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Variedades de cana: a distância entre o potencial e a realidade das usinas

Os produtores de cana-de-açúcar estão perdendo dinheiro no campo. Essa afirmação é correta ao se verificar que muitas usinas e fornecedores de cana não têm feito a escolha certa e alocação adequada das variedades


Publicado em: 01/10/2012 às 09:30hs

Variedades de cana: a distância entre o potencial e a realidade das usinas

De acordo com Marcos Landell, pesquisador científico do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), as unidades precisam ter estratégias inteligentes para usar as variedades nos ambientes de produção. Para ele, cada vez mais o setor vai ganhar muito mais com os materiais específicos do que ecléticos. “A diversidade ambiental aumentou. Variedade que funciona bem em todo lugar é cada vez menor.”
 
Segundo Mauro Cottas, da Basf, o que se tem visto é a queda gradativa das produtividades de cana com o decorrer do tempo. “Por outro lado, vemos notícias de pesquisas sobre uma ‘super cana’, que obtém uma ‘super produtividade’. Assim como analisando o meio fisiológico vemos que altos potenciais são possíveis. Temos experiências de 470 t/ha e mesmo unidades com altíssimos índices.” Mas esse quadro é diferente da realidade geral do setor. A média histórica de produtividade no Centro-Sul é de 84 t/ha, mas na última safra a média ficou abaixo de 70 t/ha.
 
Marcos Virgílio Casagrande, gerente de desenvolvimento de produtos do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), salienta que o setor está muito distante da produtividade teórica da cana-de-açúcar. Ele lembra que variedade não é o único componente definidor de produtividade. Mas se por um lado a variedade, se mal manejada, pode baixar a produtividade, por outro pode mitigar os impactos negativos sobre a média de produção, como pragas, florescimento, doenças. “As variedades podem contribuir, e muito, para a produtividade.”
 
Estratégias de seleção de variedades

 
É importante que os produtores, independente do volume de cana que se produz, façam a lição de casa. Dib Nunes, consultor e presidente do Grupo IDEA, recomenda que as usinas tenham estratégias de seleção de variedades, façam convênios com instituições de pesquisa e introduzam anualmente bom número de variedades. É importante também conhecer os diferentes ambientes de produção das fazendas da propriedade, montar viveiros de mudas e realizar devidamente os tratos culturais. “A simples troca de variedades ou a boa alocação e manejo podem trazer ganhos de 25% de produtividade”, relata Nunes.
 
Na década passada, quando o setor expandiu muito em direção a áreas no Centro-Oeste, as unidades tiveram o dilema de fundar novos canaviais mesmo sem a devida formação prévia de viveiros. Isso obrigou muito o uso de plantio a partir de cana comercial, e não de muda devidamente cultivada. “Além disso, não tínhamos, em meados da década passada, tantas novas opções de variedades como hoje. E o setor tinha que crescer.” Os materiais antigos e ecléticos foram utilizados. Resultado: muitas variedades não tiveram resposta positiva nas novas áreas, de condições edafoclimáticas distintas.
 
Melhor qualidade de matéria-prima

 
As condições do setor de investir em formação de mudas, em novas variedades e em tratos culturais foram menores nos últimos anos, em que agroindústria canavieira tem enfrentado uma séria crise financeira. A isso se soma uma idade média elevada dos canaviais e problemas climáticos acentuados no período, o que tem ajudado a empurrar a produtividade ladeira abaixo.
 
Segundo Nunes, nesse ano esse quadro começou a mudar, principalmente com o intenso ritmo de reforma de áreas das unidades, “mas ainda não na medida ideal”. “Muitos produtores acreditam que não há diferença entre uma cana tratada e selecionada ou o sistema que se tem adotado. E acredito que essa cultura não vai mudar tão rapidamente.”
 
Se não colocar a variedade no local certo e conhecer bem a variedade e também a matriz de produção é fundamental para que se consiga obter boas produtividades, reproduzindo na área comercial o que se observa na parte experimental.
 
Para o engenheiro agrônomo Luis Cláudio Inácio da Silveira, da Ridesa, da Universidade Federal de Viçosa, o setor sucroenergético não apenas está em crise financeira, mas também enfrenta uma crise de qualidade de matéria-prima. “Hoje, melhorar a qualidade da matéria-prima é o nosso grande desafio.”

Fonte: Universo Agro

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