Publicado em: 07/03/2012 às 18:30hs
Na semana passada, técnicos de campo ligados à BRF teriam rondado a região e proposto um acordo "sigiloso" aos criadores, em troca da retirada de ações judiciais movidas contra a concorrente internacional. "Nós estamos aguardando um documento, mas esse documento é sigiloso", afirma um produtor que não quis se identificar.
Ele faz parte dos mais de dois mil criadores de suínos e de aves que ficaram sem receber uma quantia estimada em R$ 30 milhões, relativa ao período de setembro do ano passado em diante, da Doux . "Não estão remunerando. Tem produtor que não recebe há seis meses já", diz o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes.
O representante e seu colega gaúcho, Valdecir Folador, que preside a Associação dos Criadores de Suíno do Rio Grande do Sul (ACSURS), concordam que, por conta da dívida, a Doux vem se aproximando da BRF - ou vice-versa.
"Há um diretor da empresa [BRF] observando as granjas, principalmente as matrizes, e promovendo um acerto entre os produtores", afirma Folador. A BRF estaria "pegando" os animais da concorrente francesa para o abate, segundo Lopes. "A máquina de produção está pronta, e acredito que haja interesse por essa máquina", acrescenta o presidente da ACSURS.
Questionado sobre o caso, o responsável pela área de Suínos da BRF, Edgar Mores, foi enfático: "Não podemos dar qualquer tipo de informação". Outra fonte da companhia, no entanto, revelou que foi preciso "locar plantas" para realizar o envio de ração a Caxias do Sul, onde a BRF não tem - ou não tinha - negócio.
A Doux também mantém o sigilo. Até o fechamento desta edição, não respondeu às perguntas enviadas pela reportagem - a pedido da própria assessoria de imprensa. "A empresa não se manifesta, não se posiciona, não diz quanto deve aos produtores", diz Folador.
O que sabem os representantes dos criadores de suínos é que "as empresas procuraram os produtores na semana passada" com a intenção de reverter os processos judiciais movidos contra a companhia francesa.
Cade - No final do ano passado, a BRF demonstrou interesse em adquirir a Doux e se falou na cifra de R$ 300 milhões. Mas o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) reagiu negativamente, pois a aquisição seria mais um passo em direção ao monopólio do mercado de carnes no Brasil.
Vale lembrar que, para ser concretizada, a BRF se comprometeu (diante do órgão antitruste) a vender um bloco de ativos, suspender as marcas Perdigão e Batavo em alguns produtos e a não adquirir novas marcas. Contudo, o acordo não restringiu a compra ou construção de novas fábricas no País, pois a autoridade teve um entendimento de que o aumento na oferta de produtos ajuda a reduzir os preços no mercado.
A Doux, por sua vez, carrega uma dívida que pode levá-la à falência e sofre pressão dos produtores integrados à sua fábrica. Sediada em Montenegro (RS) e com dez unidades espalhadas pelo País, a multinacional vendeu seus ativos de produção de peru à Marfrig Alimentos, em junho de 2011, por R$ 65 milhões. Tentou quitar todas as dívidas com os criadores de suínos e aves no último trimestre do mesmo ano - o que parece não ter dado certo.
Só suínos - Outra possibilidade para negócio entre as duas empresas seria a aquisição exclusiva, pela BRF, da área de suínos da Doux, que representa 30% de sua atuação no Rio Grande do Sul. A empresa produziu 3,5 milhões de toneladas nesse segmento durante o ano passado.
Desse modo, a aquisição já teria sido acertada há duas semanas, em negociação envolvendo a BRF e a Marfrig. E comunicada pelo diretor-geral da multinacional, Aristides Vogt, em uma reunião no Ministério Público do Rio Grande do Sul. Seria entregue apenas a unidade de Caxias do Sul da companhia.
A ideia seria que a empresa compradora pagasse a dívida dos produtores integrados e normalizasse o fornecimento de ração de aves e suínos. O movimento da BRF, ao enviar dez mil toneladas de ração à região e se comunicar com os produtores locais, caminha exatamente nesse sentido.
Um criador de suínos de Caxias do Sul, para quem a Doux deve alguns meses de produção, manteve-se fiel à agroindústria. Ele afirmou: "Nenhuma imprensa vai saber nada antes do desfecho".
Fonte: DCI - Diário do Comércio & Indústria
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