Publicado em: 30/10/2024 às 11:30hs
Os investimentos em novas indústrias e na modernização tecnológica no campo têm impulsionado a produção de leite e seus derivados no Paraná, abrangendo produtos como manteiga, queijo, creme de leite e whey. Com um conjunto de novos empreendimentos que verticalizam a cadeia leiteira e agregam valor aos produtos, o Estado registrou um aumento de 18% no volume de leite industrializado nos últimos cinco anos.
Em 2018, o volume total de leite fornecido para a industrialização era de 3,09 bilhões de litros, cifra que saltou para 3,65 bilhões de litros em 2023. Essa evolução fez do Paraná o segundo maior produtor de leite e derivados industrializados do Brasil, conforme a Pesquisa Trimestral do Leite, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Este crescimento possibilitou ao Paraná ultrapassar o Rio Grande do Sul, que, em 2023, produziu 3,15 bilhões de litros de leite inspecionado, e reduziu em 25% a vantagem de Minas Gerais, que continua liderando a produção nacional, caindo de 2,98 bilhões de litros para 2,22 bilhões de litros anuais. Ronei Volpi, presidente do Conselho Paritário de Produtores e Indústrias de Leite do Estado do Paraná (Conseleite), ressalta que “essa evolução deve-se ao esforço dos produtores, que adotaram tecnologia de ponta e gerenciam suas propriedades com um enfoque empresarial, frequentemente apoiados por cooperativas, refletindo em um produto de qualidade.”
A crescente inserção de tecnologia na cadeia leiteira resultou em aumento de produtividade para os produtores, além de investimentos de grandes indústrias que promovem logísticas mais eficientes e asseguram a comercialização dos produtos. Dentro das propriedades, os produtores têm melhorado a adubação das pastagens, a produção de silagem, os sistemas intensivos e as técnicas reprodutivas dos animais. Um diagnóstico do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) revelou que a produtividade média por vaca ordenhada cresceu de 10,21 litros por dia, conforme o Censo Agropecuário de 2017, para 15,28 litros por dia, segundo levantamento de 2023.
O diagnóstico também destacou que três em cada quatro vacas do rebanho leiteiro paranaense pertencem a raças especializadas, como holandesa, jersey ou cruzas entre elas, fator que contribui para a produção de leite de alta qualidade. Hernani Alves da Silva, gerente estadual de Cadeias Produtivas do IDR-Paraná, observou que “o Paraná possui regiões organizadas, com alta qualidade e densidade de produção, além de altos níveis de produtividade e boa logística. Isso faz com que os produtores sejam altamente disputados pelo mercado, atraindo assim diversas indústrias.”
Desde 2019, os investimentos realizados ou em andamento no setor de leite e derivados no Paraná superam R$ 1,2 bilhão. A Unium, por exemplo, alocou R$ 460 milhões em uma queijaria em Ponta Grossa e está construindo uma nova planta de leite em pó em Castro, com investimento de R$ 450 milhões. O grupo, que reúne as cooperativas Castrolanda, Frísia e Capal, é o segundo maior produtor de laticínios do Brasil.
Outra iniciativa significativa foi a escolha de Ipiranga, nos Campos Gerais, pela Tirol para estabelecer sua primeira unidade fora de Santa Catarina. Com um investimento de R$ 152 milhões, a nova planta opera com uma capacidade diária de produção de 600 mil litros de leite longa vida, com potencial para dobrar essa capacidade. Em São Jorge D’Oeste, a Piracanjuba está construindo uma das maiores fábricas de queijos do Brasil, com um investimento de R$ 80 milhões.
Com esses novos empreendimentos, a produção de diversos derivados do leite no Paraná teve um crescimento expressivo. Dados do Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal (SIGSIF), do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), revelam que a produção de iogurte aumentou 23% entre 2021 e 2023, o soro de leite, utilizado para a produção de whey, cresceu 11%, e as sobremesas lácteas apresentaram um aumento de quase 13%.
O processo de verticalização da cadeia do leite também se reflete no aumento de empregos na indústria. Entre janeiro e agosto deste ano, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram geradas 461 novas vagas nas indústrias de laticínios do Paraná. Esse saldo positivo representa um aumento de 3,49% no estoque de empregos relacionados à indústria paranaense de laticínios, o maior crescimento entre os principais estados produtores de leite do Brasil. Para comparação, Minas Gerais, que lidera a produção nacional, registrou um crescimento de 2,8% no mesmo período. O percentual do Paraná superou também os índices de São Paulo (1,12%), Santa Catarina (0,79%) e Rio Grande do Sul (0,7%).
As contratações recentes evidenciam uma recuperação no mercado. Em agosto, último mês com dados divulgados pelo Caged, o Paraná criou 219 novos postos de trabalho na indústria de derivados do leite, o que corresponde a 24% de todas as contratações feitas no Brasil neste segmento.
Atualmente, a cadeia do leite ocupa a terceira posição em faturamento na agropecuária paranaense, superada apenas pela soja e pelo frango de corte. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), a produção leiteira alcançou R$ 11,3 bilhões em 2023, representando 5,74% de toda a produção agrícola do Estado. Ao longo dos últimos cinco anos, a cadeia do leite ultrapassou a cultura do milho em relevância econômica para o Paraná, refletindo o crescimento nas regiões que se especializaram na produção de leite.
Castro, nos Campos Gerais, exemplifica essa especialização, ampliando sua produção de leite em 55%, atualmente tornando-se a maior produtora nacional com 454 milhões de litros anuais. Para a agricultura local, o leite é responsável por 30% do faturamento agropecuário, resultando em um Valor Bruto da Produção (VBP) de R$ 1,1 bilhão. Em Carambeí, também nos Campos Gerais, o leite responde por quase um terço do VBP municipal, totalizando R$ 692 milhões em 2023, proveniente de uma produção de 269 milhões de litros por ano, o segundo maior volume do país.
Uma parcela significativa desse crescimento se deve ao trabalho das cooperativas que se especializaram na produção de leite. De acordo com o diagnóstico do IDR-Paraná, 54% dos produtores de leite do Estado são membros efetivos de cooperativas, enquanto 28% estão associados a associações de produtores. Hernani Alves da Silva enfatiza a importância das cooperativas: “Elas fornecem assistência técnica aos produtores, orientando as melhores práticas de produção, além de serem fundamentais na comercialização.”
O diagnóstico indica que metade da produção do Estado destina-se às cooperativas. Em relação à assistência técnica, 22% dos produtores relataram ter recebido orientação do próprio IDR-Paraná e 20% foram assistidos com informações pelas cooperativas. Rafael Wollmann, diretor de operações da Cooperativa Witmarsun, destacou as transformações impulsionadas pela tecnologia: “Através da otimização de processos e do aumento da eficiência, conseguimos oferecer aos nossos produtores ferramentas para que possam produzir leite de alta qualidade com menor custo, assegurando uma remuneração mais justa por seu trabalho.”
A cooperativa, que produz leite ensacado e queijos finos na cidade de Palmeira, nos Campos Gerais, já recebeu prêmios nacionais por seus produtos. “Por isso, investimos em parcerias sólidas com nossos produtores, proporcionando assistência técnica, acesso a crédito e garantindo a compra de todo o leite produzido a preços justos e transparentes”, conclui o diretor da cooperativa.
Fonte: Portal do Agronegócio
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