Processamento

Faturamento da indústria de fécula de mandioca cai 20% em 2011

O resultado de 2011 decorre da queda de 4,2% da produção de fécula e da redução de 16,8% dos preços reais


Publicado em: 28/05/2012 às 19:10hs

Faturamento da indústria de fécula de mandioca cai 20% em 2011

O crescimento da economia brasileira estimula a demanda por amidos enquanto matéria-prima industrial. Apesar disso, a fécula de mandioca, que concorre principalmente com o amido de milho, tem perdido espaço, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. O faturamento da indústria, em termos reais, diminuiu 20,4% entre 2010 e 2011, indo para R$ 658,26 milhões, mas ainda foi o segundo maior desde 2004. O resultado de 2011 decorre da queda de 4,2% da produção de fécula e da redução de 16,8% dos preços reais.

Conforme a oitava edição do levantamento anual sobre o desempenho do setor feculeiro realizado pelo Cepea em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam), além a quantidade de mandioca processada pela indústria de fécula em 2011 ter tido a segunda redução consecutiva, a produtividade da matéria-prima também diminuiu. Com isso, o volume de fécula produzido no ano passado se limitou a 519,1 mil toneladas, 4,2% a menos que em 2010, representando o menor volume desde 2004.

Mesmo com a menor produção, os preços da fécula de mandioca caíram. Em 2011, o valor médio a prazo da fécula de mandioca foi de R$ 1.300,13/tonelada, contra R$ 1.563,93/t em 2010 (deflacionados pelo IGP-DI mar/12). Essa desvalorização, explicam pesquisadores do Cepea, está atrelada ao fato de muitos consumidores de fécula terem substituído o produto pelo amido de milho. Além disso, alguns segmentos consumidores também tiveram desempenho inferior à média do PIB, reduzindo as aquisições de fécula. Conforme os pesquisadores, o principal motivo para a perda de competitividade da fécula frente a outros amidos, especialmente de milho, é a volatilidade de seus preços, decorrente do sobe-e-desce da oferta de mandioca para processamento ao longo do ano. As incertezas sobre os preços da fécula acabariam inibindo a demanda de alguns setores consumidores.

O Paraná continuou sendo o principal produtor de fécula de mandioca em 2011 no Brasil, gerando 70,5% do total, participação bem próxima da de 2010. O estado de Mato Grosso do Sul aumentou sua participação para 17,1%, enquanto São Paulo caiu para 10,7%. A participação de Santa Catarina seguiu estável, em 1,3% da produção brasileira. Em 2011, também foram coletados dados da produção de fécula no Pará e na Bahia, que representaram 0,3% e 0,2% do total, respectivamente.

Quanto aos segmentos da economia que mais consomem fécula de mandioca no Brasil, o chamado “atacadista” seguiu como principal em 2011 (27,7% das vendas totais das fecularias), seguido pelo setor de papel e papelão (18,2%), massa, biscoito e panificação (14,8%), frigoríficos (13,1%), varejistas (11,2%), outras fecularias (5,1%), indústria química (2,3%) e têxtil (1,1%), sendo este último o que apresentou maior redução no consumo. Somados, outros setores foram destino de 5,1% das vendas das fecularias. O setor de frigoríficos também reduziu de forma acentuada o consumo de fécula de mandioca. Em 2010, foi destino de 17,3% das vendas das fecularias e, em 2011, de 13,1%. Em contrapartida, houve aumento de quase 200% nas vendas para o setor varejista e ligeira melhora na demanda do setor de massas, biscoito e panificação.

Para este levantamento do Cepea em parceria com a Abam, pesquisadores do Cepea enviaram questionários para as 71 fecularias em atividade no Brasil em 2011, obtendo resposta de 87,3% das unidades até março/2012. Para as empresas que não responderam, os dados sobre produção foram estimados com base em informações de recepção, dias trabalhados e rendimento de amido coletados semanalmente pelo Cepea junto a essas empresas.

Acesse o RELATÓRIO COMPLETO elaborado pelos pesquisadores Lucilio Rogerio Alves e Fábio Isaias Felipe, responsáveis pelas pesquisas do Cepea sobre o mercado mandioca. Além de dados mais detalhados, estão disponíveis gráficos e tabelas sobre o setor.

PERSPECTIVAS PARA 2012


A área cultivada com mandioca aumentou na safra 2011/12, o que tenderia a elevar a oferta em 2012. Porém, em algumas praças, a produção de mandioca já sinaliza diminuição, devido ao clima desfavorável que prejudicou o desenvolvimento das lavouras.

Para a temporada 2012/13, agentes consultados pelo Cepea apontam que a área a ser plantada pode diminuir, devido ao aumento expressivo nos custos de produção em algumas áreas por conta da menor oferta de terra para arrendamento e aumento nos custos da mão-de-obra. A rentabilidade do setor de grãos, em especial, também deve influenciar na decisão de plantio de mandioca.

Quanto à produção de fécula, dados do Cepea apontam que a quantidade produzida no primeiro trimestre deste ano foi 12% inferior à de 2011. Além disso, em maio, a produção segue abaixo do registrado em anos anteriores e, para junho, os agentes do setor apontam para nova queda. Desse modo, agentes colaboradores sinalizam expectativas de que a produção seja ao redor de 535 mil toneladas em 2012, o que representaria ligeiro acréscimo de 3% sobre 2011.

A instabilidade nos preços da fécula de mandioca deve continuar exercendo influência na demanda pelo produto. Entretanto, a maior oferta de crédito na economia poderá aquecer o consumo de fécula de mandioca por parte de alguns setores. Vale observar que, nos primeiros meses de 2012, apesar dos preços menores da fécula, o amido de milho ainda tem sido mais competitivo que a fécula de mandioca em alguns segmentos.

Paralelamente, a indústria de farinha tem aumentado de forma expressiva a demanda por matéria-prima com vistas a atender a demanda do Nordeste. Diante disso, esta indústria já disputa mandioca com as fecularias, podendo elevar os preços da raiz nos próximos períodos.

Outras informações sobre o mercado de mandioca: www.cepea.esalq.usp.br/mandioca