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Indústria de ração pisa no freio

Apesar das estimativas de aumento na produção, a indústria de nutrição animal deve crescer menos do que o esperado em 2012


Publicado em: 06/06/2012 às 11:00hs

Indústria de ração pisa no freio

Neste ano, a previsão do setor é que haja um avanço de 2,8% na fabricação de ração, que deve somar 66,2 milhões de toneladas. No ano passado, o crescimento foi quase o dobro do projetado para 2012.
 
Queda no consumo - Além de enfrentar queda no consumo de carne suínas – provocado por restrições à entrada do produto brasileiro em seus principais mercados e pela valorização do real – os custos de produção das fábricas de ração estão mais altos do que no ano passado. Isso porque soja e milho tiveram valorização de mais de 30% no mercado internacional e também no doméstico. Os dois grãos são a principal matéria-prima da ração animal.
 
Custos - “Entre junho de 2010 e março deste ano os custos de alimentação de suínos subiram 28 pontos percentuais, e para aves subiram 35 pontos”, explica Ariovaldo Zani, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações).
 
Excedente de produção - Mesmo diante da possibilidade de queda nos preços do cereal, a indústria de ração mostra que está longe de absorver o excedente de produção do grão esperado para este ano. Responsáveis por consumir a maior parte da colheita de soja e milho do país, as fábricas de ração devem aumentar em no máximo 1 milhão de toneladas a demandas por cada um desses produtos, conforme cálculo do Sindirações. Em 2011, o setor consumiu 12 milhões de toneladas de soja e 37 milhões de toneladas de milho
 
Composição - Uma alternativa para reduzir os preços das rações seria a alteração de sua composição. Em média, a proporção adotada é de 60% de milho e 20% de farelo de soja, com o complemento de outros insumos. De acordo com Irineu Dantes Peron, gerente de produção animal da Cooperativa Agroindustrial Consolata (Copacol), o milho é adicionado à mistura para ser fonte de energia, enquanto o farelo de soja fornece proteínas. Sendo assim, a mudança geraria um desequilíbrio na nutrição do animal. “E mesmo se fosse possível alterar em grande escala, dificilmente haveria equalização dos preços, pois o aumento do preço soja [que subiu cerca de R$ 10 por saca no último ano] ainda não compensa a redução do valor do milho”, lembra ele.
 
Pecuária - A Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) não acredita que haverá excesso de milho no Brasil, ao contrário do que diz a maioria dos analistas de mercado. Para o presidente da entidade, Alysson Paolinelli, a pecuária vai consumir parte do milho excedente e o restante será enviado ao mercado externo. “O que não for consumido internamente deverá ser exportado, portanto não haverá sobras”, diz o executivo.
 
Exportação - “A infraestrutura estava sendo usada prioritariamente para a exportação de soja, mas há condições de exportar essa oferta adicional de milho sem problemas”, acrescenta Robson Mafioletti, assessor técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
 
Necessidade - Há quem diga, porém, que o Brasil precisa exportar mais de 10 milhões de toneladas de milho. Se esse excedente não for escoado, o preço no Brasil pode se desvalorizar mais do que no mercado internacional. “Tem muita coisa para acontecer e em pouco. Com milho barato, os Estados Unidos devem recuperar sua participação nas exportações”, avalia Steve Cachia, da Cerealpar.
 
Produto contém mais farelo de amendoim - Sem estoque próprio de soja e diante da baixa disponibilidade no mercado, muitas cooperativas têm reduzido a parcela do grão na composição das rações. O desafio ainda é inserir outros ingredientes sem comprometer a nutrição dos animais. De acordo com Jeferson Caus, gerente de Rações da Cooperativa Agrária em Entre Rios, no Centro-Sul do estado, a mudança faz com que a alta nos preços seja menos expressiva. “O preço da ração já aumentou, mas não tanto quanto aumentaria se continuássemos usando apenas a soja”, explica.
 
Aumento - Caus comenta que a cooperativa deve aumentar a produção de ração para este ano, saltando de 165 mil toneladas para 180 mil. Cerca de 70% desse volume é direcionado para a produção bovino leiteira e outros 20% para o gado de corte. A composição do produto mudou e a soja, que representa um quinto da ração, está sendo substituída entre 5% e 10% por outras matérias-primas. “Não se pode substituir totalmente a soja por milho, pois ela é uma fonte proteica. Então estamos usando farelo de algodão e de amendoim”, diz.
 
 Soja  - Encarando o mesmo cenário, a Cooperativa Lar, de Medianeira, Oeste do estado, também diminuiu a proporção de soja, que normalmente corresponde a 30% da ração. Segundo Letícia Lorençon, nutricionista da fábrica da Lar, outras fontes proteicas como farinha animal e enzimas estão sendo utilizadas na formulação. “A produção total deve aumentar de 50 a 100 mil toneladas, podendo chegar a até 500 mil. Desse total, cerca de 65% são destinados à criação de frangos”, comenta.
 
 Potencial  - A Cocamar, de Maringá, pode ser considerada uma exceção nesse cenário. De acordo com Joel Murakami, coordenador técnico de pecuária na cooperativa, como a unidade de ração começou as operações em março do ano passado, há potencial para aumentar em até 70% o total produzido. Com consumo mensal de 500 toneladas de soja e 1.000 toneladas de milho para a produção média de 1900 toneladas de ração, o uso de insumo deve ser maior, mas sem mudança nas proporções de cada ingrediente. “Temos uma boa quantidade de soja em estoque, que poderemos utilizar pelo menos até o fim do ano e sem repassar integralmente os custos aos clientes”, afirma.

Fonte: Gazeta do Povo

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