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Cenário adverso para produção de potássio

O Brasil está muito longe de reduzir sua histórica dependência externa de potássio, nutriente vital para a produção de fertilizantes agrícolas


Publicado em: 05/04/2013 às 09:00hs

Cenário adverso para produção de potássio

As importações suprem mais de 90% da demanda doméstica, e há poucas opções de exploração com chances reais de vingar. Só um projeto está em produção em escala comercial, mas a mina que o abastece deverá chegar à exaustão nesta década.

Diante de restrições ambientais e burocracia, não há estimativas precisas sobre o potencial das minas de potássio não exploradas no país, a maior parte em fase de estudos no Amazonas e em Sergipe. Segundo fontes da área de adubos, o projeto que a Vale suspendeu na Argentina em março, cuja produção seria voltada ao Brasil, envolve a única mina com "escala real" da América Latina, com capacidade anual estimada em cerca de 4,5 milhões de toneladas.

Dentre os projetos elencados pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) em 2012 com previsões de investimentos no segmento no país, só a Vale tem apostas no potássio. Já é da mineradora, que não deu entrevista sobre o tema, o único projeto que produz cloreto de potássio (substância extraída para a fabricação de adubos) em operação - o Taquari-Vassouras, em Sergipe, explorado desde 1992. O projeto inclui uma mina subterrânea e uma usina de beneficiamento com capacidade para 655 mil toneladas/ano.

A Vale também toca em Sergipe o projeto Carnalita, com previsão de aportes iniciais da ordem de US$ 1,8 bilhão. Mas os investimentos ainda não foram aprovados pela Vale. No segmento, contudo, a avaliação é que Carnalita, com capacidade anual projetada de 1,2 milhão de toneladas, apenas substituiria Taquari-Vassouras, cuja exaustão da mina está prevista para 2017 ou 2018, de acordo com especialistas.

A demanda brasileira por potássio fertilizante somou 4,3 milhões de toneladas em 2012, segundo a Anda. A produção nacional (325 mil toneladas) atendeu 7,6% do total, e a situação pode piorar. A entidade estima que o consumo chegará a 5,2 milhões de toneladas em 2017 e chegou a traçar um cenário em que a oferta nacional chegaria a 3,3 milhões de toneladas até lá, mas levando em conta Carnalita, com suas indefinições, e Rio-Colorado, o projeto que a Vale suspendeu na Argentina. Contrariado com a decisão da empresa, o governo argentino proibiu temporariamente demissões e desmobilização de investimentos, e o imbróglio segue sem solução.

Paralelamente, dezenas de empresas menores - conhecidas como juniores -, a maior parte estrangeiras, pesquisam a exploração de potássio no Brasil. Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), desde 2008 houve significativo aumento nos requerimentos de alvarás de pesquisa para sais de potássio no país, com outorgas de alvarás que ainda estão em vigor.

Conforme o DNPM, há reservas de sais de potássio em Sergipe e no Amazonas. "Mas não tem reserva definida para essas áreas, está tudo em fase de pesquisa", diz George Eustáquio Silva, superintendente substituto do DNPM de Sergipe. Segundo Luiz Alberto Melo de Oliveira, geólogo do DNPM, os alvarás em vigor ainda não chegaram a uma conclusão sobre o potencial dos sais de potássio na Bacia Amazônica. "Nenhuma empresa está em fase final de pesquisa, e o Amazonas carece de reavaliação da questão ambiental".

Outro ponto de discussão é a viabilidade logística da exploração de potássio na Bacia Amazônica. Marcelo Ribeiro Tunes, diretor de Assuntos Minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), lembra que os depósitos da região foram identificados na década de 1970 - época das descobertas em Sergipe, quando a Petrobras procurava petróleo -, e destaca que "explorar na costa brasileira é mais fácil do que no meio da Amazônia". No caso do processamento da rocha silvinita, é preciso separar o cloreto de potássio do sódio que pode ser jogado no mar. "O impacto ecológico na Amazônia é complicado, o que travou um pouco esse projeto", diz Tunes.

Mas o secretário de Mineração do Amazonas, Daniel Nava, diz que a exploração é viável e que as hidrovias da região podem levar o produto até Centro-Oeste e Sudeste. Segundo ele, a tonelada do potássio produzido no Amazonas custaria US$ 200 menos que a importada.

Os depósitos de sais de potássio na calha do rio Madeira, próximos à foz do rio Amazonas, foram reservas aprovadas desde 1980 para a Petrobras, conforme Nava. A estatal, que não deu entrevista, ofereceu as reservas para licitação em 2006 e 2008, mas nenhuma empresa se interessou ou prosseguiu com estudos.

Porém, segundo Nava, a empresa Potássio do Brasil estuda um depósito do lado contrário das reservas aprovadas para a Petrobras, na margem direita do Rio Madeira, na cidade de Autazes. A expectativa de Nava é conceder o licenciamento ambiental para a companhia em 2014, para que a produção comece até 2018.

Há possibilidade de exploração em Minas Gerais de um outro tipo de rocha, a verdete, que tem teores de cloreto de potássio inferiores a 20%. Nesse caso, é preciso fazer um tratamento térmico específico para a retirada do cloreto. É considerada uma produção limitada e cara, mas que, segundo Tunes, pode ser economicamente viável a depender da distância do mercado consumidor.

A Verde Potash - empresa fundada e controlada por brasileiros, incorporada na Inglaterra e listada na bolsa de Toronto, no Canadá - deve concluir neste ano o estudo de engenharia da reserva de verdete que pesquisa na região de São Gotardo (MG). Segundo Cristiano Veloso, CEO da companhia, a produção esperada na primeira fase, prevista para o fim de 2015, é de 600 mil toneladas de cloreto de potássio por ano. Na segunda fase, o volume poderá crescer para 1,6 milhão de toneladas; na terceira, a 3 milhões.

Conforme Veloso, já foram investidos cerca de US$ 40 milhões, desde 2008 no projeto, e a fase inicial demandará mais US$ 600 milhões. Para o executivo, o segmento poderia ser mais competitivo no país se fosse desonerado, já que carga tributária no país chega a cerca de 40%, ante 17% do produto produzido e exportado pelo Canadá, por exemplo.

Fonte: Canal do Proutor

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