Nutrição Animal

Suplementação mineral para época das águas: devemos fazer ou não?

Com a aproximação da estação chuvosa, volta ao debate a questão da suplementação mineral dos bovinos na época das águas: deve-se ou não fazer?


Publicado em: 20/12/2021 às 08:25hs

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A suplementação mine-ral para época das águas apresenta divergência por parte dos criadores, onde alguns acham que nessa época, devido à boa disponibilidade de MS (matéria seca) das forra-gens, pastos verdes e cochos na maioria das vezes sem cobertura, são os fatores pri-mordiais para não se utilizar suplementos nessa época. Essas condições levam há um baixo consumo dos suplementos pelos animais e com isso os criadores acreditam não haver necessidade de fornecer suplementos. 

Só que, infelizmente para os defensores dessa versão, é aí que mora o perigo, pois é justamente nessa época que os animais aumentam o seu metabolismo, onde muitas en-zimas (METALOENZIMAS) dependem dos minerais para serem ativadas. 

Devemos lembrar que mesmo nessa época das águas os pastos, que são a base nutri-cional dos animais, não fornecem todos os nutrientes necessários, dentre eles os mi-crominerais (Se, Zn, Cu, Mn, Co e I) e os macrominerais (P, Na, Mg e S), para atender as suas exigências.

Atualmente estamos tendo uma crescente demanda do mercado mundial, por carne bo-vina de qualidade, proveniente de animais criados a pasto, logo as perspectivas para pe-cuária brasileira são imensas. Segundo dados da FAO, órgão da ONU, que acompanha a agricultura e pecuária, apontam que em 2040, 60% da carne comercializada para abastecer o mercado mundial, será brasileira. 

Isso exigirá dos produtores brasileiros profissionalismo e somente com uso de tecnologi-as práticas e economicamente viáveis, esse crescimento sustentável da pecuária brasi-leira será possível. Essas tecnologias são:

  • Nutrição Correta;
  • Controle Sanitário Eficiente;
  • Melhoramento Genético;

Diante disso, devemos adotar medidas para suplementar corretamente os animais nessa época visando atender o aumento desse metabolismo e, consequentemente, tendo me-lhores resultados na produtividade (carne e leite). A pecuária só se torna competitiva se usarmos tecnologias práticas e economicamente viáveis. Lembrando ainda que o uso correto das técnicas de nutrição, manejo e da sanidade, além de aumentar a produtivi-dade em nível animal e de rebanho, contribui significativamente para redução da emis-são de GEE (gases de efeito estufa), uma das principais preocupações quando falamos em sustentabilidade ambiental.

Importância da suplementação mineral

Devemos lembrar que os bovinos, assim como os caprinos e ovinos são ruminantes, possuem pré-estômagos (rúmen, retículo e omaso) e um estômago verdadeiro (aboma-so). O processo digestivo nesses animais se inicia com a ingestão dos alimentos, segui-do de: mastigação, ruminação, fermentação microbiana, digestão ácida e digestão enzi-mática (ver figura 1).

Fig 1. Processo digestivo dos ruminantes

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A microbiota ruminal é composta por fungos, leveduras, bactérias e protozoários, que são responsáveis em transformar as forragens ingeridas em energia, proteínas e vitami-nas que vão nutrir bovino, caprino ou ovino. Por isso é de fundamental importância man-ter esse ambiente ruminal o, mas sadio possível, onde segundo (CARVALHO F.A, BAR-BOSA F.A, MACDOWELL LEE R. 2003) as condições ideais seriam:

  • Temperatura (38 a 41°C).
  • Umidade (85 a 90 %).
  • Ph (oscilação de 5,5 a 7,2, ideal 6,4 a 6,8).
  • Matéria seca de 10 a 18%.
  • Substratos: Nitrogênio, aminoácidos, minerais, carboidratos.
  • Anaerobiose: muito pouco Oxigênio (< 0,6% - fermentação aeróbica) e bem mais dióxido de carbono (> 60 – 70% - fermentação anaeróbica).

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Fig 2. Foto da ação da microbiota ruminal sobre as forragens (Arcuri – 2003)

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O suplemento mineral é o complemento da dieta dos animais (pasto). Mas o pasto não fornece todos os nutrientes necessários (energia, proteína, vitaminas e minerais) para mantença e produção, inclusive nas épocas das águas, já que sofrem variação nutricio-nal durante todo o ano (ver figura 3 abaixo).

Fig 3. Variação do conteúdo de proteína de Brachiaria decumbens, ao longo do ano

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As condições mínimas que microbiota ruminal precisa para ter um bom desenvolvimento é de 10% de PB (proteína bruta), 70% de NDT (energia) e 2% de minerais na MS. Se o nível de PB na MS ficar abaixo dos 7%, compromete todo o processo fermentativo por parte da micribiota ruminal e isso se resume em perda de peso e / ou produtividade (CARVALHO F.A, BARBOSA F.A, MACDOWELL LEE R. 2003).

Por isso, hoje em dia tem se dado muita importância em uma suplementação mineral enriquecida de proteína e energia, pois essa variância nutricional que ocorre acaba le-vando a um desbalanço e consequentemente perda de nutrientes, já que o sistema de produção de energia e proteína da microbiota ruminal é mais rápido do que a capacidade do animal em aproveitá-las.

A suplementação múltipla na época das águas tem sido usada com maior ênfase, após o sucesso do seu uso na época da seca. Nos pastos, durante a época chuvosa, há um aumento das concentrações proteicas das gramíneas e maiores degradações do nitro-gênio no rúmen pela microbiota ruminal (bactérias, fungos, leveduras e protozoários). Com isso, ocorre um desequilíbrio na relação de proteína e energia, que deveria ser mais próxima de um para sete, uma parte de proteína para sete partes de energia. (Guia Prático do Uso da Uréia na Suplementação de Bovinos – ASBRAM, 2011).

O consumo de energia e proteína deve ser balanceado, para aperfeiçoar a fermentação e maximizar a produção de proteína microbiana. Consumo excessivo de proteína, sem quantidade adequada de energia, resulta em perda de Nitrogênio na urina e nas fezes. (CARVALHO F.A, BARBOSA F.A, MACDOWELL LEE R. 2003).

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais, entre os diversos fatores existentes que são responsáveis pela baixa produtividade do rebanho brasileiro, as carências de minerais e de proteína ocupam lugar de destaque. Acredita-se que não exista um fator isolado, com potencial tão elevado, para aumentar os índices de produtividade bovina, criados a pastos, a um custo relativamente baixo, como a suple-mentação mineral e proteínas adequadas.

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Fonte: Folheto da Matsuda.

Existem vários trabalhos que demonstram a importância de se utilizar suplementos mine-rais contendo energia e proteína na sua composição. De acordo com alguns trabalhos de pesquisas que mostram o ganho de peso médio diários de bovinos, na fase de recria, variando de 0,543 a 1,380 kg / cabeça / dia, para consumo de suplemento de 0,2 a 0,5% do peso vivo (ver tabela 1) (CARVALHO F.A, BARBOSA F.A, MACDOWELL LEE R. 2003).,

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Outro fator de fundamental importância para suplementação mineral para época das águas é a questão relacionada aos cochos. Os cochos são os “pratos” dos animais e o que acontece na maioria das vezes é, de não terem os dimensionamentos e posiciona-mentos corretos, o que levam a resultados insatisfatórios. Os cochos devem ter os se-guintes dimensionamentos:

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Em relação ao seu posicionamento, o ideal é em locais de fácil acesso para os animais e responsável pelo abastecimento, próximo das aguadas, com distância máxima permitida em torno de 300m, já que os animais quando vão iniciar seu processo de ruminação, querem “sombra e água fresca”.

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Fonte: Internet

Podemos observar pelos dados expostos acima, que a suplementação mineral para épo-ca das águas é de fundamental importância no processo produtivo dos animais (carne e leite), devendo o produtor ficar atento ao manejo correto das pastagens, cochos e su-plementos de empresas idôneas.

Atualmente aqueles criadores que não começarem a pensar na sua atividade pecuária como uma empresa, desconsiderando as tecnologias práticas existentes e disponíveis, poderá ter sérios problemas em relação ao seu COT (custos operacionais totais) e bene-fícios. 

Referências 

  • ASBRAM – Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais. Guia Prático para a Correta Suplementação Agropecuária: Bovino de Corte. 2 ed. Sorocaba – SP. Contato. 2003.  
  • BARBOSA, Fabiano Alvim, CARVALHO, Fernando Antônio Nunes e MCDOWELL, Lee Russell. Nutrição de Bovinos a Pasto. Belo Horizonte – MG. PapelForm LTDA. 2003. 
  • SUPLEMENTOS MATSUDA. Guia Técnico de Suplementação. São Paulo – SP. 1992. P 20. 

Fernando Pinna - Gestor Comercial Matsuda Bahia, Médico Veterinário - MBA’s em Gestão Empresarial e Comercial pela FGV

Fonte: Taxi Blue

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