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Crédito para empresas ainda não flui

Pela disparada dos preços da soja e do milho, empresas do setor de frango estão entre as mais prejudicadas


Publicado em: 06/12/2012 às 18:00hs

Crédito para empresas ainda não flui

O frustrante resultado da economia brasileira no terceiro trimestre transformou uma situação ruim, que se arrasta ao longo do ano, em dramática. Seja por restrição de oferta dos bancos, seja pela fraca demanda das empresas, o crédito bancário corporativo passou 2012 emperrado, com concessões fluindo a conta gotas e inadimplência em alta. Pior, como a situação se manteve nos meses recentes, a conclusão é que o crédito como termômetro da recuperação mostra ainda uma temperatura baixa.

Enquanto as grandes companhias recorrem ao mercado de capitais como fonte de financiamento, a situação é mais tensa nos segmentos de médio e pequeno porte, em que o acesso a outros instrumentos de dívida é limitado e a dependência de empréstimo bancário, maior.

Nos dez primeiros meses de 2012, as concessões acumuladas de financiamento para pessoas jurídicas mostraram queda de 1,1% na comparação com igual período de 2011. Assim como nas carteiras de pessoa física, a inadimplência corporativa tem se mostrado extremamente resistente. Em outubro, os atrasos do segmento estavam em 4,1%, patamar mais alto da série histórica do indicador, e praticamente o mesmo desde novembro do ano passado.

"A boa notícia é que, desde agosto e setembro, pararam de entrar novas empresas na minha 'fila' de problemas", afirma Fernando Freiberger, chefe da área de crédito para empresas do HSBC. "A economia vem rodando mais devagar desde o segundo semestre do ano passado. As empresas com melhor gerenciamento se adaptaram à economia mais lenta, o que significa menos estoque e prazos menores de financiamento", afirma.

"O viés positivo para o crédito ainda não se concretizou", afirma Ricardo Gelbaum, diretor de relações com investidores do Banco Daycoval. "As políticas estão feitas e os incentivos, dados. Todos os fundamentos apontam para uma recuperação do crédito. O que não dá para dizer ainda é se ela vai ser mais forte ou mais fraca."

Segundo o executivo, parte do atraso na recuperação pode decorrer do intervalo que existe entre queda dos juros bancários e o impacto desses cortes na economia. Normalmente, economistas estimam algo entre seis a dez meses para que tal efeito se concretize.

"O que aconteceu é que a inadimplência foi maior do que se previa e o crédito acabou sendo menor do que se esperava", afirma executivo da área de crédito corporativo de um banco que preferiu não ser identificado. Para ele, os primeiros sinais de que o cenário pararia de piorar, que deveriam ter vindo em março e abril, só apareceram na segunda metade do ano. A esperança agora, diz, é 2013.

A consequência foi um filtro mais intenso para empréstimos corporativos no ano. Os dois maiores prejudicados, segundo profissionais ouvidos, foram as empresas do setor de frango, pela disparada dos preços da soja e do milho, e os varejistas, que viram os planos de expansão feitos em 2011 frustrados pela economia fraca.

"O que aconteceu é que os bancos estavam mais restritivos justamente quando os varejistas precisavam de crédito no fim do ano, para formação de estoques. Isso afetou quem estava menos capitalizado", afirma executivo de uma varejista de médio porte do Nordeste do país. Ele reconhece, porém, que a empresa também está bastante reticente na hora de tomar crédito. "Está todo mundo esperando o começo do ano que vem. Enquanto não tiver uma recuperação mais forte da economia, ninguém vai se endividar."

No caso do Bradesco, a carteira de micro, pequenas e médias empresas vai precisar acelerar no fim do ano para atingir a meta imposta pelo banco, de crescimento de 16% a 20%. Até setembro, o saldo da modalidade avançava a uma taxa anualizada de 13,3%.

"Vamos fechar o ano pelo menos na ponta menor da projeção", afirma o diretor de empréstimos e financiamentos do Bradesco, José Rocha Neto. Ele diz que o banco já sente uma recuperação no crédito corporativo, em especial para pequenas e micro empresas. "Nas médias a retomada já está acontecendo, mas em ritmo mais lento", diz, lembrando que, mesmo assim, a modalidade terá desempenho melhor que a média do banco.

No mercado como um todo, o estoque das operações de crédito para pessoas jurídicas, incluindo recursos livres e direcionados, cresceram 9,9% no acumulado de janeiro a outubro. Na mesma base de comparação, em 2011, o ritmo da expansão era de 12,2%. O resfriamento do crédito a empresas afetou em especial as linhas de capital de giro e os repasses do BNDES para bancos, as duas principais linhas tomadas pelas médias e pequenas empresas. No acumulado do ano, o estoque dos empréstimos de capital de giro avançou 13,8%. Já os repasses, 5,4% - em parte por recuo dos próprios bancos na modalidade, graças a mudanças no comissionamento.

"É algo que já aconteceu em 2009. Com o cenário internacional ainda incerto, fecham algumas opções de captações para empresas. Isso as leva de volta ao crédito bancário", afirma Luiz Rabi, economista da Serasa Experian. O birô de crédito elabora um indicador da demanda das empresas por crédito, com base nas consultas à base de cadastro de pessoas jurídicas. O indicador recuou 1,8% em outubro, ante o mês imediatamente anterior, a segunda queda mensal consecutiva.

"As linhas de capital de giro vão crescer no ano que vem, em virtude do crescimento econômico. A incógnita são as linhas de investimentos", afirma Rabi.

Os bancos públicos têm mostrado mais fôlego que os privados também no crédito corporativo. No Banco do Brasil, na comparação anual, as operações com as micro, pequenas e médias empresas avançaram 28% até setembro, diz Fernando Campos, gerente executivo da diretoria comercial do BB. Na ponta oposta, a carteira do Itaú Unibanco no segmento cresceu 1,1% em doze meses. "Ficou mais frequente a busca das empresas médias por instrumentos de crédito mais sofisticados, como operações sindicalizadas ou de mercado de capitais", afirma Campos.

Fonte: Avisite

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