Nutrição Animal

Nitrogênio Ureico do Leite (NUL): Como essa ferramenta pode melhorar a eficiência das vacas leiteiras

Independente do sistema, o aumento de produção de leite vem sendo cada vez mais almejado pelos pecuaristas. Além de aumentar o volume de leite comercializado, essa maior eficiência produtiva tem como objetivo tornar a atividade mais rentável, diluindo os custos de produção/animal e aumentando a receita líquida das fazendas


Publicado em: 19/11/2021 às 09:10hs

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É evidente que uma alimentação correta e balanceada, além de um manejo bem feito, é a base para manter os animais mais produtivos e saudáveis. Sendo assim, a estratégia nutricional adotada pelo nutricionista deverá fornecer os nutrientes em quantidade e qualidade que os animais precisam, evitando deficiência ou desperdícios.

O aumento do fornecimento de proteína na dieta aumenta a produção, por fornecer maior aporte de aminoácidos a glândula mamária. No entanto, se fornecermos níveis elevados de proteína na dieta, sem um correto balanceamento com outros nutrientes, possivelmente haverá uma maior liberação de amônia no rúmen, aumentando as concentrações de nitrogênio ureico no leite (NUL), e comprometendo receita menos o custo alimentar (RMCA) da fazenda. Em outras palavras, teremos uma redução na eficiência produtiva e reprodutiva em alguns casos. Portanto, o monitoramento do NUL é uma forma de avaliarmos como está o balanceamento e o aproveitamento da dieta pelas vacas leiteiras. 

O valor de NUL é obtido por meio da coleta de uma amostra de leite e envio para análise em laboratórios especializados. A análise de NUL pode ser feita através da mesma amostra encaminhada ao laboratório para determinação de gordura, proteína e CCS do leite. Pode ser realizada tanto através da amostragem de leite no tanque de expansão, como por meio da amostra individual dos animais.

A literatura indica que os valores de NUL devem estar entre 10 e 14 mg/dL de leite. Vale lembrar que a análise de ureia do leite é uma ferramenta adicional E NÃO ÚNICA para avaliarmos como está o status nutricional dos animais.

Mas como a ureia vai parar no leite? A ureia é um composto que naturalmente está presente no leite de vacas. O que acontece é: durante a degradação ruminal da proteína ocorre a produção de amônia, que é o composto utilizada como combustível para a síntese de proteína microbiana (PMic) pelas bactérias presentes dentro do rúmen. Acontece que, para que esse processo ocorra de maneira eficiente, a disponibilidade de carboidrato (energia) é necessária. Caso contrário, a síntese de proteína microbiana fica comprometida. A proteína microbiana, por sua vez, é uma proteína de excelente qualidade e é utilizada nos processos metabólicos das vacas, como por exemplo mantença e para produção de leite. 

Esses valores de 10 a 14 mg/dL de leite descritos anteriormente como valores padrão ocorrem porque parte dessa amônia produzida no rumem pela degradação da proteína da dieta não é aproveitada para síntese de PMic. A fração não aproveitada acaba caindo na corrente sanguínea e transportada até o fígado do animal, onde será metabolizada pelo ciclo da ureia, que nada mais é que uma sequência de reações bioquímicas, que tem por objetivo transformar essa amônia em ureia. A ureia sintetizada no fígado irá para corrente sanguínea e será excretada pelos rins através da urina e pela glândula mamária. 

Podemos dizer, portanto, que a quantidade de ureia no leite se deve a quantidade de ureia presente no sangue que por sua vez é reflexo de como a proteína da dieta está sendo aproveitada. 

A partir desse raciocínio, podemos ter duas situações: 1) Se fornecermos uma dieta com alta concentração de proteína bruta e proteína degradada no rúmen (PDR), combinada com um desequilíbrio ou deficiência na relação energia: proteína, teremos um aumento na concentração de amônia chegando até o fígado e sendo convertida em ureia. Nessa situação, os valores de NUL estarão acima dos 14 mg/dL de leite. 2) Se fornecermos uma dieta com baixa concentração de proteína, ou rica em carboidratos rapidamente fermentáveis (energia), haverá uma menor liberação de amônia no rúmen, consequentemente menor taxa de síntese de PMic e menos ureia sendo produzida pelo fígado. Nesse caso teremos valores menores que 10 mg/dL de leite.

A literatura tem indicado que valores abaixo de 6 mg/dL de leite são considerados extremamente baixos e comprometem significativamente a produção de leite. Já valores acima de 16 mg/dL indicam um excesso de proteína na dieta e pode estar associados a redução na taxa de fertilidade de vacas leiteiras, combinado a um maior gasto energético para a excreção da ureia do organismo, energia essa que poderia ser utilizada para produção de leite.

Vale lembrar que mais do que fornecer ingredientes na alimentação animal, devemos fornecer os nutrientes de maneira correta. Vacas se alimentam de nutrientes e não de ingredientes. Nesse sentido, a formulação de dietas com base nas exigências em aminoácidos e não somente em proteína bruta tem se mostrados mais eficientes, melhorando os índices produtivos e reprodutivos dos rebanhos leiteiros.

Dra. Eliana Vera Geremia, Assistente Técnica Comercial da Cargill Nutrição Animal

Fonte: Cargill

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