Nutrição Animal

Aspectos nutricionais para a produção de suínos de baixa emissão de carbono

Ao longo dos anos vem sendo monitorada a emissão de gases efeito estufa (GEE) na atmosfera, e o aumento da emissão desses gases, que em sua maior parte são compostos por carbono, está fortemente relacionado com o aumento do potencial de aquecimento global e as mudanças climáticas.


Publicado em: 15/09/2022 às 08:40hs

Aspectos nutricionais para a produção de suínos de baixa emissão de carbono

O dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O) são os principais GEE. O CH4 e N2O na atmosfera apresentam capacidade 23 a 296 vezes maior de provocar o efeito estufa que o CO2, no entanto, o CO2 pode permanecer por tempo indeterminado na atmosfera, aumentando muito sua concentração, já o CH4 e o N2O apresentam meia vida na atmosfera reduzida ±12,4 anos e ±121 anos, respectivamente.

A queima de combustíveis fósseis é o maior contribuinte dos GEE, principalmente na formação do CO2, respondendo por mais de 60% de todas as emissões mundiais. Entre 1750 a 2017, houve aumento de mais de 70% na concentração de carbono na atmosfera (Tigchelaar et al., 2018). Dentre outras atividades, a produção animal é responsável por cerca de 5,0 % da emissão direta de GEE e considerando toda a cadeia produtiva, a produção animal é responsável por 14,5% de GEE (FAO, 2017).

Assim, a estratégia para mitigar o efeito negativo desses gases na atmosfera é aumentar a fixação dos mesmos, tanto no solo, plantas e oceanos, diminuindo seu impacto no efeito estufa (Naqvi e Sejian, 2011; IPCC, 2013).

A emissão de GEE na produção de suínos na América do Sul é relativamente baixa (FAO, 2017). Mas, diversas estratégias são utilizadas para diminuir ainda mais o impacto da suinocultura na emissão de carbono.

Neste contexto, trabalhar com o conceito de suinocultura de baixa emissão de carbono vem ganhando força e incentivo no Brasil a partir de um plano que visa implementar ações e tecnologias que aumentem a sustentabilidade nos meios de produção da cadeia suinícola.

Na produção de suínos, a maior parte dos GEE são produzidos principalmente na decomposição dos dejetos, sob condições anaeróbicas, assim estratégias que reduzam a concentração de nutrientes no dejeto, ou que realize o tratamento adequado do mesmo são eficientes em aumentar a sustentabilidade do sistema (COSTA, 2009).

Assim, existem duas formas principais de reduzir a emissão de carbono na atividade, a primeira é aumentar a eficiência no uso dos ingredientes e a segunda é realizar o tratamento adequado dos resíduos.

Na alimentação dos suínos, a preocupação do nutricionista em reduzir a emissão de carbono passa por utilizar estratégias para aumentar a digestibilidade dos nutrientes, além de reduzir os excessos de nutrientes fornecidos aos animais.

Nas formulações, deve-se utilizar o conceito de proteína ideal, formulado baseado em aminoácidos digestíveis, a fim de reduzir o excesso de proteína e aminoácidos fornecidos aos animais, o que provoca redução na excreção de nitrogênio no ambiente, além de melhorar a eficiência alimentar dos animais, devido ao menor gasto de energia para metabolizar e excretar o excesso de nitrogênio vindo dos aminoácidos.

Quando se reduz a proteína bruta (PB) de 19,3% para 16,0% para suínos em terminação é possível reduzir aproximadamente 15,0% de CO2 equivalente emitido para o ambiente (Atakora, 2009). Além disso, a redução na concentração de PB está correlacionada positivamente com a redução no volume de dejetos. É estimado que para cada 1,0% de PB reduzida da ração ocorre uma redução de 3,0 a 5,0% na produção de dejetos pelos suínos (Oldenburg, 1996; Kay e Lee, 1996).

Outra estratégia é o uso de enzimas exógenas na nutrição. Enzimas como a fitase promovem a hidrolise do ácido fítico, tornando o fósforo e outros nutrientes que estão complexados ao fitato disponíveis para o animal. Dessa forma, promove redução da excreção de fósforo e outros nutrientes como cálcio e microminerais, e aumentam o aproveitamento destes nutrientes que estariam indisponíveis para o animal, melhorando assim a eficiência alimentar.

Já as carboidrases e as proteases podem ser utilizadas em associação com a fitase objetivando melhorar o aproveitamento dos nutrientes da dieta pelos animais e reduzir a concentração de nutrientes excretados. O uso das enzimas deve ser avaliado de acordo com a fase de produção animal e do tipo de ingrediente utilizado na ração, a fim de avaliar a relação de substrato para atuação das enzimas.

Chen et al. (2020) demonstraram que o uso de carboidrase para suínos em crescimento reduz a emissão de CO2 em aproximadamente 0,5 g/suíno/dia.

Visando reduzir a liberação de GEE as enzimas exógenas têm seu uso justificado devido a maior disponibilidade de nutrientes que elas promovem, reduzindo a contaminação ambiental pela excreção elevada de nutrientes que estariam até então indisponíveis nos dejetos suínos.

A mudança na fonte de minerais utilizados na formulação das dietas também é considerada uma estratégia eficiente do ponto de vista ambiental e também visando aumentar a eficiência de sua utilização pelo animal. A mudança de minerais de fontes inorgânicas como óxidos e sulfatos, para fontes quelatadas, promove maior biodisponibilidade dos minerais o que reduz a inclusão na dieta e consequentemente a excreção nos dejetos. Alguns minerais como o zinco em sua forma de óxido são utilizados em fase de creche com o objetivo de reduzir a incidência de diarreia pós-desmame, diversos estudos demonstram que as fontes quelatadas de zinco não apresentam o mesmo efeito, ou não na mesma intensidade, dificultando a substituição do óxido de zinco quando utilizado nesta função, mas, é possível reduzir os níveis utilizados, já que na maioria das vezes estão acima do necessário para a ação promotora, a redução do óxido de zinco, promove uma redução importante na concentração de zinco presente nos dejetos suínos. Outra estratégia é o uso de ingredientes que também reduzam a incidência de diarreia pós-desmame, mas, que não promovam impacto negativo no ambiente.

Na fase de terminação, além das estratégias mencionadas, o uso da ractopamina, um agonista β-adrenérgico, que atua alterando principalmente o metabolismo muscular e adiposo dos suínos, aumentando a taxa de deposição muscular e reduzindo a deposição lipídica, o que promove aumento da eficiência de utilização dos nutrientes, pode promover também a redução na excreção de nutrientes devido ao melhor aproveitamento pelos animais, deste modo, está molécula contribui para tornar a atividade suinícola mais sustentável.

O uso da ractopamina na terminação faz com que os animais demorem três dias a menos em média para atingirem o peso de abate, reduzindo assim a geração de dejetos e o impacto ambiental que os dias a mais de alojamento do plantel proporcionaria (Woods et al. 2011; Hinson et al., 2012).

Estas são algumas das estratégias que podem ser utilizadas para reduzir o excesso de nutrientes nas dietas, ou aumentar a sua disponibilidade, existem outras que também podem ser utilizadas em associação às mencionadas visando a redução da produção de GEE e, consequentemente, contribuir para uma suinocultura de baixa emissão de carbono.

Práticas relacionadas ao manejo alimentar também tem efeito sobre a excreção de nutrientes pelos animais, como os programas de alimentação multi-fases. À medida que os animais vão crescendo as suas exigências nutricionais em percentual da ração vão reduzindo, assim dietas únicas ou com poucas fases fornecem na maior parte do tempo excesso de nutrientes aos animais, aumentando a excreção destes nos dejetos. Assim, o aumento no número de fases de alimentação permite reduzir os níveis de nutrientes fornecidos ajustando melhor o fornecimento a exigência nutricional dos animais, reduzindo o excesso de nutrientes excretados pelos animais, diminuindo assim o impacto na produção de GEE.

Outro manejo alimentar praticado já nas fases de terminação é a restrição alimentar, utilizada com o intuito de reduzir a deposição de gordura na carcaça e melhorar a conversão alimentar, mas devido ao consumo reduzido de ração a taxa de passagem do alimento pelo trato gastrointestinal também é reduzida, possibilitando maior tempo de atuação enzimática sobre os nutrientes, aumentando a eficiência de digestão e absorção, o que promove redução da excreção diária dos nutrientes, principalmente fósforo, nitrogênio e microminerais.

Pensando ainda nas questões de manejo, deve-se atentar também a forma de castração dos suínos. Animais castrados cirurgicamente, começam a depositar gordura mais cedo que machos inteiros e apresentam menor eficiência alimentar, excretando assim mais nutrientes no ambiente. Para aumentar a eficiência de utilização dos nutrientes e reduzir a emissão de carbono, técnicas de imunocastração são as mais indicadas, pois permite aproveitar a máxima eficiência alimentar e de deposição muscular dos animais por maior período, o que reduz a geração de dejetos e a concentração de nutrientes presentes nos mesmos. Em relação à pegada de carbono, suínos imunocastrados abatidos aos 115 kg promovem uma redução na emissão de carbono equivalente a cerca de 28 kg de CO2/animal. Indicando a superioridade destes animais em relação a castrados cirurgicamente para sistemas que querem reduzir as emissões de carbono.

Estas são as principais estratégias pensando em atenuar a excreção de nutrientes que estão associados aos gases do efeito estufa emitidos pelas atividades na suinocultura. Todavia, além de reduzir os nutrientes excretados, os produtores devem se atentar às estratégias de tratamento que mais se adequem ao tipo de dejeto gerado em suas propriedades a fim de reduzir as emissões de carbono pela suinocultura.

Marcos H Soares - Especialista em Nutrição de Suínos da Vaccinar

Fonte: Press Comunicação Empresarial

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