Publicado em: 11/03/2024 às 19:20hs
Maior produtor de açúcar do mundo, o Brasil foi responsável por quase 50% do comércio global no ano passado, já que o clima desfavorável devido ao padrão climático El Niño reduziu a produção e as exportações dos concorrentes Índia e Tailândia.
Os preços do açúcar caíram em relação ao pico de 12 anos atingido em novembro, mas ainda são historicamente altos. As usinas brasileiras estão correndo para concluir expansões ou novas plantas para aumentar sua capacidade de produção de açúcar, disseram os analistas.
“Todas as usinas que podem fazer isso (aumentar a capacidade de produção de açúcar) estão fazendo”, disse Julio Maria Borges, sócio-diretor da JOB Economia e Planejamento, uma empresa de consultoria.
“A diferença de retorno financeiro entre o açúcar e o etanol é simplesmente muito grande.”
Os preços do açúcar estão atualmente 60% mais altos do que os valores equivalentes para o etanol brasileiro, disse a corretora e fornecedora de serviços de cadeia de suprimentos Czarnikow em um relatório esta semana. Essa é a maior diferença de preços em 15 anos.
Entre alguns dos maiores investimentos em açúcar, a usina Jalles Machado aportou 170 milhões de reais no Estado de Minas Gerais, a Cerradinho Bioenergia investiu 289 milhões de reais na fábrica de Mato Grosso do Sul e Coruripe colocou 200 milhões de reais em uma unidade, também em Minas Gerais.
A francesa Tereos, que tem sete usinas no Brasil, planeja destinar 70% de sua cana-de-açúcar para a produção de açúcar e 30% para o etanol. Isso representa um aumento em relação ao já alto nível de 67% da última temporada.
Muitas outras usinas estão fazendo ajustes menores, otimizando as instalações de açúcar. A alocação de cana para a produção de açúcar — e não para a produção de etanol — em todo o Brasil no ano passado foi a maior em 12 anos, com 49%. A maioria dos analistas espera que seja um recorde na nova temporada.
Apesar do aumento da capacidade de produção de açúcar, é improvável que o Brasil produza mais do adoçante na nova temporada do que em 2023/24.
“Tivemos (em 23/24) um clima que era como um laboratório, simplesmente perfeito”, disse Borges.
“Choveu bem na hora certa e depois estava seco para a colheita. Não estamos vendo isso agora.”
A precipitação acumulada na principal área açucareira de Ribeirão Preto, no Brasil, este ano, por exemplo, está 50% abaixo do normal, de acordo com a modelagem climática GFS.
A Tereos espera que a produção de cana-de-açúcar do centro-sul do Brasil caia para menos de 600 milhões de toneladas em 2024/25, de 660 milhões de toneladas em 2023/24.
A corretora StoneX, por outro lado, ainda projeta uma produção recorde de açúcar na nova temporada de 43 milhões de toneladas, dizendo que o aumento da alocação de cana para a produção de açúcar, em detrimento do etanol, compensará um volume menor de cana-de-açúcar.
A StoneX estima que a produção de etanol de cana-de-açúcar cairá em quase 3 bilhões de litros em 2024/25, ou 10,4%, para 24,5 bilhões de litros. Por outro lado, a produção de etanol à base de milho crescerá 16%, chegando a 7,2 bilhões de litros.
“Há uma mudança no setor”, disse o analista de açúcar e etanol da StoneX, Filipi Cardoso. “O etanol de milho é o melhor custo benefício, então as usinas de cana estão optando pelo açúcar.”
A produção de milho tem se expandido rapidamente no Brasil, que se tornou o maior exportador de milho do mundo no ano passado. Isso também incentivou a expansão da produção de etanol à base do cereal. Anteriormente, o etanol no Brasil era produzido a partir da cana-de-açúcar, e não do etanol.
“A produção brasileira de etanol de milho era inferior a 1 bilhão de litros há cinco anos e, nesta safra, pode chegar a 5 bilhões de litros e a 10 bilhões nos próximos 5 a 6 anos”, disseram os analistas do Citi.
O Brasil é um dos maiores consumidores mundiais de etanol como combustível para transporte.
O biocombustível foi responsável por 46% do uso de combustível em veículos leves no Brasil em 2023, ou 28,5 bilhões de litros.
A rápida expansão da produção de etanol de milho, no entanto, limitou os preços do biocombustível no Brasil, outro fator que incentivou as usinas a se concentrarem no açúcar.
Fonte: Reuters
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