomas levarão esses recursos a um nível muito superior. Com o uso de Inteligência Artificial, esses veículos poderão, sozinhos, decidir parar o que estiverem fazendo caso comece a chover e mudar de rota, indo para uma área seca. Todo esse processo poderá ser acompanhado remotamente pelo produtor rural ou um funcionário por meio de um smartphone.
Aqui e agora
Um dos recursos de Inteligência Artificial que já podem ser usados no agronegócio é a Alice. Estamos falando de um assistente virtual com quem o agricultor pode conversar e tirar dúvidas sobre o desempenho de qualquer processo no campo. A Alice utiliza como suporte o Watson, da IBM, sistema baseado em redes neurais e numa tecnologia de aprendizagem chamada deep learning.
A Alice também está sendo treinada para analisar grandes massas de dados, visto que é capaz de detectar padrões que escapam ao olho humano. O objetivo é melhorar o rendimento das operações e da produção, indicar quais seriam as melhores práticas, comparar, alertar e ajudar a programar as atividades da forma mais eficiente possível, sempre em tempo real. Tudo isso ainda neste ano
Todo esse mundo de inovação já está de alguma maneira presente no agronegócio, em maior ou menor grau. Ainda que os avanços dos últimos anos tenham sido notáveis, no entanto, a verdade é que as maiores oportunidades ainda estão por vir, como bem mostraram Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee em artigo publicado na Harvard Business Review. Segundo os dois autores, o gargalo hoje está no gerenciamento e na implementação dos sistemas de Inteligência Artificial na operação das empresas. E nas fazendas? Também. Afinal, estamos falando de uma face novíssima da inovação, com reflexos ainda difíceis de calcular.
Uma coisa é certa: o que vamos ver nos próximos anos é o aperfeiçoamento dessas tecnologias a um ritmo extremamente veloz, e isso vai exigir dos players da agricultura digital investimentos elevados em tecnologia, inovação e preparação de equipes, além da capacidade de antecipar cenários e agilidade para se adaptar a eles. Não é um jogo para qualquer um. O ponto importante é que o Brasil, como potência agrícola e histórico de inovação no agronegócio, possui todas as credenciais para ser protagonista dessa nova fronteira do mercado AgTech.
• Britaldo Hernandez Fernandez, presidente, CTO e sócio-fundador da Solinftec, empresa brasileira de agricultura digital que recebeu aporte do TPG, um dos maiores fundos globais de investimento
Fonte: FirstCom Comunicação
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