Saúde Animal

Erradicação do Mycoplasma hyopneumoniae: um salto para competitividade e sustentabilidade na suinocultura brasileira

Estratégias de controle da doença bacteriana podem reduzir custos, aumentar a eficiência e impulsionar o posicionamento do Brasil no mercado global


Publicado em: 03/12/2024 às 08:00hs

Erradicação do Mycoplasma hyopneumoniae: um salto para competitividade e sustentabilidade na suinocultura brasileira

O Brasil destaca-se no cenário agropecuário mundial como o quarto maior produtor e exportador de carne suína. Livre de doenças virais de grande impacto, como a peste suína africana e a síndrome respiratória e reprodutiva suína (PRRS), a suinocultura nacional possui vantagens competitivas importantes. Contudo, ainda enfrenta desafios significativos, como a presença de doenças bacterianas que comprometem a lucratividade e a eficiência produtiva, entre elas, a pneumonia enzoótica, causada pelo Mycoplasma hyopneumoniae (MH).

De acordo com Heloiza Irtes, gerente regional de Serviços Veterinários para a América Latina da Topigs Norsvin, a pneumonia enzoótica representa um dos maiores desafios econômicos para os produtores. "O Mycoplasma hyopneumoniae é uma das principais causas de perdas na produção, comprometendo o ganho de peso dos animais e aumentando o tempo necessário para o abate", explica. Para mitigar os impactos, os produtores precisam investir constantemente em tratamentos antimicrobianos, o que eleva os custos de produção e reduz a eficiência alimentar.

Além das perdas financeiras, a doença afeta diretamente a sustentabilidade ambiental da produção. Heloiza ressalta que a redução na eficiência produtiva resulta em maior emissão de CO₂ e maior consumo de recursos, como água, por quilo de carne produzida. "Isso aumenta a pressão sobre a sustentabilidade do setor, especialmente em momentos de instabilidade nos custos de insumos e nas demandas do mercado", complementa.

Os desafios impostos pela pneumonia enzoótica

Estudos apontam que entre 52% e 76% dos suínos abatidos no Brasil apresentam lesões pulmonares características da infecção por Mycoplasma hyopneumoniae. Essas lesões acarretam perdas significativas aos produtores, como aumento nos custos operacionais e redução na eficiência do ganho de peso dos animais.

Nos Estados Unidos, estimativas sugerem que os prejuízos variam de US$ 2,5 a US$ 4,4 por animal, dependendo da gravidade da infecção, com custos adicionais de até US$ 1,2 por suíno para tratamentos antimicrobianos. Heloiza destaca que, ao serem somados em ciclos de produção envolvendo milhares de animais, esses valores tornam-se expressivos e comprometem a competitividade dos produtores brasileiros.

Erradicação como solução sustentável e competitiva

A experiência internacional demonstra que a erradicação do Mycoplasma hyopneumoniae é uma estratégia viável e altamente vantajosa. Nos Estados Unidos e na Europa, programas de erradicação alcançam índices de sucesso entre 58% e 83%, melhorando a produtividade e reduzindo os custos associados à doença. Empresas como Smithfield Foods e Seaboard Foods já implementaram iniciativas semelhantes em regiões de alta densidade de produção suína, utilizando medidas rigorosas de biosseguridade e estratégias como o fechamento temporário de granjas para controle sanitário.

O processo de erradicação envolve a identificação de focos de infecção, vacinação, tratamento com antimicrobianos e uma desinfecção completa das instalações. Embora o programa demande investimentos significativos ao longo de cerca de oito meses, os benefícios superam os custos, garantindo maior eficiência e competitividade no longo prazo. "Esses custos são um investimento no futuro da suinocultura brasileira", reforça Heloiza.

Benefícios da erradicação no Brasil

A adoção de programas de erradicação pode colocar o Brasil em uma posição estratégica no mercado global. Granjas livres de Mycoplasma não apenas economizam em tratamentos médicos, mas também garantem uma produção mais sustentável e alinhada às exigências de mercados internacionais.

Além disso, a redução no uso de antimicrobianos e na pegada ambiental fortalece a imagem do Brasil como líder em práticas agropecuárias responsáveis. Contudo, o sucesso da estratégia depende de protocolos de biosseguridade robustos, incluindo controle rigoroso no transporte, manejo de animais e monitoramento das condições de acesso às granjas.

"Superar esses desafios é possível com foco e planejamento. A erradicação do Mycoplasma hyopneumoniae não é apenas uma alternativa, mas um investimento estratégico essencial para o futuro da suinocultura brasileira", conclui Heloiza.

Fonte: Portal do Agronegócio

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