Publicado em: 30/06/2010 às 11:59hs
Nos últimos cinco anos, o boom do etanol no cenário internacional e a forte posição competitiva do Brasil neste mercado resultaram em uma série de investimentos de grupos estrangeiros no país. O resultado desses investimentos já pode ser observado no ranking de moagem de cana de açúcar da safra 2009/2010. Considerando as últimas aquisições do setor, quatro dos cinco maiores grupos possuem pelo menos 50% de controle estrangeiro. E eles já liderariam o ranking caso a Copersucar não fosse aqui considerada como um único grupo.
Na safra 2005/2006, a situação era bem diferente. As cinco primeiras posições do ranking de moagem de cana eram ocupadas por empresas de controle nacional. A Copersucar já liderava o ranking, seguida por Cosan (ainda sem a joint venture com a Shell), Crystalsev (também considerada como um único grupo), São Martinho e Carlos Lyra.
A tendência ainda é de aumento da participação do capital estrangeiro entre os maiores grupos do setor na medida em que outros novos entrantes começarem a expandir suas operações locais, tais como ADM, British Petroleum e Noble Group. Contribuem para isso a alta fragmentação do setor no País e a estrutura familiar de muitas empresas, que se tornam alvos de aquisição quando enfrentam dificuldades financeiras ou disputas societárias e sucessórias.
A presença de grupos estrangeiros fortes tem diversas implicações. Em primeiro lugar, esses grupos podem fomentar o desenvolvimento do comércio internacional de etanol, pela garantia de fornecimento continuado que podem assegurar e pela estrutura de exportação que possuem. Os grandes contratos internacionais de etanol fechados até o momento têm sempre a presença de um grande grupo fornecedor. Como exemplo, podemos citar os contratos da Copersucar com a JBSL (Japan Biofuels Supply LLP), da Cosan com a Mitsubishi, da São Martinho com a Mitsubishi, da Petrobras com a Mitsui e da Cosan, Guarani, Nova América e Alcoeste com a Sekab BioFuels & Chemicals.
Além disso, com estruturas profissionais e ferramentas de gestão mais modernas do que a maioria das empresas brasileiras, os grupos estrangeiros deverão promover um aumento generalizado de competitividade. As empresas de estrutura familiar precisarão profissionalizar-se e modernizar-se se não quiserem ficar em desvantagem.
Os grandes grupos estrangeiros também representam uma importante ameaça competitiva para as empresas nacionais em relação ao aproveitamento do maior potencial de crescimento do setor, que está no mercado externo. Tanto pela atuação como pela presença global, as empresas estrangeiras têm maior acesso aos mercados internacionais e, portanto, estão mais bem posicionadas para capturar o crescimento do setor fora do Brasil.
Tendo tudo isso em vista, são várias as reflexões para as empresas sucroalcooleiras nacionais. Será que não está na hora de repensar o modelo de negócio predominante no setor? Esse modelo de negócio permitirá capturar o potencial de crescimento do mercado externo? Não seria este o momento para que pequenas empresas formassem grandes grupos? Estas são apenas algumas questões que merecem consideração caso as empresas nacionais desejem manter-se competitivas neste mercado.
Eduardo Hage Chaim,
Consultor da Dextron Management Consulting
Fonte: Dextron Management Consulting
◄ Leia outros artigos