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Clima, Índia e China movimentam mercado global de açúcar

O preço do açúcar bruto apresentou uma leve recuperação devido às expectativas de que o governo indiano possa priorizar a retomada do programa de etanol em vez de permitir as exportações.


Publicado em: 18/04/2024 às 19:20hs

Clima, Índia e China movimentam mercado global de açúcar

O governo indiano está considerando desviar mais 800kt de açúcar para o etanol ainda na temporada 23/24, reduzindo a disponibilidade potencial de fluxo comercial da Índia.

Apesar do possível desvio de açúcar e da redução dos estoques projetados, a perspectiva para a safra 24/25 da Índia continua otimista, com as condições climáticas típicas favorecendo um mercado de baixa.

As principais regiões produtoras de açúcar do Brasil, que estão se recuperando da seca, vêm apresentando melhores níveis de precipitação, o que deve beneficiar o desenvolvimento da cana de meio e final de safra, contribuindo para a continuidade do sentimento de baixa.

De acordo com Lívea Coda, analista de Açúcar e Etanol da Hedgepoint Global Markets, a semana passada foi marcada por uma leve recuperação dos preços do açúcar bruto, depois que o mercado percebeu que o governo indiano está mais inclinado a retomar o programa de etanol do que a permitir qualquer exportação. 

“Essa noção está de acordo com o que discutimos em nosso relatório anterior, só que agora ela é apoiada pelo fato de que o governo está, de fato, considerando um desvio adicional de 800kt de açúcar ainda em 23/24”, diz. 

Como resultado, não deve haver nenhuma disponibilidade adicional ao fluxo comercial vindo do país, ao mesmo tempo em que os estoques possivelmente terminarão o ano em um nível um pouco mais baixo, mas ainda superior ao das últimas duas temporadas. 

“Em nossa opinião, o desvio de 800kt a mais para o açúcar garantiria cerca de 31,1Mt do adoçante e, portanto, um estoque final de quase 6Mt. Devemos lembrar que o movimento de preços observado por causa desses rumores não significou nenhuma mudança nos fundamentos, é apenas uma discussão sobre onde colocar essa disponibilidade ‘extra’”, observa.

A discussão também não altera o otimismo com relação à safra 24/25 do país. Apesar de um possível desvio de 800kt para o etanol e de estoques ligeiramente menores do que os projetados anteriormente, as condições climáticas mais típicas favorecem uma perspectiva de baixa.

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“Espera-se que a Índia tenha uma monção "normal" este ano, de acordo com a previsão meteorológica realizada pela agência privada Skymet e compartilhada na última terça-feira. Essa previsão nos permite esperar uma melhora na produtividade após um 2023 desafiador”, pontua. 

Em 2023, a Índia recebeu precipitações dispersas e abaixo do normal que afetaram negativamente a produtividade agrícola em várias regiões. De acordo com a agência, espera-se que as chuvas sejam 102% da média durante a principal janela de desenvolvimento da cana: junho e setembro. 

“Portanto, a Índia pode voltar ao jogo das exportações! Mas uma nota de cautela: antes de exportar qualquer volume, é muito provável que o país retome totalmente o programa de etanol, desviando cerca de 5,5 Mt de açúcar para a produção de biocombustível. Isso permitiria que a Índia contribuísse com até 1,2 Mt ao fluxo de comércio internacional em 24/25 - supondo que a produtividade retorne à média de três anos”, pondera.

“Ainda sobre o clima, as principais áreas produtoras de açúcar do Brasil, que receberam precipitação mínima de dezembro a fevereiro, estão se recuperando da seca. Muitas voltaram à faixa histórica e outras se aproximaram de níveis médios. Embora isso não apague os danos causados durante o período de entressafra, a cana do meio e final da safra se beneficia deste clima. Isso significa que o Brasil também adiciona à tendência de baixa”, acredita.

E segue: “Além disso, a temporada 23/24 do Brasil está oficialmente encerrada! Foi uma safra recorde, com uma moagem de 654,4Mt de cana, gerando 42,4Mt de açúcar graças a um mix de açúcar mais alto, de 48,87%. O Centro-Sul provou ser um participante essencial, com uma capacidade crescente devido a mais investimentos no setor”, ressalta.

No âmbito das exportações, foram embarcadas 34,3 Mt em 23/24, segundo a SECEX, facilitando os fluxos comerciais e evitando que os preços disparassem. Estabelecido como um dos fornecedores mais relevantes, todos os olhos estão voltados para a safra 24/25 do CS.

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Com relação ao lado da demanda, os preços atingiram 20,5c/lb. Em teoria, isso significa que as regiões não produtoras da China se sentiram a vontade para comprar açúcar. 

“No entanto, a produção do adoçante está avançando bem no país, já 10% maior em relação ao ano anterior, com aproximadamente 9,6 Mt. Portanto, pode-se esperar que, com maior disponibilidade doméstica, o prêmio local seja menor e a paridade de importação não tenha a mesma força. Para entender se essa tendência é verdadeira, precisamos aguardar e analisar as importações de abril e maio”, considera.

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O mercado viu uma modesta recuperação nos preços do açúcar bruto, já que o governo indiano pode retomar o programa de etanol em vez de permitir as exportações, apoiado por discussões sobre o desvio de mais 800kt de açúcar na temporada 23/24. 

Apesar da possível redução dos estoques, o otimismo permanece para a safra 24/25 da Índia, devido à previsão de condições normais de monções, o que pode ajudar na recuperação da produção após um 2023 desafiador e permitir as exportações (se o governo consentir). As regiões produtoras de açúcar do Brasil estão se recuperando da seca, o que corrobora o atual sentimento de baixa do mercado.

Quanto a um dos principais suportes altistas, a paridade de importação da China, pode-se imaginar que ela deva enfraquecer, já que a produção está mostrando um ritmo excelente. Assim, o apetite de importação do país pode ser reduzido no curto prazo.

Fonte: Hedgepoint Global Markets 

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