Publicado em: 28/04/2025 às 11:20hs
Cenário econômico chinês pressiona demanda por açúcar
A China vem enfrentando desafios econômicos persistentes, especialmente no setor imobiliário, caracterizados por deflação e altos níveis de endividamento. Para mitigar os efeitos dessa conjuntura, o governo chinês tem recorrido a estímulos fiscais na tentativa de impulsionar a atividade econômica. A recente intensificação da guerra comercial com os Estados Unidos tende a agravar esse cenário e levanta preocupações adicionais quanto à demanda global por açúcar, sobretudo no que diz respeito às importações chinesas.
De acordo com relatório da Hedgepoint Global Markets, mesmo com fundamentos que sinalizam menor necessidade de compras externas, como a produção doméstica recorde, a China não aproveitou oportunidades recentes de arbitragem em regiões não produtoras, o que poderia ter estimulado aquisições.
“Historicamente, mesmo com a arbitragem fechada nas regiões produtoras, a abertura em regiões não produtoras costumava impulsionar as importações. Embora isso não significasse aumento fora das expectativas, era razoável esperar alguma movimentação diante dos preços baixos do açúcar bruto”, analisa Lívea Coda, coordenadora de Inteligência de Mercado da Hedgepoint.
A ausência dessas compras, segundo ela, indica que a demanda está de fato enfraquecida ou, ao menos, temporariamente contida, à espera da nova safra brasileira. Como resultado, os preços do açúcar permanecem próximos de 18 centavos de dólar por libra-peso, refletindo a leitura do mercado diante das variáveis macroeconômicas atuais.
Apesar do cenário internacional adverso, a Hedgepoint avalia que as perspectivas da safra brasileira continuam positivas. No entanto, uma leve revisão para baixo foi feita nas estimativas de produção. A precipitação abaixo da média nos meses de fevereiro e março afetou a umidade do solo, que atingiu seu nível mais baixo em 30 anos.
A empresa utilizou o Índice de Saúde da Vegetação (VHI), com base em dados do NOAA, para avaliar o impacto nas lavouras de cana-de-açúcar do Centro-Sul. Apesar do estresse hídrico nos primeiros meses do ano, chuvas mais regulares em março e um abril próximo da média permitiram certa recuperação da vegetação.
De acordo com os dados, o VHI não caiu abaixo do nível crítico de 40, o que afasta, por ora, preocupações maiores com estresse hídrico severo.
A atualização do modelo da Hedgepoint, que incorpora dados de precipitação, VHI, temperatura e umidade do solo, aponta para uma redução de 1,1% no TCH (tonelada de cana por hectare). Contudo, ao contrário do que se previa, houve um ligeiro aumento na área plantada, segundo relatos das usinas.
Com isso, a estimativa de moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul foi revisada de 630 milhões de toneladas para 621,2 milhões de toneladas.
Mesmo com ajustes na moagem, a Hedgepoint manteve inalteradas suas projeções para o mix de açúcar (51%) e para o ATR (Açúcares Totais Recuperáveis), estimado em 141,2 kg/t.
A produção total de açúcar, no entanto, foi reduzida de 43,3 milhões para 42,6 milhões de toneladas, resultando em uma queda de quase 700 mil toneladas. Isso implicou em uma leve redução no superávit dos fluxos comerciais do setor.
“O Brasil continua sendo um importante fator de pressão baixista para os preços internacionais do açúcar, contribuindo para a manutenção da cotação abaixo dos 18 centavos de dólar por libra-peso”, destaca Lívea Coda.
Apesar das expectativas positivas, a analista aponta que os primeiros dados da safra 2025/2026, divulgados pela UNICA, podem indicar uma produtividade menor. “Já se espera que a primeira parcela da safra apresente desempenho inferior, pois é composta majoritariamente por cana que sofreu os maiores impactos da seca no ciclo anterior”, afirma Coda.
Fonte: Portal do Agronegócio
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