Isto se deu com o lançamento, em Santana do Livramento, do projeto de desenvolvimento da Indicação Geográfica (IG: confira conceito mais adiante) para vinhos finos e espumantes Vinhos da Campanha, a ser executado até 2015. O evento, realizado na Associação Comercial e Industrial local, reuniu líderes de entidades, representantes de vinícolas da região, autoridades, integrantes da equipe do projeto e imprensa.

O presidente da Associação Vinhos da Campanha – entidade que demandou o projeto –, Afrânio Moraes Filho, classifica o lançamento como muito positivo. De acordo com ele, o público “ficou bastante impressionado com a envergadura e complexidade do projeto, um ‘pacote tecnológico’ que contempla desde o campo até a caracterização enológica dos vinhos”.

No lançamento, o líder do projeto de desenvolvimento da Indicação, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho José Eduardo Monteiro, fez uma apresentação resumida dos propósitos do projeto, que demandou dois anos de encaminhamento, desde a elaboração e definição de objetivos e metas até a avaliação e aprovação de parte da instituição de fomento – a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Serão investidos no estudo recursos da ordem de R$ 3,22 milhões – R$ 2,17 mi dos quais oriundos da Finep e R$ 1,05 mi, em aporte não-financeiro, de parte da Associação Vinhos da Campanha. A equipe de trabalho é composta por 41 pesquisadores, 30 colaboradores técnicos/administrativos e bolsistas, de sete instituições de ciência e tecnologia (veja nominata a seguir).

O objetivo do projeto é implantar uma IG, para distinção dos vinhos finos e espumantes da Campanha, e estabelecer bases sustentáveis para o desenvolvimento ordenado da vitivinicultura da região. Isso compreende a implantação de ajustes e inovações nos processos produtivos e organizacionais, envolvendo todos os elos da cadeia produtiva. Zoneamento de clima e solo, para orientar o manejo dos vinhedos atuais e direcionar novos investimentos, identificação das cultivares de videira de alto potencial de qualidade enológica adaptadas à região e definição dos parâmetros de vinificação em escala industrial para obtenção de vinhos de alta qualidade e tipicidade são algumas dos elementos de inovação programados.

O líder do projeto assinala que se pretende, ao final de cada ano, realizar workshops reunindo as várias equipes de trabalho, para apresentação, aos diversos interessados, dos resultados gerados com as pesquisas. A previsão é de dois workshops parciais e um de encerramento, com as recomendações e orientações para o sistema produtivo vitivinícola da Campanha. Também programa-se, informa Monteiro, realizar ‘dias de campo’, no último ano do projeto (2015), para demonstrações práticas em áreas experimentais. “Com esses dias de campo, todos os produtores da região poderão ver o que está sendo realizado nas áreas experimentais, já selecionadas por serem representativas das condições gerais dos vinhedos da região”, anota o pesquisador.

O projeto foi o primeiro assinado no âmbito da Rede de Centros de Inovação em Vitivinicultura (Recivitis), aponta seu coordenador, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho José Fernando da Silva Protas. A Recivitis é um grupo de instituições de ciência e tecnologia, atuantes no setor vitivinícola em todo o país, coordenado pela Embrapa Uva e Vinho. A Rede integra o Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec), que tem como secretaria-executiva a Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e, como agência executora, a Finep. Projetos de desenvolvimento científico e tecnológico são submetidos à Rede, seguindo tramitação até chegar à Finep, que viabiliza, por meio de financiamentos, sua execução. No momento, segundo Protas, há mais três projetos da Recivitis sob avaliação da Finep. A previsão é de que eles, que contemplam demandas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, sejam implementados no primeiro semestre de 2013.

O que é uma Indicação Geográfica

Concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a condição de ‘IG’, em resumo, atesta a qualidade da produção em determinada região. A Indicação Geográfica dá o amparo legal que protege e garante a exclusividade de uso da marca nos vinhos produzidos na área sob a gestão e controle da IG, anota o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho José Eduardo Monteiro. No caso da Campanha, aumento da competitividade setorial, fortalecendo e consolidando o conceito dos vinhos finos e espumantes da região e promovendo o desenvolvimento do enoturismo, é, em síntese, o ganho que se projeta com a conquista da Indicação.

Integrantes do projeto de desenvolvimento

O projeto da IG Vinhos da Campanha será desenvolvido por sete instituições de ciência e tecnologia, com o respaldo de instituições de fomento e entidades setoriais:

 Instituições de ciência e tecnologia executoras  

Embrapa, por meio de suas unidades Uva e Vinho, Clima Temperado e Pecuária Sul, universidades Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), de Caxias do Sul (UCS) e Federal de Santa Catarina (UFSC) e Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri)

 Apoiadores  

Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Fundação de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário Edmundo Gastal (Fapeg) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

 A Associação Vinhos da Campanha  

O projeto de desenvolvimento da IG foi demandado pela Associação Vinhos da Campanha, composta por 17 associados – vinícolas, uma associação de viticultores e um associado setorial. A entidade foi criada em 2010. Seus associados respondem por aproximadamente 15% da produção nacional de vinhos finos, conforme o presidente da associação, Afrânio Moares Filho.