Saúde Animal

Efeito prebiótico da lactose em função da concentração de proteína bruta da dieta

Na suinocultura, o período de creche é considerado crítico, e comumente associado à diminuição do crescimento e aumento de desordens intestinais


Publicado em: 20/05/2022 às 08:50hs

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Na suinocultura, o período de creche é considerado crítico, e comumente associado à diminuição do crescimento e aumento de desordens intestinais, em virtude de diversos fatores estressantes que ocorrem simultaneamente, relacionados à separação dos leitões da mãe, à mudança de ambiente, de hierarquia, à mudança brusca na alimentação e nos padrões de secreções enzimáticas (Boudry et al., 2004). 

Por vezes, dietas práticas para leitões pós-desmame são formuladas com alta concentração de proteína bruta devido a variação de preço dos aminoácidos livres, levando ao conteúdo de proteína ser superior à capacidade digestiva do animal podendo proporcionar substrato fermentativo para uma gama de bactérias consideradas potencialmente patogênicas no intestino grosso. Estas bactérias fermentam a proteína residual que chega até o cólon, formando diversos produtos como sulfato de hidrogênio, diaminas, amônia, entre outros que causam efeitos negativos no desenvolvimento da mucosa, prejudica a integridade da membrana intestinal, podendo desencadear respostas imunológicas, aumentar a incidência de diarreia, diminuir a capacidade digestiva e absortiva, além de alterar o perfil da microbiota (Blachier et al., 2007; Davila et al., 2013). O padrão de colonização microbiana durante esta fase, pode proporcionar efeitos duradouros e determinar a composição da microbiota residente intestinal futura, influenciando o desempenho zootécnico dos animais nas fases subsequentes (Starke et al., 2013). 

Assim, para diminuir as perdas produtivas causadas pela fermentação proteica, é aconselhável a redução do teor de proteína na dieta, e quando isso não é possível, a utilização de lactose pode reduzir os efeitos negativos deste processo. 

A atividade da enzima lactase decresce rapidamente após o desmame e continua decrescendo gradualmente, desta forma, o fornecimento de lactose acima da capacidade digestiva dos leitões gera lactose residual, que pode ser fermentada por bactérias no intestino grosso (De Vos et al., 2014; Pieper et al., 2016). 

Além do seu efeito palatabilizante a lactose é considerada um prebiótico, uma vez que a fração que escapa da digestão no intestino delgado torna-se substrato para a proliferação microbiana no intestino grosso, utilizada preferencialmente pelos microrganismos acidófilos como lactobacillus spp. e bifidobacterium que são produtores de ácido lático e de ácidos graxos voláteis (AGV’s) que causa o aumento da disponibilidade de energia para as células intestinais, aumenta a acidificação do trato gastrintestinal, melhorando a ação das enzimas digestivas e promovendo o equilíbrio da microbiota intestinal por meio da inibição do desenvolvimento de bactérias patogênicas, além de proporcionar maior integridade e funcionalidade as vilosidades intestinais (O’Connel et al., 2005; Aureli et al., 2011). 

Neste sentido, a fim de avaliar a efetividade do uso da lactose como prebiótico, Valente Júnior et al. (2021) avaliaram 3 níveis de lactose (8,0%; 12,0% e 16,0%) em dietas com 2 níveis de proteína bruta (PB) (20,0% e 24,0%) livres de antibiótico, para leitões nos primeiros 14 dias pós-desmame. Os autores relataram que a inclusão de 12,0% ou 16,0% de lactose melhorou o desempenho dos leitões independentemente do nível proteico da ração. 

Além disso, nas dietas com 24,0% de PB, os níveis de 12,0% e 16,0% de lactose foram os que promoveram redução na ativação do sistema imune, na permeabilidade intestinal e aumento na relação entre altura de vilosidade e profundidade de cripta no duodeno e no íleo, indicando maior capacidade digestiva e absortiva nestes animais em relação aos que receberam níveis menores de lactose, demostrando que o efeito prebiótico da lactose é ainda mais evidente em dietas com elevada concentração de PB. 

Com objetivo semelhante, Soares et al. (2020) também avaliaram 3 níveis de lactose (8,0%; 12,0% e 16,0%) em dietas com 2 níveis de proteína bruta (PB) (20,0% e 24,0%), mas, contendo antibiótico e oxido de zinco. Os autores não observaram efeito dos níveis de lactose no desempenho, mas, nas dietas de 24,0% de PB, observaram que o nível de 12,0% e 16,0% de lactose promoveram aumento na expressão gênica das proteínas de junções oclusivas (Tight juntions) além de melhora na relação altura de vilosidade e profundidade de cripta no jejuno e no íleo, indicando que 12,0% de lactose é suficiente para promover efeito prebiótico, e além disso, a magnitude do efeito da lactose pode variar de acordo com a presença de antimicrobianos na ração. 

De forma geral, a suplementação com lactose pode atenuar o efeito negativo de dietas com altas concentrações de proteína bruta e seu efeito prebiótico é mais evidente nas primeiras duas semanas pós-desmame. 

Referências Bibliográficas 

  • AURELI, P. et al. Probiotics and health: an evidence-based review. Pharmacological research, v. 63, n. 5, p. 366-376, 2011. 
  • BLACHIER, F. et al. Effects of amino acid-derived luminal metabolites on the colonic epithelium and physiopathological consequences. Amino acids, v. 33, n. 4, p. 547-562, 2007. 
  • BOUDRY, G. et al. Weaning induces both transient and long-lasting modifications of absorptive, secretory, and barrier properties of piglet intestine. The Journal of Nutrition, v. 134, n. 9, p. 2256-2262, 2004. 
  • DAVILA, A-M. et al. Re-print of “Intestinal luminal nitrogen metabolism: Role of the gut microbiota and consequences for the host”. Pharmacological Research, v. 69, n. 1, p. 114-126, 2013. 
  • DE VOS, M. et al. Artificial rearing of piglets: effects on small intestinal morphology and digestion capacity. Livestock Science, v. 159, p. 165-173, 2014. 
  • Valente JÚNIOR, D. T. et al. Crude protein and lactose effects on performance, intestinal and immune function of piglets fed diets without antimicrobials growth promoters. Livestock Science, p. 104566, 2021. 
  • O'CONNELL, J. M. et al. The interaction between cereal type and lactose level on piglet performance and diet digestibility post weaning. Animal Science, v. 81, n. 2, p. 265-269, 2005. 
  • PIEPER, R. et al. Intestinal lactose and mineral concentration affect the microbial ecophysiology along the gastrointestinal tract of formula-fed neonatal piglets. Journal of Animal Science, v. 94, n. 9, p. 3786-3795, 2016. 
  • SOARES, M. H. et al. Effects of crude protein and lactose levels in diets on growth performance, intestinal morphology, and expression of genes related to intestinal integrity and immune system in weaned piglets. Animal Science Journal, v. 91, n. 1, p. e13429, 2020. 
  • STARKE, I. C. et al. Individual responses of mother sows to a probiotic Enterococcus faecium strain lead to different microbiota composition in their offspring. Beneficial microbes, v. 4, n. 4, p. 345-356, 2013.

Marcos H. Soares – Especialista em Nutrição Suínos da Vaccinar Nutrição Animal

Fonte: Vaccinar Nutrição Animal

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