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Manobra de Abilio provoca reunião de comando da BRF

Alguns acionistas avaliam que o ideal seria que Abilio abdicasse da presidência do conselho do Pão de Açúcar, algo que não estaria nos planos do empresário, que vê outras formas possíveis de isolar eventuais conflitos


Publicado em: 14/01/2013 às 16:00hs

Manobra de Abilio provoca reunião de comando da BRF

A diretoria da companhia de alimentos BRF-Brasil Foods deve se reunir ainda hoje, segunda-feira, antecipando o fim das férias de alguns executivos, para discutir as possíveis mudanças que podem ocorrer no conselho de administração na próxima assembleia geral, em abril. A prioridade, segundo o Valor apurou, é isolar a discussão dos sócios da operação e manter o foco na gestão dos negócios.

Há uma preocupação pelo fato de a articulação do empresário Abilio Diniz, sócio-fundador e principal minoritário do Grupo Pão de Açúcar, ter trazido à tona críticas de alguns acionistas da BRF à atual administração da empresa de alimentos. Abilio vem conversando com acionistas da BRF para assumir a presidência do conselho de administração, cargo atualmente de Nildemar Secches. Ele também vai se tornar um investidor importante, podendo adquirir uma participação pouco abaixo de 5% na companhia, cujo capital é pulverizado na BM&FBovespa.

Além de buscar motivar os gestores, a alta diretoria está preocupada com o eventual conflito de interesses que possa representar para a BRF a participação de Abilio no conselho de ambas as companhias. Isso porque o grupo varejista é o principal distribuidor dos produtos da BRF no mercado interno. Assim, o empresário teria acesso a informações estratégicas relevantes de ambos os lados. Alguns acionistas avaliam que o ideal seria que Abilio abdicasse da presidência do conselho do Pão de Açúcar, algo que não estaria nos planos do empresário, que vê outras formas possíveis de isolar eventuais conflitos.

Conforme informações de pessoas próximas às respectivas administrações, atualmente o Grupo Pão de Açúcar seria responsável por quase 11% das vendas da empresa e a BRF seria o principal fornecedor da varejista, somando 6% das compras.

A gestão deverá avaliar se mesmo possíveis abstenções de Abilio em assuntos que possam representar conflito - algo que ele estaria disposto a aceitar - seriam suficientes para evitar o trânsito de informações importantes entre as empresas. O empresário, apesar de presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, não define mais a estratégia da varejista, totalmente decidida agora pelo sócio francês Casino.

A semana será importante também pelo retorno de Nildemar Secches ao Brasil. O executivo, que está desde 1994 na BRF, primeiro como presidente e desde o fim de 2008 apenas no conselho de administração, deve buscar compreender de forma mais ampla e em detalhes o que está ocorrendo entre os sócios. A expectativa daqueles que são próximos a Nildemar é que ele não ofereça resistência para eventuais mudanças no conselho, se isso for desejo legítimo da maioria dos acionistas. Contudo, deve buscar preservar a gestão executiva.

Na sexta-feira, Abilio vendeu o equivalente a R$ 1,5 bilhão em ações preferenciais do Pão de Açúcar na bolsa, cerca de 11,5% do capital preferencialista ou metade de sua participação nessa espécie de papel.

A expectativa é que ele aplique a maior parte dos recursos na BRF. (Leia mais em: Abilio vende R$ 1,5 bilhão em ações do Pão de Açúcar de olho na Brasil Foods.

O empresário já teria "reservado" uma fatia relevante dos recursos com a compra de opções de ações da companhia de alimentos, para, dessa forma, se proteger da alta que seu próprio movimento pode causar.

A ideia é compor um acordo de voto com a gestora de recursos Tarpon, detentora de uma participação de 8% no capital da BRF. Entretanto, ainda há acionistas relevantes que precisam se "aliar" aos objetivos de mudança na administração, pois juntos esse novo grupo teria apenas pouco menos de 13% do negócio.

Conforme o Valor apurou, a Previ, maior acionista, com cerca de 12% da BRF, também apoiaria a saída de Nildemar e sua substituição por Abilio, que poderia ser um nome forte para a empresa. Entretanto, a costura com as demais fundações ainda não estaria completa. Após a Previ, a Petros tem fatia praticamente equivalente, e há ainda pequenas posições de Vali e Sistel.

No passado recente, antes de se dedicar à negociação com a Tarpon, Abilio teria pensado e iniciado conversas com as fundações para fazer um acordo de voto em que ele teria plenos poderes na companhia de alimentos, mas ficaria amarrado com esses sócios.

Toda essa movimentação de Abilio, apesar de considerada há diversos meses, só foi colocada em prática no fim ano, depois de o empresário perceber que não havia mais espaço para negociação com o sócio Casino, controlador isolado do Pão de Açúcar desde junho - conforme os termos de um acordo selado entre eles em 2005. Antes disso, ele estava focado em buscar sua saída completa do grupo, podendo ficar com o controle da empresa de eletroeletrônicos Via Varejo.

A estratégia é uma drástica mudança nos planos de aposentaria de Abilio. Quando fechou o contrato com o Casino, há pouco mais de sete anos, ele pretendia se aposentar como presidente do conselho de administração do Pão de Açúcar, companhia que ajudou a fundar, ao lado do pai, Valentim dos Santos Diniz. Ele possui direitos especiais na empresa e uma saída garantida para suas ações ordinárias, 20% do capital votante. O sócio francês é obrigado a comprar essa participação, entre 2014 e 2022, caso ele queira vender. Contudo, recentemente, o empresário tem indicado que não pretende sair, pois as condições acordadas não seriam as mais atrativas.

Em breve, ele deve substituir os dois representantes que possui no conselho da varejista, atualmente ocupados pelo filho Pedro Paulo Diniz e pela esposa Geyze Diniz. Não há planos, até o momento, para que se afaste desse colegiado. Procurado, Abilio Diniz não comentou o assunto.

Fonte: Avisite

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