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Mercado ilegal de destilados já é 40% do total

O valor perdido com o mercado ilegal total de bebidas alcoólicas foi de R$ 10 bilhões


Publicado em: 22/10/2020 às 08:20hs

Mercado ilegal de destilados já é 40% do total

A cana-de-açúcar faz parte da história do Brasil e não é a toa que o país tem o título de maior produtor de cachaça do mundo. Segundo dados do Anuário da Cachaça referentes a 2019, o Brasil tem 1.086 produtores de aguardente e de cachaça cadastrados, sendo que 165 produzem as duas bebidas; 192 produzem apenas aguardente e 729 produzem apenas cachaça. São 4.003 marcas de produtos classificados como cachaça e 701 de aguardente de cana registradas no Ministério da Agricultura. Os maiores produtores são Minas Gerais, com 375 estabelecimentos -, São Paulo (126) e Espírito Santo (62).

A bebida tradicional não está imune à fraude. Um estudo conduzido pela consultoria internacional Euromonitor avaliou o consumo ilícito de bebidas destiladas durante a pandemia. Os números são alarmantes para a cadeia produtiva. Estima-se um crescimento de 10,1% em relação ao ano passado. Isso significa que 40% do total consumido é de bebidas ilícitas.

Em termos de volume são 130,7 milhões de litros em álcool puro de bebidas destiladas ilícitas. Isso equivale a mais de 320 milhões de garrafas de 1 litro de uma bebida destilada com teor alcoólico de 40%, circulando no país somente neste ano. Ou, ainda, equivale a um consumo anual per capita de 820 mililitros, em álcool puro, de bebidas destiladas ilícitas – o mesmo que 2 garrafas de 1 litro de uma bebida destilada com teor alcoólico de 40%.

Segundo a pesquisa, o aumento da desigualdade devido às implicações econômicas da pandemia e lojas de bairro, sites e até apps de entrega serviram como vetores para a compra de bebida ilegal, aponta o estudo. “No Brasil, as bebidas ilícitas são hoje até 70% mais baratas do que as legítimas e não se submetem às regras trabalhistas, sanitárias e ambientais. O mercado ilegal tem impactado duramente o setor da Cachaça, uma das categorias que mais sofre com a produção ilegal”, explica Carlos Lima, diretor executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC).

O Instituto estima que o valor perdido com o mercado ilegal total de bebidas alcoólicas em 2017 foi de R$ 10 bilhões. A pesquisa Álcool ilícito no Brasil, também da Euromonitor, divulgada em dezembro de 2019, com dados referenciais de 2017, já apresentava a dimensão do problema – 14,6% do volume de álcool comercializado no país era ilícito e, nos destilados – sobretaxados - este percentual subia para 28,8%. Com o avanço da bebida ilegal durante a pandemia, o mercado de destilados ilícitos já se descolou e corresponde atualmente a 37,9% do volume de álcool destilado comercializado no Brasil. 

O setor de bebidas destiladas no Brasil é composto pelo segmento da cachaça, que representa mais de 70% do setor, além de produtores e distribuidores de outras bebidas como saquê, gin, vodka, tequila e whisky.