Publicado em: 20/05/2009 às 10:40hs
Como resultado de operações desastrosas da Sadia na área financeira e da natural estratégia de reação frente às crises econômicas consolida-se uma das mais esperadas fusões de 2009 (com características claras de aquisição da Sadia pela Perdigão) no setor de alimentos do país.
Nacionalmente, depois da AmBev com a Interbrew e dos Bancos Itaú com o Unibanco, a fusão entre a Sadia e a Perdigão tem causado frisson nas bolsas e no mercado de alimentos desde que a possível mudança na relação acionária entre as empresas foi ventilada pela mídia.
Tidos como concorrentes ferrenhos essa transação patrocinada de um lado pelas famílias Fontana e Furlan da Sadia e de outro pela Perdigão, controlada por fundos de pensão estatais (entre elas a Previ), parecia uma composição impensável há pouco tempo.
Para entendermos melhor o processo, a situação periclitante da Sadia se iniciou em função dos prejuízos no mercado futuro de câmbio em setembro de 2008 que culminou com um passivo da ordem de R$ 7 bilhões. Posteriormente, as famílias Fontana e Furlan, controladoras da Sadia, iniciaram uma busca infrutífera de novos sócios ou compradores. Por ironia e ainda graças à articulação do governo, somente encontraram o seu maior competidor, a Perdigão.
Devemos lembrar que a operação de fusão, que já era para ter sido anunciada na sexta-feira (15/05), começou a surgir ainda em 2001, quando as duas empresas lançaram a BRF International, com o objetivo de melhorar a competitividade de ambas na exportação de frangos, principalmente para alguns países da Europa, Ásia e Oriente Médio. Naquela oportunidade também foi criada a Brasil Foods, nome resultante da fusão.
Outro fato relevante é que não envolve dinheiro, pelo menos não do ponto de vista objetivo, apenas troca de ações por equivalência patrimonial. Desse modo e considerando o menor nível de endividamento da Perdigão, esta se torna a real controladora da Sadia.
Portanto, estamos prestes a presenciar a criação de um grande oligopólio no setor alimentício. É importante que pensemos de modo a entender que estas estratégias normalmente tendem a ser benéficas para os acionistas e gerar algum tipo de perda para os seus concorrentes e sempre uma incógnita para nós consumidores.
A tensão e ansiedade pela concretização da operação são justificadas. Com base nos dados de market share da Perdigão e Sadia e da pesquisa conjuntural da ABIA – Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação pode-se perceber a dimensão da importância da nova empresa, devendo ser responsável por quase 90% das massas prontas, 70% das pizzas, mais de 65% das margarinas, 60% da oferta de carne industrializada de frango e suíno e mais de 30% do abate de aves.
O mercado especula que a sinergia esperada é da ordem de R$ 2,2 bilhões e traria um aumento de 23,4% no valor de mercado das duas empresas juntas. A Brasil Foods caminha para se consolidar como a 4ª maior empresa aberta do país, com R$ 22 bilhões de faturamento anual, atrás apenas de Petrobras, Vale e Oi, o que dá uma dimensão aproximada do potencial impacto que uma operação dessa natureza pode gerar no mercado.
As conseqüências esperadas do ponto de vista de atendimento se restringem a maior agilidade e eficiência na distribuição dos produtos, por conta da integração logística. Por outro lado, a pressão sobre os fornecedores deverá aumentar motivada pela ampliação do poder de escala da empresa. O mix de oferta de produtos também deverá crescer beneficiando o poder de escolha do consumidor.
Alguns analistas em fusões e aquisições têm afirmado que o impacto para o consumidor tende a ser benéfico apoiado na expectativa dos amplos ganhos de eficiência logística, de equipamentos e dos recursos humanos.
Talvez a maior ameaça seja realmente para os concorrentes que tem agora um player difícil de enfrentar. A estratégia natural para isso deverá ser também alguma fusão ou aquisição estratégica. A reação é inevitável.
Nesse novo arranjo estratégico, o segundo colocado no fornecimento de frangos e produtos de carne suína deverá pertencer ao Marfrig que já anunciou na semana passada negociações com o Bertin, respectivamente o terceiro colocado no setor. No caso da carne bovina por sua vez, as duas estão atrás apenas da JBS-Friboi. Muito ainda está por vir. Vamos aguardar.
Eleri Hamer - Diretor de Relações com o Mercado IBG - Instituto Business Group
Fonte: Eleri Hamer
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