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Agroindústria de produtos da Amazônia


Publicado em: 28/10/2011 às 12:07hs

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É bastante discutido hoje na Amazônia a importância da transformação dos inúmeros produtos tipicamente da região. Assim, a implantação de agroindústria nesta porção do país  poderá representar uma alternativa viável para contribuir no processo de desenvolvimento da região e melhoria de vida do produtor rural.

Todavia, para viabilizar tal segmento torna-se necessário envolver os setores públicos e privados para que juntos possam definir políticas de desenvolvimento e de promoção dos produtos da agroindústria regional junto aos principais mercados, privilegiando os pequenos e microempresários.

A viabilidade do desenvolvimento da agroindústria na Região Amazônica tem se pautado principalmente na diversidade e no grande potencial de oferta de matérias primas regionais. Além deste aspecto, uma outra vantagem, nem sempre considerada, é a relativa proximidade da região aos mercados da América do Norte e Europa. Acrescenta-se também que a agroindustrialização possibilita a oferta de fixar o homem às áreas rurais e áreas urbanas, possibilita a elevação da renda regional, aumenta a oferta de emprego etc. A estes argumentos, o que pode ser chamado de tradicionais, adiciona-se que, devido ao difícil acesso à região, muitos dos produtos perecíveis, como determinadas frutas, hortaliças, algumas oleaginosas, tubérculos, certas matérias-primas para corantes, pescado e algumas plantas medicinais teriam sua exportação "in natura" inviabilizada, seja pelo transporte fluvial e rodoviário precário ou pelo elevado custo do transporte aéreo.

A transformação das matérias-primas em produtos agroindustriais mais estáveis e duráveis, estabeleceria uma maior possibilidade de comercialização em mercados mais distantes, implicando em menores perdas, menor presença do intermediário e, por conseguinte uma comercialização com preços mais compensadores aos seus produtores. Essas exportações tanto para os mercados do sul e sudeste do Brasil ou como queiram, para os mercados internacionais, poderiam proporcionar significativas transferências de renda de regiões mais abastadas para os estados da Amazônia.

Apesar das enormes vantagens supra citadas no processo de transformação dos produtos regionais, concretizar este potencial, porém, requer a superação de importantes barreiras nos diversos níveis, e exige necessariamente uma participação integrada do setor político, das instituições de pesquisa, dos órgãos de fomento e extensão rural  e do próprio setor privado. Algumas barreiras poderiam ser claramente identificadas e algumas delas citadas.

A primeira, refere-se à qualidade dos produtos à serem industrializados. Produtos alimentares e similares devem possuir características de qualidade relacionadas à segurança dos consumidores. A garantia da qualidade requer uma estrutura legal, instituindo a definição de produtos, padrões de qualidade e sanções, uma estrutura institucional de apoio tecnológico e gerencial e a conscientização e mobilização do setor privado para a qualidade.

A segunda barreira, diz respeito ao suprimento regular das matérias-primas, tanto em termo de qualidade quanto em quantidade. Esta talvez, seja uma das barreiras mais importantes a serem superadas. As matérias-primas regionais são pouco conhecidas do ponto de vista genético, agrícola e do seu comportamento pós-colheita. Sendo assim, faz-se necessário a criação de programas de pesquisa e recursos correspondentes, que permitam ampliar esse conhecimento e desenvolver ofertas de produtos com regular quantidade e qualidade  para dar suporte ao crescimento  da atividade a médio e longo prazos.

Dada as dificuldades inerentes à própria região e a enorme deficiência de especialistas em tecnologia agroindustrial, o atendimento de uma demanda pontual teria custos elevados e produziria impactos marginais. Desta forma haveria a necessidade de uma ação ordenada e permanente de todos os atores envolvidos no processo de industrialização.       

Dois outros entraves importantes devem também ser vencidos: um diz respeito aos incentivos para motivar os investimentos privados na produção agroindustrial e outro  para desenvolver mercados para aos produtos da região, que ainda são praticamente desconhecidos. As iniciativas para superar estas barreiras estão na habilidade do trato político, e as soluções devem ser buscadas através de entendimentos entre os governos e o setor privado.

Portanto, pelas questões levantadas, a agroindústria dos produtos amazônicos poderá ser uma alternativa bastante viável, porém, torna-se imprescindível uma ação sistemática e duradoura que se proponha atuar globalmente no atendimento do desenvolvimento agroindustrial de cada estado.

Emanuel Cavalcante - Pesquisador da Embrapa Amapá
E-mail:emanueldsc@gmail.com

Fonte: Embrapa Amapá

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